coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (15)
por Carlos Durão
(continuação)
No 17 de agosto de 1985, aniversário da sua fundação, tiveram lugar em Ponte Vedra sessões de trabalho da Assembleia das IF, nas que o principal tema debatido foi a postura a respeito da terminação –ão, havendo total acordo no seu emprego quando derivado do lat. –anum: irmão, -ã, -ãos, -ãs, postura “maximalista” na altura, defendida por C. Durão e I.A. Estraviz para todos os casos, como também no sistema verbal etc. (como já vinham praticando em público nos derradeiros meses, e nalguma correspondência privada antes (1977, 1978, 1983; “Para nós o urgente é a unificação ortográfica definitiva...” [carta de C. Durão a J.L. Fontenla, 15 maio 1984]; “[...] Martinho [...] concorda que de dar os passos ao máximo, o qual nos parece muito bem, haveria que empregar til...” [J.L. Fontenla a C. Durão, 15 outubro 1984]; “Se nos criticam por informaçom, polo menos que nos critiquem por informação” [C. Durão a J.L. Fontenla, 23 outubro 1984]; “A Galécia não pode ter dous sistemas ortográficos, por próximos que sejam. Pode, isso sim, ter, e de feito tem, várias falas ou falares, a uma e outra beira [...] O único “sacrifício” para nós é aceitar ão para om, am. Mas podemo-lo incluir em dicionários, etc., entre parênteses, e fazer notar que a pronúncia om é quando o plural é ões, e am quando ães” (id., 31 outubro 85; sublinhados do autor); de facto, já desde o princípio (começo dos anos 70) das comunicações entre os que mais tarde fundariam as IF, para eles era alvo definitivo a reintegração total, mas atinham-se, por disciplina, às decisões dos coletivos a que pertenciam).
Houve uma solução de compromisso quanto a –anem: pão, -am, -ães, e –onem: ladrão, -om, -ões, segundo a zona de quem redigir, p.ex. -ães, -ões, como típicas do galego oriental; para os títulos de publicações, etc., recomendava-se já prescindir do –om: p.ex. em “Associação”. Constatou-se a importância do chamado “sesseio” (ausência de thetacismo), concordando-se em aceitar a pronúncia de cada quem segundo a sua zona, embora tratando de evitar o chamado “ceceio” (thetacismo), por suspeito de castelhanismo. Em todo o caso concordou-se em grafar com “s” palavras como “sapato”, “Leres” e afins, como propugnava o Seminário de Estudos Galegos. A respeito do nome da língua concordou-se em ser galego-português, sem menoscabo das formas singulares galego ou português quando referidas às variedades comarcais ou à língua comum universal, respetivamente. Nos casos não tratados, ou duvidosos, aceitou-se provisoriamente a solução do Prontuário das IF, deixando uma maior precisão para uma próxima edição, seguindo o critério dos níveis de representação fonológica do professor Domingos Prieto. Finalmente acordou-se que seria do maior interesse para a Galiza a presença nas deliberações do próximo Acordo ortográfico luso-brasileiro (apontamentos do “Acordo de unificação ortográfica galego-portuguesa”, tirados do livro das Atas das IF e de notas dos assistentes àquelas sessões; vide Fontenla, 1986, p. 68, notas 35 e 36).
As IF enviaram, por convite, uma delegação observadora às sessões de debate do Acordo Ortográfico da Ortografia Simplificada no Rio de Janeiro na Academia Brasileira de Letras, em maio de 1986. Formavam parte da delegação J.L. Fontenla, Adela Figueroa e I.A. Estraviz; a “Comissão para a Integração da Língua da Galiza no Acordo da Ortografia Simplificada” fora constituída em 1985 em Ponte Vedra, no IV Encontro Internacional da Língua Galaico-Portuguesa, de 6 a 7 de dezembro de 1985, sob a presidência do prof. Dr Fernando Alves Cristóvão, o prof. Dr Carvalho Calero e o prof. Dr Luís Polanah, do que saiu um acordo pelo que se decidia “que fiquem autorizados os representantes das entidades convocantes do IV Encontro Internacional da Língua Galaico-Portuguesa para promover a constituição de uma Comissão, cuja finalidade seja a de iniciar relações com a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras de Rio de Janeiro, para a intervenção na revisão do Acordo Ortográfico” (Fontenla, 1986, p. 68, nota 36). Foi Presidente de Honra Ernesto Guerra da Cal (que já participara, como galego, no I Simpósio Lusobrasileiro sobre a Língua Portuguesa Contemporânea na Universidade de Coimbra em 1967, como antes no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros na Baía em 1959), e vice-presidentes J. Marinhas e V. Paz-Andrade; secretários Â. Brea e A. Gil Hernández; vice-secretários J.L. Fontenla e I.A. Estraviz; membros C. Durão, T. Feliz, A. Figueroa, J.M. Montero Santalha, J. Paz, J.J. Santamaria, X. Vilhar Trilho; assessores Herculano de Carvalho, Amadeu Torres, Rosa Sil Monteiro, Orlanda Marina Correia, F. Soares, Pires Laranjeira, Cristina Mello; foi depois “Comissão para a Integração da Língua da Galiza no Acordo da Ortografia Unificada” (1990), e posteriormente “Comissão Galega do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa”, com pessoalidade jurídica.
(continua)
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