terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sempre Galiza! - Síntese do reintegracionismo contemporâneo (22), por Carlos Durão

coordenação de Pedro Godinho

Síntese do reintegracionismo contemporâneo (22)
  por Carlos Durão



(continuação)

Higino Martins Esteves: “O til deve ser recuperado porque doutro jeito nom há possibilidade nenhũa de integrar os diversos dialectos galegos. Nom só historicamente no passado, mas também no presente” (2008: 56). “Nom descarto escrever na norma portuguesa em contextos amplos. Só quero reservar-me o direito de usar formas galegas legítimas, que nom diminuem a consolidaçom da língua e enriquecem aos mesmos portugueses, que nelas se reencontram./ A norma AGAL foi e é boa para aproximarem-se os de fora, os que andavam desapercebidos da questom. A norma AGAL oficial de máxima (com til) cumpre-lhe aos que já conhecem e entendem a história. Além desse ponto nom há mais formalizações que a portuguesa, a brasileira e a do Acordo do 90 (2008: 69-70)”.

Mª Rosa da Rocha Valente: “Por Galiza resto e resistencia entendo e delimito o Grupo Geracional da Lusofonia que vem das Irmandades da Fala historicas e do seu portavoz a revista NÓS. Grupo hoje reinvestido de uma força nova e nova luz” (1990, 21-26: 37).

Leodegário A. de Azevedo Filho: “os caminhos do reintegracionismo são os únicos que podem garantir ao idioma galego a sua própria sobrevivência” (1986, I: 22); “Assim, é rigorosamente a mesma a origem lingüística do galego e do português, não havendo separação entre eles na poesia medieval cultivada pelos trovadores e jograis daquela época. [...] se o galego é um dialeto rural do português, a sua norma culta só pode ser a portuguesa. Afinal, o português de nossos dias não pertence apenas a Portugal [...] a reintegração ou reincorporação total da Galiza no seu  mundo lingüístico próprio, mundo de que ela é a própria matriz histórica [...] com ampla e evidente expansão cultural do galego, seria a melhor solução do problema. [...] sem reintegrar-se no sistema luso-brasileiro, num processo de revitalização, jamais conseguirá expressão culta e literária [...] no lugar de recuperação do idioma, talvez seja melhor falar em sua revitalização” (1985.1988, 7-12: 96-110).

Gladstone Chaves de Melo: “É preciso abandonar de vez a idéia naturalista e romântica de que o único artífice das línguas é o povo.[...] só o povo é dono e modelador da língua? Qual povo? [...] concluamos que a língua é a mesma e que podemos, tranqüilos, passar do ‘diassistema’ ao ‘sistema’” (1993, III: 91-92-96); emprega também a expressão “reintegração galego-portuguesa” (1980.1985, 4/5: 41-56).

Sílvio Elia: “Vemos, pois, que para a Profª Henríquez Salido não haveria, a rigor, uma língua galega e sim uma norma-padrão galega, dentro do sistema lingüístico galego-português. A minha posição é a da existência de um sistema lingüístico galego-português, historicamente realizado como “domínio lingüístico galego-português”. Por motivos político-militares, houve, em certo momento da história, uma separação (não cisão) entre o galego e o português [...] Língua, tanto numa perspectiva (sic) estruturalista, quanto um enfoque sociolingüístico, realmente o galego não o é, pois a língua de fato historicamente existente é o galego-português. A questão desloca-se, assim, para o plano cultural, onde, só por extensão, se poderia atribuir ao galego a condição de “língua”” (1993, III: 131).

Evanildo Bechara: “há sempre um descompasso entre o que se pronuncia e o que se escreve [...] O problema se torna mais agudo, quando a língua serve a países diferentes, como é o caso da nossa, que está a serviço de brasileiros, galegos, portugueses e das recentes nações africanas. Não ocorrem complicações maiores, porque a ortografia é fonêmica, e não fonética, isto é, não se preocupa com registar variedades de fala [...] Entretanto, brasileiros e portugueses divergiram em pequenos pontos que agora os governos, pelas suas Academias, e os representantes das jovens nações africanas de língua portuguesa além dos galegos querem ver unificados. Tal intento é perfeitamente exequível, sem se perder de vista que unidade ortográfica não significa conformidade de língua se bem que uma língua histórica não deve ter mais de uma ortografia” (1990/91, 19-28: 49-50). “Falar em reintegracionismo do galego é do ponto de vista lingüístico algo pleonástico porque não se pode reintegrar algo que nunca deixou de integrar. /E do ponto de vista lingüístico o galego é uma vertente desta realidade da língua histórica que se chama língua comum, que é o grande guarda chuva ideal, modalizado pela cultura que abriga todas as variedades lingüísticas de todos os quadrantes geográficos em que essa realidade maior que se chama língua portuguesa é falada e é escrita. /De modo que do ponto de vista lingüístico, o galego nunca se separou do português como uma entidade que pertence a essa realidade histórica que caracteriza uma língua de civilização e de cultura como é o português” (2008).

Salvato Trigo: “O Minho, com suas terras e com suas gentes, reservou, desde muito cedo, lugar na literatura que se exprime neste idioma, que nos moldou o carácter e predispôs a alma de “cavaleiros andantes” em busca do mundo. Idioma, que nos uniu na Galécia, sem nos apagar totalmente os rastos celtas que nos imprimiram o acrisolado amor ao torrão natal de que a saudade é a expressão eloquente. [...] Idioma, em fim, que, apesar de alguns ventos contrários, nos fez reencontrar a nós, galegos e portugueses, nos caminhos da História que os gerou” (1993.1994, 35-40: 31); “[...] um galeguista como eu, que muitas vezes afirmo e sempre assumo a minha galeguidade do sul, de entre Minho e Lima [...]” (1996-1998, 51-58: 203).

José da Costa e Silva: «Portugal e a Galliza falaram sempre a mesma língua; e a historia testefica esta asserção. Todos os antigos escriptores hespanhoes chamam língua gallega, ou língua portugueza, ao idioma das duas nações; d’aqui vem que Macias el Enamorado é contado por uns entre os Poetas Gallegos, e por outros entre os Poetas Portuguezes; daqui vem dizerem uns que El-Rei D. Affonso, o Sábio, escrevêra grande número de cantigas para musica em Gallego, ao passo que outros dizem que foram escriptas em Portuguez, mas a verdade que todos dizem a mesma cousa, usando de denominações differentes./ Mas qual é a razão, perguntará alguem, porque o mesmo idioma apparece tão outro na boca das duas nações de quem elle é a linguagem natural ? A razão é mui fácil de deduzir. Portugal constituio-se reino sobre si, teve, e tem tido independencia, e litteratura; Galliza ficou sempre provincia de Hespanha. Portugal poude por isso cultivar a sua lingua, regularisa-la, opulenta-la com muitos vocabulos latinos, gregos, e de outras nações, apurar a sua syntaxe, e tornar flexivel, e harmoniosa a sua prosodia. Galliza, que nunca teve independencia, nem litteratura propria, não poude fazer outro tanto; os homens sabios, que tem produzido, escreveram em castelhano; a lingua popular circumscripta aos usos caseiros, e ás necessidades do vulgo, foi condemnada a ficar na sua rudeza, e na sua barbarez primittiva; de que só poderá sahir, si por algum caso inesperado tornar a unir-se comnosco» (1850).

(continua)

Sem comentários:

Enviar um comentário