Carlos Loures
De hoje a uma semana, dia 26 de Novembro, celebramos aqui o Dia do Porto. Porquê? Não se cansem a procurar nas efemérides – tal como fizemos para o Dia de Lisboa – porque sim! Além desta justificação tão abrangente, temos outras: porque muitos de nós (colaboradores e visitantes) são portuenses, porque todos amamos o nosso Porto. Mas não precisamos de justificar a razão por que dedicamos uma edição inteira ao Porto. O que digo a seguir deve ser entendido como uma introdução ao tema. Não será novidade para os portuenses, mas talvez o seja para alguns dos que lá não nasceram.
Em Portugal, a primeira sede da Corte foi, como se sabe, Coimbra. Desde a Fundação até 1255, ali esteve instalado o rei. Nesse ano, no reinado de Afonso III, a Corte foi transferida para Lisboa. Mas os reis e os seus familiares, conselheiros e servidores iam deambulando pelo território (Mário Soares com as suas «presidências abertas», não inventou nada) – Santarém, Leiria, Coimbra… Porque, segundo julgo saber, o termo «capital» não existia na Idade Média. Dizia-se a Corte. E a Corte era onde os reis estavam na altura.
Estas reais deambulações, desde o século XIV, não incluíam o Porto, pois uma carta de D. Fernando, datada de 1374, marcaria a história do Porto para os séculos seguintes. Por essa carta régia emitida pelo monarca a rogo dos burgueses da cidade, ficavam os nobres e prelados do reino proibidos de permanecer na cidade do Porto por mais de três dias. O direito de aposentadoria que obrigava os súbditos do reino a ceder a sua casa ao rei, a qualquer nobre ou alto prelado que assim o desejasse, deixou de ser observado no Porto. Um privilégio do burgo que deste modo, evitava a humilhação por que muitos súbditos passavam ao ver suas casas devassadas pelos nobres e suas comitivas, arrogantes, despóticos, e cometendo, por vezes, as arbitrariedades que se adivinham.
Esta medida real, solicitada pela burguesia portuense, vantajosa no curto-prazo, retirou protagonismo à cidade, dela afastando os eventos mais importantes, pois a Corte nunca por ali assentava arraiais. Importância que viria a recuperar, quase quatro séculos depois, no consulado do Marquês de Pombal, com a criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, em 1756, e situando no Porto as infra-estruturas de escoamento do vinho produzido nas encostas do Douro – na época, o mais importante produto nacional de exportação.
O Porto foi o grande fenómeno de explosão urbana do século XIX. Estas medidas tomadas pelo Marquês de Pombal no que se refere ás vinhas do Douro e à utilização obrigatória do porto de Leixões para exportar o vinho duriense, deram à cidade um crescimento como até então nunca ocorrera em Portugal, salvo talvez na Lisboa quinhentista, com o afluxo de gente de toda a Europa. Há dados sobre o crescimento da cidade, nomeadamente do livro de Custódio Cónim - Portugal e a sua população (Publicações Alfa, Lisboa, 1990). Mas seria ocioso estar aqui a debitar números e a exibir gráficos e quadros estatísticos.
Terra que tem dado ao País um poderoso contributo em todos os campos, no plano intelectual são tantas as figuras ilustres nascidas na cidade que não caberia aqui referi-las (sob o risco de se verificar alguma gritante omissão) – digamos que entre Fernão de Magalhães e Manuel de Oliveira, milhares de portuenses intervieram e intervêm activamente na vida artística, política, económica de Portugal.
Porque sim, celebramos as nossas terras – Lisboa em Outubro, o Porto em Novembro… Coimbra será cantada em Dezembro. Seguir-se-ão as grande regiões. E não esqueceremos os países lusófonos de onde provêm as maiores colónias de imigrantes em Portugal, Brasil e Cabo Verde, sobretudo.
Dia 26, desde o primeiro ao último minuto, o Estrolabio estará inteiramente dedicado ao Porto.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
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É uma bela homenagem, com dados históricos bem curiosos e vindo de um alfacinha de gema.
ResponderEliminarPode-se fazer sonetos?
ResponderEliminarDesde que não metam metáforas de sentido futebolístico, por que não? Ah - e para serem sonetos, há aquelas regras sonetísticas: duas quadras. dois tercetos... essas picuinhices.
ResponderEliminaros sonetos podem ter como princesa inspiradora a Carla? a Andreia é do Porto?Tudo respostas fundamentais para a continuação...carago!
ResponderEliminarJá cá se sabia quantos tercetos tem um soneto, como tu também sabias, porque te disse, que não ia conforme as regras, precisei de meter o único poético.
ResponderEliminarNão estava a pensar em futebol, mas em tipas, tipo mar salgado a rimar com carolina qualquer coisa, ou vice-versa. Não pode ser? Tá bem.