quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Noctívagos, insones & afins: Criança - uma obra em aberto

Clara Castilho


HISTÓRIAS CONTADAS POR CRIANÇAS – O QUE ELAS NOS QUEREM DIZER - II



Para as crianças vítimas de contextos familiares traumatizantes é, por vezes, muito doloroso pensar, imaginar, aprender. Acontece, muito frequentemente, estarem em estados que quase não sabem quem são, onde nasceram, onde estão, etc. E é esta confusão interior que não lhes permite a abertura para o saber. Se não têm organizada a ideia de si próprias, do seu espaço infantil, da diferença entre eles e os outros, da diferença de sexos e gerações, então não podem pensar. Só a partir do momento em que consigam “pensar-se” como um ser autónomo, é que poderão investir os saberes escolares.

Através das actividades para que são impulsionadas e que fazem apelo à imaginação nós podemos ser como são invadidas por determinados tipos de conflitos que, nem sempre, se podem enfrentar sem o apoio de educadores e de um ambiente que dê segurança - segurança que permita o clima favorável ao conhecimento.


É que sem sentimentos de segurança, estas crianças têm dificuldade em defenderem-se do inesperado, das intrusões indesejáveis. Têm dificuldade em protegerem-se dos seus próprios impulsos e dos efeitos que eles nela podem produzir.

A construção da “história” da criança surge, em muitos casos, como necessidade de uma procura de identidade e de “reconstrução” de uma ideia de história de vida organizada e, em muitos casos, possível de suportar. A carga emocional, subjacente a vivências, por vezes traumáticas, é, de certa forma, aliviada, ao permitir-se a sua abordagem numa relação e num espaço contentor e securizante. Se tal acontecer de forma planeada, a criança, mais tranquila e organizada, poderá, então, mais facilmente, aderir a saberes que a escola exige.

No caso de crianças objectivamente vítimas de abandono, elas procuram explicar a si próprias a razão das várias perdas por que já passaram e enfrentar este duplo traumatismo. Podem desprezar os pais que os abandonaram e que eles amaram, continuando a sentir a falta do seu amor, até porque ninguém os veio substituir nessa função. Podem ultrapassar o ódio e raiva de não terem sido suficientemente amadas.

E poderá ser através das histórias, elas podem transformar o pensamento em palavras, sem entrave, porque instrumento intermediário de comunicação com outrem, dirigidas a um adulto que as acolhe, as ouve, lhes dá segurança. Com estas intervenções restaura-se o narcisismo ferido, representa-se o irrepresentável de um vazio interior. Pode, então, “sentir”, mesmo com tristeza e medo, criando-se a disponibilidade para descobrir, para aprender coisas novas, sobre ela própria e sobre o mundo, agora sem a angustia invasora. Dando vigor e confiança ao Eu , dá-se o desejo de investir a vida, pode-se encontrar a esperança de ser feliz.

A FLORESTA ASSUSTADA


Era uma vez uma floresta muito escura, porque o sol não conseguiu entrar…

Um dia um menino estava a passear com os pais num jardim. Os pais deixaram o menino no jardim. O menino correu, correu à procura dos pais, e não encontrou.

Depois foi parar a uma floresta. A floresta era grande e muito escura. O menino ficou com medo e ficou a chorar… estava muito assustado… Havia um lobo na floresta que logo viu o menino.

O sol viu o lobo e ficou assustado, o sol queria ajudar o menino, mas não conseguiu entrar na floresta… O sol conseguiu dar luz ao menino.

O menino viu a cabeça do lobo atrás de uma árvore. O menino começou a fugir do lobo. Mas o lobo era mais forte e apanhou o menino. O lobo comeu o menino. O sol pensou que conseguia ajudar o menino.

( Interrogado, explicou que a culpa era do pai e da mãe porque tinham abandonado o menino no jardim).

M.A. – 8 anos

ALDEIA FELIZ

Era uma vez numa aldeia muito longe de Lisboa, lá para o Norte.

Era uma aldeia muito feliz. As pessoas eram amigas.

Chegou o Natal e todos fizeram uma grande festa. O Pai Natal deu presentes a todos.

Mas havia uma casa onde viviam dois meninos que eram irmãos e o Pai Natal não viu a casa deles. Era muito pobres !...

Mas apareceu uma velhinha que teve pena deles e deu-lhes as prendas que o Pai Natal lhe tinha dado...

E a velhinha ficou a tomar conta deles como se fosse a “mãe”. Depois apareceu um anjo e disse:

- Fizeste bem, velhinha !

E aqueles meninos ficaram contentes porque tinham uma mãe.


F.- 11 anos

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