Costa Júnior
Editorial Verbo, 1964
O movimento operário português andou sempre intimamente ligado à vida política do Pais – à sua história económica e à sua vida social. É impossível conhecer qualquer destes aspectos do problema nacional ignorando os restantes.
Não existe entre nós, ordenada, com princípio, meio e fim, qualquer história do movimento operário. O que se encontra publicado – quase sempre disperso por jornais e revistas – são relatórios de congressos, actas de reuniões, notícias soltas, pormenores limitados no tempo e no espaço, referidos a um período sempre curto,
ou a uma única fase da questão.
Não há publicado, sobre as lutas operárias portuguesas, um panorama de conjunto que dê ideia, embora aproximada, tanto da sua grandeza como das suas relações com a vida nacional.
Todo esse século agitado de lutas intensas – período que vai de 7 de Maio de 1834 até 28 de Maio de 1926, em que renasceu a tradição portuguesa – está, sob esse aspecto, por historiar.
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Flausino Torres
Prelo, 1974
Uma «História Contemporânea do Povo Português» é difícil de escrever. E por várias razões:
Primeiro, porque o contemporâneo se estende pelos nossos dias, como a própria palavra o indica. Quando uma manhã nos levantamos e olhamos em redor, acontece que, para uma banda, o céu está completamente limpo; mas para o outro há uma neblina que nos tapa a vista. E por vezes quando tentamos penetrar nas nuvens, ou porque subimos a montanha ou porque marchamos para o lado onde elas parecem nascer – quanto mais avançamos menos vemos e mais arriscados a perder-nos; a ponto de não sabermos de onde partimos.
Ora, exactamente o hemisfério e mais encoberto é aquele de onde vêm os acontecimentos, as correntes, as forças que hão-de suceder-se no pequeno mundo português, aqueles que hoje o espezinham.
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História Contemporânea do Povo Português - II
Flausino Torres
Prelo, s. d.
O que se fez alguns anos depois, em 1820, não passou de uma pequena agitação à superfície, tal como estas sementeiras em que o lavrador se limita a esgaravatar a terra, não a deixando com a profundidade devida para que reservas de humidade e de matéria orgânica sejam bastantes para acompanhar o desenvolvimento da planta.
Escrever é agir. Mas só pode agir aquele que conhece o ambiente e que é capaz, dentro dele, de nadar como peixe na água. Podará escrever uma história da Física quem não conheça as leis do pêndulo ou os processos de medir ar a velocidade da luz ou a matemática necessária para compreender alguma coisa das relações entre o espaço, o tempo e a velocidade? E quem pode ser físico senão aquele que trabalhe nos laboratórios e saiba servir-se do cálculo de forma eficiente e prática?
Ora o escritor é como o físico.
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