sábado, 13 de novembro de 2010

Li Ké Terra - documentário português

Clara Castilho




Organizado pela Apordoc na segunda metade de Outubro, o DOClisboa apresenta todos os anos em antestreia os melhores documentários da última temporada e reúne uma série de programações não competitivas, incluindo a retrospectiva de um autor internacionalmente aclamado.

Este filme faz parte de uma Rede – a Rede DOCTV CPLP, com uma iniciativa de produção de documentários, integrando uma operação de fomento e teledifusão do audiovisual em TVs públicas nos nove países da Rede DOCTV- CPLP. (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e, ainda Macau. A exibição dos filmes permite que a população dos países de língua portuguesa se vejam uns aos outros num circuito de teledifusão especialmente desenhado.

O objectivo é estimular o intercâmbio cultural e económico entre os povos lusófonos e a implementação de políticas públicas de fomento à produção e teledifusão do género documentário.

A série DOCTV-CPLP leva ao público nove documentários inéditos produzidos nos países da CPLP e em Macau (Região Administrativa Especial da República Popular da China), que serão veiculados simultaneamente, a partir deste mês até dezembro de 2010, na grade de programação das TVs que integram a Rede DOCTV CPLP. A iniciativa da produção dos documentários integra uma operação de fomento e teledifusão do audiovisual em TVs públicas nos nove países da Rede DOCTV- CPLP.

Li Ké Terra recebeu Prémio Competição Portuguesa e Prémio Escolas no DOCLisboa 2010.





O documentário conta a história de Miguel Moreira e Ruben Furtado, jovens descendentes de emigrantes cabo-verdianos em Portugal. Eles sonham com o futuro, mas o dia a dia é tomado por contradições. Ambos não se vêem mais como cabo-verdianos. Ao mesmo tempo, têm dificuldades de inserção na sociedade portuguesa.

Li Ké Terra significa qualquer coisa como "esta é a minha terra". É uma frase que os jovens do Casal da Boba, na Amadora, escrevem nas paredes do seu bairro. "Boba Li Ké Terra". Como quem diz: é aqui que me sinto bem. Por motivos vários (entre os quais o descuido dos pais em tratar dos papéis), estes jovens não têm a sua situação regularizada.

Miguel perdeu a mãe aos três anos e o pai foi preso e repatriado; desde sempre morou com a avó e, apesar de não ter documentos portugueses, frequenta a escola, gosta de música e até participa num workshop onde está a aprender como realizar um filme. Bruno tem dez irmãos de pais diferentes, só estudou até ao 6.º ano e, desde então, está sem fazer nada. Miguel tem uma teoria interessante sobre a diferença entre as miúdas a que chama "damas" e as outras a que chama "namoradas". Bruno não acredita em Deus, mas acredita que pode controlar o seu futuro: está disposto a correr de guichet em guichet para conseguir a nacionalidade portuguesa e prefere passar os dias a não fazer nada a tornar-se um criminoso: "O que iria depois dizer aos meus filhos?"

É este dia-a-dia que se mostra em Li Ké Terra, o filme de Filipa Reis, João Miller Guerra e Nuno Baptista. O trio começou por de-senvolver um projecto social no bairro em conjunto com a Fundação Gulbenkian . Foi assim que conheceram Miguel e Ruben. Produzido pela Vende-se Filmes, o documentário foi financiado pela CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa e tem, por isso, uma versão mais reduzida (52 minutos) para passar em televisão e uma versão maior (66 minutos) que irá andar por aí em festivais. No DocLisboa, além da competição portuguesa, Li Ké Terra venceu também o prémio Escolas.

Os autores pretendem passar o filme em escolas e dizem que não quiseram retratar aqueles jovens nem como uns coitadinhos, nem como heróis.




Li Ké Terra - Teaser from Vende-se Filmes on Vimeo.



Ficha Técnica do filme de estreia Li Ké Terra:

Duração: 52 minutos

Autor e Diretor: Filipa Reis

Coprodução: Filipa Reis
Pedro & Branco
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP

1 comentário:

  1. Textos muito interessantes os da Clara. Fazem-se coisas, para além da mediocridade reinante,que devolvem a esperança.

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