quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Quatre Barres . direcció de Josep Anton Vidal

_____________________


Fèlix Cucurull foi uma daquelas vozes incómodas que, ao longo de todo o consulado franquista, nunca deixou de defender a cultura catalã  e de a tentar proteger da agressiva aculturação a que a ditadura submeteu as nacionalidades integradas no espaço geográfico do estado espanhol.

Os seus livros, muitos deles publicados em Portugal, foram sempre escritos em catalão. Em todo o caso, Cucurull nunca se eximiu de falar castelhano sempre que isso facilitava o contacto e  a aproximação, porque a sua luta não era contra a cultura castelhana - era contra a repressão exercida pelo governo fascista de Franco. E a partir dos anos 60, vindo com frequência a Portugal, mercê de uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, aprendeu português. Falava e escrevia na nossa língua e era, sobretudo, um excelente tradutor de português para catalão. A ele se deve a divulgação na Catalunha de grandes escritores portugueses.

Em 1975 foi lançado em Portugal o seu ensaio Dois Povos Ibéricos (Portugal e Catalunha), que em 1966 fora vencedor do prestigiado e prestigioso Prémio Josep Yxart. Da edição portuguesa (Assírio & Alvim, Cadernos Peninsulares, Lisboa, 1975) seleccionámos este texto complementar do ensaio. A tradução, revista pelo autor, foi de Carlos Loures. As notas finais são de Josep Anton Vidal.

«Os Lusíadas» em Catalão
Fèlix Cucurull
Toda a gente sabe como é arriscada a tentativa de traduzir poesia. Trata-se de um dos empreendimentos literários em que mais difícil se torna obter resultados satisfatórios. Por isso, tantas vezes se tem erguido a voz da prudência pedindo que os poetas apenas sejam traduzidos em prosa. Desta maneira, a traição fica atenuada pela renúncia expressa à fidelidade, Reduzir o verso a prosa é quase o mesmo que reproduzir uma pintura a preto e branco. Porém, os que têm razão talvez sejam os mais cautos, os mais escrupulosos; aqueles que afirmam que não se deveria sequer tentar traduzir a poesia. Mas, na impossibilidade de aprender todas as línguas, é preciso escolher entre a limitação dos nossos conhecimentos poéticos e o perigo de que nos seja dado gato por lebre. E, habituados a que nos dêem gato, é caso para se ficar deslumbrado quando, excepcionalmente, se encontra uma tradução à altura do texto original.
Na versão catalã de Os Lusíadas (Editorial Alpha, Barcelona, 1964), Guillem Colom e Miquel Dolç obtiveram uma perfeita equivalência entre os versos portugueses e os que eles criaram. E digo criaram, porque esta tradução é tão perfeita que não temo afirmar que Os Lusíadas foram, de certo modo, criados novamente.
Logo no início do Canto Primeiro nos surpreende encontrar na versão de Dolç e Colom o mesmo sentido e a mesma cadência do texto português. Tenhamos  em conta que, por outro lado, não recorreram à facilidade do verso livre. Os versos da tradução catalã são rimados, de acordo com os portugueses:
As armas e os Barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana (…)

em catalão ficou:

Les armes i els barons mês distingits
que, de l’extrema riba lusitana,
per uns mars de ningú mai no fendits,
passaren més enllà de Taprobana (...)
Os Lusíadas existem de novo. Agora noutra língua. Existem novamente, penso eu, tal como se Camões os teria escrito se se tivesse valido da língua catalã.
Vejamos, por exemplo, como fica resolvida poeticamente a estrofe em que se encontra o verso, tantas vezes citado, da «austera, apagada e vil tristeza»:
No cantis, Musa, més, que destrempada
tinc ja la lira amb enronquit accent,
i no del cant, sinó veient que errada,
canta una sorda i endurida gent.
El favor del qual més l’enginy s’agrada,
no el dóna, no, la pàtria, adherent
al gust d’ambició i a la rudesa
d’una austera, apagada i vil tristesa.

Foi Miquel Dolç quem redigiu o prefácio e as 1248 notas incluídas neste volume de Els lusíades. E, de facto, foi Miquel Dolç quem sustentou o principal peso na tradução. Tradução que já prevíamos excelente, dado o facto de os dois escritores que a realizaram serem notáveis poetas, ambos bem treinados no delicado labor de traduzir. É preciso lembrar que Guillem Colom (1) traduziu Mistral para Catalão. E que Miquel Dolç, catedrático de latim na Universidade de Valença (2), é um destacado humanista, autor das impecáveis versões catalãs de Marcial, Ovídio, Pérsio Flaco, Virgílio, Tácito, Estácio, Tertuliano, etc., publicadas pela Fundação Bernat Metge. Mas, se Miquel Dolç foi sempre um tradutor prestigioso, temos de confessar que o que conseguiu agora com Guillem Colom, em Els lusíades, ultrapassa o que se possa imaginar como possível na arriscada e muitas vezes desafortunada missão de traduzir poesia.


(1) Guillem Colom i Ferrà (1890-1979). Poeta i dramaturg mallorquí. Fou autor de reculls poètics, d'un extens poema èpic, “El comte Mal” (1950), i d'obres dramàtiques. A més de Camões i Mistral, va traduir Èsquil i Horaci, entre d'altres). Les seves memòries, amb el títol  Entre el caliu i la cendra (1890-1965), es van publicar l'any 1972.
(2) Miquel Dolç i Dolç (1912-1994). Intel·lectual mallorquí. Fou catedràtic de filologia llatina  Sevilla i València entre 1955 i 1968. Des del 1968 fou degà de la Universidad Autónoma de Madrid. Va publicar poesia i assaig, especialment estudis històrics i literaris. Va traduir al català  l'Eneida de Virgili i obres de Marcial, Tàcit, Tertul·lià i Ovidi, entre d'altres. Fou membre de l'Institut d'Estudis Catalans (1961) i de l'Acadèmia de Bones Lletres de Barcelona (1970).
Os clássicos, em tempos de crise


Josep A. Vidal


Nos momentos em que tudo se parece conjugar para levar o desânimo ao coração dos catalães, surgem iniciativas admiráveis que levantam o moral até mesmo dos mais propensos ao fatalismo. Somos um povo impulsivo, arrebatado. O Partido Popular e outras forças espanholistas remetem para os tribunais as leis que protegem o Catalão e que estimulam o seu uso e cria todo o tipo de obstáculos para evitar que este país possa viver em liberdade; nós, entretanto, sem deixarmos de proferir as inevitáveis lamentações que o caso requer, pomos em marcha uma iniciativa editorial que não encontra paralelo no âmbito cultural do nosso meio.


Não parecerá ao leitor um facto extraordinário que na Catalunha se tenha posto à venda nos quiosques, em edições fac-similares, uma selecção de cinquenta títulos de autores gregos e latinos, com o texto original e a tradução catalã, escolhidos entre os mais de 360 que constituem a colecção clássica da Fundação Bernat Metge? Porém, mais extraordinário ainda, é que a operação tenha sido considerada um êxito. De acordo com fontes da própria Fundação, houve 3000 compradores do primeiro número da colecção. Da “Odisseia”, de Homero, venderam-se 15 000 exemplares!


Esta experiência encorajou novas iniciativas editoriais e fez que num momento de crise e de incerteza no sector editorial – que coincide com um momento crítico da nossa história, surjam iniciativas para relançar a edição dos clássicos literários de todos os tempos. Por um lado, a Editorial Alpha, ligada, tal como a Fundação Bernat Metge, ao Institut Cambó, iniciou este mês de Novembro a colecção "Clássicos de todos os tempos", e fê-lo com “Os Lusíadas (Els lusíades) de Camões, obra cimeira da literatura europeia, numa tradução catalã de uma requintada qualidade: a que Miquel Dolç e Guillem Colom levaram a cabo em 1964, provavelmente a melhor que alguma vez se realizou da obra de Camões. A fidelidade ao original, quer na forma, quer no conteúdo, não perde nem uma gota da inspiração, da elevação poética, da intensidade lírica e épica, bem como na capacidade de comunicar e emocionar, contidas no original.


A qualidade e a excelência não se improvisam nem surgem do nada; são o resultado de uma longa e sólida trajectória intelectual que credibiliza os autores da tradução, membros activos de uma extraordinária geração humanista que, apesar de ter sofrido o trauma da guerra e a derrota do país, foi capaz de realizar uma obra de uma grande solidez antes de 1936, foi capaz de dinamizar as comunidades catalãs no exílio depois de 1939, encorajou e liderou a recuperação nos territórios catalães no pós-guerra e colocou as bases sobre as quais hoje podemos construir a nossa cultura, aguantar a nossa língua e a nossa literatura firmemente apesar de todos os esforços dissolventes, todas as políticas de ataque e de destruição.


A Editorial Alpha propõe-se editar anualmente quatro títulos, e, conhecendo a extraordinária qualidade do seu catálogo e a excelência das traduções, este projecto desperta grandes expectativas.


Além disso, a Editorial Barcino, chancela editorial da Fundació Lluís Carulla, anunciou a reedição dos clássicos catalães, Ausiàs March, Ramon Muntaner, Bernat Metge, Jordi de Sant Jordi ... E põe em marcha a plataforma "Amigos dos clássicos" para interagir com los leitores e estimular a aproximação da juventude aos clássicos de la literatura escrita em catalão.


Mariano Rajoy, o líder estatal do Partido Popular, teve o desembaraço – e a falta de cultura para tal necessária – de dizer que o uso do Catalão pelo papa na sua visita pastoral a Barcelona para a consagração da Sagrada Família (de Gaudí) foi a melhor coisa que aconteceu ao Catalão em mil anos ... Este senhor – ao qual não vou censurar a sua exibição de ignorância sempre que fala da Catalunha e do Catalão, porque também sou ignorante de muitas coisas e não devo escarnecer da ignorância seja de quem for –, não sabe, provavelmente, que nos arquivos vaticanos dos pontificados de Calisto III e de Alexandre VI, os papas da família Bórgia, abundam os documentos em Catalão, e que os papas Bórgia se exprimiam então nesta língua que, como valencianos, era a sua, empregando-a no seu meio pessoal e alternando-a com o italiano e, muito raramente, e em circunstâncias muito particulares, com o castelhano.


Porém nem esse uso do Catalão pelos papas da segunda metade do século XV, nem o uso que o papa actual dele fez são, nem de longe, nem de perto, o melhor que aconteceu ao Catalão, seja em mil anos ou sequer no último ano. O melhor que aconteceu e acontece com a nossa língua é contar com uma plêiade extraordinária de autores desde o século XIII e com um grande número de intelectuais, humanistas e linguistas de um extraordinário nível, que fizeram, a partir da falta de recursos de um país sem Estado e dividido, uma obra comparável ás melhores de outras culturas do espaço europeu. Figuras como Miquel Dolç, ou Guillem Colom que assina juntamente com Dolç a tradução da obra de Camões, ou como Carles Riba, para apenas referir três nomes clássicos relacionados com as iniciativas que comentámos, constituem um luxo e um privilégio para qualquer país, e especialmente para um país nas circunstâncias do nosso. E é isso que, inclusivamente nos momentos difíceis, nos permite dar os sinais de vitalidade como estes de que aqui nos ocupámos.


Els clàssics, en temps de crisi


En els moments en què tot sembla conjurar-se per dur el desànim al cor dels catalans, sorgeixen iniciatives admirables, que aixequen la moral fins dels més propensos al fatalisme. Som un poble rampellut, arrauxat. El Partido Popular i altres forces espanyolistes porten als tribunals les lleis que protegeixen el català i n'estimulen l'ús i posen pals a les rodes per evitar que aquest país pugui viure en llibertat, i, alhora que proferim les inevitables lamentacions que fan al cas, posem en marxa una iniciativa editorial que no té parió en els àmbits culturals del nostre entorn.


No li sembla al lector un fet extraordinari que a Catalunya s'hagi posat a la venda en quioscos, en edicions facsímil, una selecció de cinquanta títols d'autors grecs i llatins, amb el text original i la traducció catalana, triats entre els més de 360 que formen la col•lecció clàssica de la Fundació Bernat Metge? Però, el més extraordinari és que l'operació es pugui considerar un èxit! Segons fons de la mateixa Fndació, prop de 3000 compradors; del primer número de la col•lecció, L'Odissea d'Homer, se'n van vendre 15000 exemplars!


Aquella experiència ha encoratjat noves iniciatives editorials i ha fet que, en un moment de crisi i incertesa del sector editorial –que coincideix amb un moment crític en la nostra història–, sorgeixin iniciatives editorials per rellançar l'edició del clàssics literaris de tots els temps. D'una banda, l'Editorial Alpha, vinculada, com la Fundació Bernat Metge, a l'Institut Cambó, ha iniciat aquest mes de novembre la col•lecció "Clàssics de tots els temps", i ho ha fet amb Els lusíades de Camões, obra cabdal de la literatura europea, en una traducció catalana d'una qualitat exquisida: la que en van fer Miquel Dolç i Guillem Colom l'any 1964, probablement la millor que mai s'ha fet de l'obra de Camões. La fidelitat a l'original, tant en la forma com en el contingut, no resta ni una engruna d'inspiració, d'alçada poètica, d'intensitat lírica i èpica i de capacitat de comunicar i d'emocionar de l'original.


La qualitat i l'excel•lència no s'improvisen ni sorgeixen del no res; són el resultat d'una llarga i sòlida trajectòria intel•lectual que acredita els autors de la traducció, que formaren part d'una generació humanista extraordinària, que, malgrat que va haver de patir el trauma de la guerra i la desfeta del país, va ser capaç de fer una obra d'una gran solidesa abans del 1936, va ser capaç de dinamitzar les comunitats catalanes a l'exili després del 1939, va encoratjar i liderar la represa als territoris catalans en la postguerra i va posar les bases damunt les quals avui podem construir la nostra cultura i aguantar la nostra llengua i la nostra literatura fermament malgrat totes les voluntats disgregadores i les polítiques d'atac i destrucció.


L'Editorial Alpha es proposa editar quatre títols cada any, i coneixent l'extraordinària qualitat del seu catàleg i l'excel•lència de les traduccions, aquest projecte desperta grans expectatives.


Alhora, l'Editorial Barcino, segell editorial de la Fundació Lluís Carulla, ha anunciat la reedició dels clàssics catalans, Ausiàs March, Ramon Muntaner, Bernat Metge, Jordi de Sant Jordi... I posa en marxa la plataforma "Amics dels clàssics" per interactuar amb els lectors i estimular l'apropament del jovent als clàssics de la literatura escrita en català.


Mariano Rajoy, el líder estatal del Partido Popular, va tenir l'acudit –i la manca de cultura necessària– per dir que l'ús del català pel papa en la seva visita pastoral a Barcelona per a la consagració de la Sagrada Família era el millor que li havia passat al català en mil anys... Aquest senyor –al qual no li retreuré la seva exhibició d'ignorància cada vegada que parla de Catalunya i del català, perquè jo sóc ignorant també de moltes coses i no puc fer escarni de la ignorància de ningú– no sap, probablement, que als arxius vaticans dels pontificats de Calixt III i d'Alexandre VI, els papes Borja, hi abunden els documents en català, i que els papes Borja s'expressaven aleshores en aquesta llengua, que, com a valencians, era la seva, i l'empraven en el seu entorn personal tot alternant-la amb l'italià i, molt rarament i en situacions molt condicionades, el castellà.


Però ni aquell ús del català pels papes de la segona meitat del XV ni l'ús que n'ha fet el papa actual són, ni de bon tros, el millor que li ha passat al català ni en mil anys, ni el darrer any. El millor que li ha passat i li passa a la nostra llengua és comptar amb una plèiade extraordinària d'autors d'ençà del segle XIII i un munt d'intel•lectuals, humanistes i lingüistes d'un nivell extraordinari, que han fet, des de la migradesa dels recursos d'un país sense Estat i dividit, una obra comparable a les millors d'altres cultures de l'àmbit europeu. Figures com Miquel Dolç, o Guillem Colom que signa amb Dolç la traducció de l'obra de Camões, o com Carles Riba, per esmentar només tres noms clàssics vinculats a les iniciatives que comentem, són un luxe i un privilegi per a qualsevol país, i especialment per a un país en les circumstàncies del nostre. I és això el que, fins i tot en els moments difícils, ens permet mostres de vitalitat com les que hem comentat.



Aquest espai està dedidat a tots els amics d'Estrolabio i, de manera molt especial, als qui segueixen el nostre bloc des de les terres de parla catalana. Aquí parlarem de cultura lusòfona i de cultura catalana, i de les qüestions i els problemes que ens afecte als uns i als altres.

2 comentários:

  1. É um excelente trabalho de serviço público, dar a conhecer a pujança da cultura e da lingua Catalã, desconhecidos da maioria de nós.

    ResponderEliminar
  2. Eu aprecio sempre muito os escritos do Josep Anton Vidal e não vou perder um dos seus textos sobre a Catalunha que estou interessada em conhecer a fundo. Fiquei encantada por saber dessa tradução de "Os Lusíadas" do nosso grande Camões que, apesar de o ser, morreu mendigando o sustento. Tristes são os povos que não sabem apreciar os seus maiores. E, por fim, por favor, ALGUÉM EM PORTUGAL PUBLIQUE OS AUTORES CATALÃES. Perdoem-me a gritaria mas, em termos de cultura, a surdez é muita.

    ResponderEliminar