domingo, 7 de novembro de 2010

A Revolução de Outubro

Carlos Loures


Às 10 da manhã de 7 de Novembro de 1917 (25 de Outubro pelo calendário russo) – faz hoje 92 anos – consumava-se a Revolução na Rússia e a esperança no Comunismo acendia-se por todo o mundo. Já tudo foi dito sobre este histórico momento de ruptura social, económica e política que transformaria o mundo das décadas seguintes, pelo que apenas vou recordar alguns dos principais tópicos da Revolução bolchevique.

No dia anterior, em Petrogrado (Sampetesburgo), numa acção rápida e bem coordenada, grupos armados do CMR (Comité Militar Revolucionário), afecto aos bolcheviques, haviam ocupado as agências telegráficas, coração do sistema de comunicações, e mandado baixar as pontes sobre o Neva, isolando a cidade do resto da Rússia. Por isso, em 25, à hora mencionada, o periclitante Governo Provisório comunicava ter transferido todo o poder para o Soviete de Petrogrado. Este comunicado foi, segundo se sabe, emitido pelo CMR e redigido por Lenine.

Nessa mesma noite de 25 de Outubro, teve início o II Congresso dos Sovietes que elegeu um Conselho de Comissários do Povo. Em 26, foi aprovado o Decreto da Paz, propondo a retirada imediata da Rússia da I Guerra Mundial. Foi também aprovado o Decreto da Terra, que propunha a abolição da propriedade privada e a redistribuição da terra pelos camponeses. Em 2 de Novembro (15 no nosso calendário), Moscovo caiu em poder dos bolcheviques.

Houve, como é natural, resistência a estas medidas revolucionárias, nomeadamente na Ucrânia, integrada no Império Russo e fazendo depois parte da União das Repúblicas. Contra os vermelhos, alinhavam-se os brancos num leque político que abrangia à direita czaristas, liberais, nacionalistas, e à esquerda os anarquistas. Começava uma terrível guerra civil que iria durar até 1921.

74 anos depois, o sistema socialista ruiu e o capitalismo triunfou. Em todo o caso, nessa altura e desde há muito tempo, o sistema que vigorava nas repúblicas soviéticas já pouco tinha a ver com o socialismo fundacional. As contradições sufocavam um regime que se dizia comunista, mas que por muitos era designado por «capitalismo de Estado» e cujo socialismo já só subsistia em aspectos mais ou menos superficiais.

À partida tal desfecho fora previsto, pois, disse-se, o socialismo só poderia triunfar se conseguisse implantar-se à escala mundial. Após a 2ª Guerra, pareceu que isso poderia acontecer, pois parte considerável da Europa, da Ásia e da África foi assumindo-se como socialista. Na América Latina surgiam também focos. Porém, uma coisa são as ideias outra os homens que as põem em prática. E, por esse lado, o socialismo começou mal e não acabou melhor. A Guerra Fria, sobretudo a acção da CIA, foram roendo o sistema pelo exterior. Mas foram sobretudo as muitas contradições internas, sobretudo a corrupção e o despotismo que desgastaram irreversivelmente o sistema. As revoltas da Hungria e da Checoslováquia foram apenas um sinal.

Em Dezembro de 1991, com a demissão de Gorbatchov, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas era formalmente extinta, instalando-se aos poucos a economia de mercado, as redes de droga e prostituição, as máfias… O «mundo livre», digamos para simplificar.

4 comentários:

  1. E os magníficos livros que li: "Dez Dias Que Abalaram o Mundo", essa reportagem em cima da hora do John Reed que deu origem ao filme "Reds" e esse fabuloso romance do Cholokov "O Don Tranquilo" sobre o que se passou na Ucrânia.

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  2. Apesar de eu ter uma visão ligeiramente diferente das causas principais que fizeram ruir uma sociedade socialista que tanto tinha de positivo, dou-te os parabéns pelo belo e pedagógico Texto. Um abraço.

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  3. Não se perdeu tudo. Hoje na China percorrem-se novos caminhos, já com as lições dos erros e do que correu menos bem. Temos aí um texto com uma grande revista a perguntar se os US estão em declinio.

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  4. Ó Luís!
    O tal "texto" fica muito longe de me encher as medidas e responder às questões que me vêm acompanhando (e moendo o juízo).
    Quanto à China, acho que só tu é que percorreste novos caminhos, quando andaste por lá recentemente... E ainda bem, para ti.
    Os "outros" novos caminhos hoje percorridos na China passam pelo trabalho escravo e a engorda de novos capitalistas, rumo, eventualmente, ao desempenho de um papel de super-potência, ambicionado por dirigentes que de marxistas não têm nada e que nada têm a ver com os anseios dos comunistas sérios de ontem (quase todos tragados pela voragem da história) e de hoje, que procuram caminhos que não passam, seguramente, por um novo Império, seja qual for a máscara com que se apresente, chinesa ou não.
    Nada, na actual política chinesa, denota qualquer preocupação com a dignidade do ser humano. E não estou a pensar na história do Prémio Nobel perseguido, eventualmente tão execrável como outras criaturas que conheci mais de perto, incensadas como grandes heróis da "liberdade" e da "democracia" à americana (a que está prestes a lixar o Obama).
    É verdade que não tive oportunidade de ler todos os teus relatos de viajante. Talvez seja essa a minha falha, para não estar a ver a Luz...
    Mas, com a minha "grelha crítica" aplicada ao que vou conhecendo, parece-me tudo muito escuro.
    Paulo Rato

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