Augusta Clara de Matos
Toda a gente fala em economia em Portugal. Todo o bicho careto sabe falar de economia neste país. Porque é que praticamente ninguém fala em política? Assumem todos que a economia é a política possível , é por causa da mundialmente assumida crise ou é, por qualquer outro desígnio, que já não interessa falar em política?
Isto só pode ser um desabafo meu que não sei nada de economia, nem é assunto para o qual tenha qualquer apetência. Mas, se todos desabafam – não acredito que todos saibam do que estão a falar quando falam de economia, mesmo quando falam de amor, sabe Deus…- porque não hei-de desabafar também?
Ah, a minha experiência partidária foi tão frutífera que, agora, já me posso dar ao luxo de desabafar.
Ainda há pouco publiquei aqui uma entrevista realizada em 1984 sobre a situação da mulher – e, como também se comemorou agora o 25 de Novembro, vem tudo a propósito - onde se aludiu àquela prática tão corrente nos partidos de “quando um burro zurra o outro, ou seja, a outra baixa as orelhas”. Havia uns burros que sempre se julgavam menos burros mas, afinal, veio a provar-se que éramos todos iguais senão não tínhamos chegado a este estado. Mas foi há tanto tempo que, agora, deve estar tudo diferente.
De modo que já me sinto à vontade para afirmar que o desinteresse da maioria da população pelos temas que fazem a ordem dos dias – o Orçamento Geral do Estado, a Dívida Externa, o FMI…mau grado sejam os infernos donde lhe vêm todos os malefícios, prova que não é de política que nos andam a falar, que não é da “vida da cidade” que andamos a tratar. Porque, se fosse, estávamos entusiasmados como já estivemos noutros tempos quando queríamos construir um país novo, quando chegou quase a ser possível que isso saísse das nossas mãos.
Então o que é falar de política? E se começássemos por aqui?
domingo, 28 de novembro de 2010
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Só se fala de política depois da barriga, pelo menos, meio cheia.E a política, nos nossos dias, passou a ser mandar dinheiro para cima dos problemas.Tens razão, assim não vamos lá.
ResponderEliminarPor certo sem quereres, estás a defender a iliteracia. É tão importante para o discurso político de hoje, a iliteracia económica, como foi para o fascismo o obscurantismo. Como se avaliam as políticas correctas (justas para o colectivo) sem o enquadramento económico? O que é a política? São só as personagens, os grupos, os hinos ou bandeiras, as citações do século XIX, as irritações, e os casos - os casos com certeza são o entretem político por excelência.
ResponderEliminarA política é a vida real e não os casos, o que determina fundamentalmente o tipo de vida são as opções económicas. Como alguém pode falar de política sem entender nada de economia é um mistério para mim. Depois fala-se da má distribuição da riqueza sem entender o que é a riqueza, que não se paga as dividas sem saber o que é a divida, que há desemprego sem perceber como se cria emprego, que não há dinheiro sem entender como se faz o dinheiro, falam falam, tem-se, é preciso, devia ser assado ou cozido, e vai-se esmiuçar, é só contributos para a ignorância. Não colaboro nisso.
No jornal onde escrevo para transmontanos de todas as classes, quando defendo a construção de barragens falo do peso do petróleo nas importações e na balança eergética, se defendo as refinarias refiro a importância dos produtos refinados nas exportações, etc. Como é que se defendem umas ou outras opções? Foi o Louçã que disse, ou a Quercus ou um amigo ou vizinho, ou é só por parecer bem.
Desde que tenho o comité central entre as orelhas e não tenho um colectivo a pensar por mim, tentei aprender alguma coisa que sustente as minhas opiniões.
Defender que a economia é tema para especialistas, tem dado nisto que se vê; toda a gente a ser enganada por não distinguir o que são promessas realizáveis das impossíveis de cumprir. Sem a enorme taxa de iliteracia dos temas económicos os eleitores decidiriam mais esclarecidos, mas isso não interessa à demagogia política de esquerda e da direita. Eu defendo que a economia devia ser ensinada desde o inicio da escolaridade, os seus rudimentos são facilmente entedíveis pelas crianças.
Não, não estou Carlos mas, neste momento, estou demasiado cansada para te responder. Sob esse ponto de vista só podiam governar os economistas.
ResponderEliminarTodos nós percebemos isso após a célebre frase "é a economia, estúpido", Mas a economia não é uma ciência exacta.Há demasiadas varáveis, mas há modelos matemáticos que permitem saber quais são os resultados se fizermos um determinado "imput" em determinada actividade e quais são os "outputs" ao nível da criação de empregos, riqueza, exportações...e por actividade. Nos anos 70 o Engº Cravinho era um dos técnicos que estudavam na Suiça esses modelos para aplicar em Portugal. Lembro-me que ele nos disse que a Suiça trabalhava no modelo já, naquela altura, há 15 anos.Com os computadores esses cálculos são, agora, muito fáceis. Só a política é que explica opções que se mostram desastrosas.
ResponderEliminarA Augusta Clara ironizou sobre uma história por ela vivida. É uma história engraçada e tipifica situações que, de uma forma ou de outra, todos vivemos. Mas hoje o pessoal está de mau humor. Será por termos dado ênfase ao tema da Economia?
ResponderEliminarEstou com e como a Augusta Clara. Nada percebo de economia. Nas penso que não sou burro. Não reduzo, de modo algum, a política à economia. Antes pelo contrário, julgo que a economia é uma espécie de sangue, indispensável a todo o complicado mecanismo regulador de uma sociedade. E já não é pouco. Mas o mundo que se vive entre o sangue e todas as interfaces da vida humana é de uma tal complexidade e de uma tal delicadeza científica, filosófica, política e social, que eu penso que é ridículo reduzir tudo a uma questão económica.
ResponderEliminarClaro que não é só economia mas é muito.As opções que têm sido feitas em Portugal, principalmente na economia, são políticas.
ResponderEliminarCom certeza. E cá estou eu que não queria falar mais nisto. Houve algum regime que não tivesse que tratar dos assuntos económicos? Nem é pergunta que se faça. Mas quem trata dos assuntos estratégicos, das grandes linhas de desenvolvimento de um país (e não dos casos, como tu dizes,Carlos Mesquita)? São os economistas? Esses são técnicos de suporte à governação política como tantos outros. Quem decide as prioridades da distribuição do dinheiro são os políticos,ou deviam de ser. E, na minha opinião, a nós, cidadãos, cumpre-nos mais ser políticos e influenciar os rumos que o país deve tomar. A economia vem por acréscimo. Não temos que ser todos economistas. Seja quem quiser, mas não é obrigatório. Há tantas áreas a tratar.
ResponderEliminarEste com certeza era para o comentário do Adão e não para o teu, Luís. Não misturemos as coisas, já basta que as misturem para nos enganar. Economia é uma coisa e política é outra.
ResponderEliminarTenho estado a trabalhar (problemas económicos) e vou voltar que tenho uma coisa para entregar amanhã cedo.
ResponderEliminarSó uma nota: Nem economia nem política... é economia política desde os clássicos e agora com maior razão. Custa-me perceber a relutância de algumas pessoas com alguma formação marxista em abordar os temas económicos - ou da economia política que é do que se trata. O que se passa hoje, da internacionalização/globalização do capitalismo à imparável inovação tecnológica, foi demonstrado pelo gajo das barbas. A não ser que o marxismo dominante seja o do bigodes (tendência Groucho); as leis são as mesmas, os problemas previstos e as soluções são da Economia Política. De qualquer maneira o gajo das barbas não era padeiro nem escreveu "O Capital" para fazer concorrência ao Pantagruel.
Até amanhã. Abraço.
Se eu adivinhasse que ser mãe solteira ainda era uma ofensa tão grande nos tempos que correm...Vá, até amanhã, um abraço.
ResponderEliminarser mãe solteira não é ofensa nenhuma, digo eu que sou mãe solteira e de... economia :)
ResponderEliminarSe disser "o gajo das barbas", já o posso citar, sem ser acusado de usar cartilhas?
ResponderEliminarO que o Carlos Mesquita diz reitera a citação que utilizei (nesse caso "ipsis verbis", embora em tradução) há uns dias...
Posso, posso?
Paulo Rato
O gajo da barbas foi um grande teórico e contribuiu como poucos para a ciência política, mas na prática revelou-se um fracasso total.Ou não?
ResponderEliminarNão! Caro Luís, um rotundo NÃO!
ResponderEliminarE Marx não contribuiu para a "ciência polítiva" que é uma coisa que não existe.
Marx contribui muito, para a área do conhecimento que é a Economia Política.
Amigo Paulo, eu usei o termo "gajo das barbas" para o relacionar com o "gajo dos bigodes", altar-ego da maioria dos marxistas.
Não assisti a essa da cartilha, não sei a que te referes, mas falar de cartilha é ser contra ou a favor (por exemplo) do TGV por causa do custo/beneficio, do endividamento, ou do investimento (certo ou errado) em grandes obras, e depois confessar que não se percebe nada de economia. Isso é que é cartilha.
Essa não percebo, caro Carlos.
ResponderEliminarUsares como argumento um erro de teclado é que merece um rotundo,NÃO.
ResponderEliminarMas qual erro de teclado? Tu escreveste "política" e não "politiva", pelo menos é o que eu leio e não bebi nada ao jantar!
ResponderEliminarPaulo Rato
Não sei, acho-vos muito agitados.O Karl Marx é um filósofo, pai das modernas ciências sociais juntamente com Max Weber e Émile Dukheim, está para a evolução das sociedades como Darwin está para a evolução das espécies, mas que diabo isto está tudo na internet...
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