sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Tudo muda

Adão Cruz

 

Tudo muda na vida, mudamos nós, mudam os outros e mudam

as circunstâncias. Tudo no mundo muda,
umas vezes para melhor e outras para pior. Hoje deu-me para reflectir, e toda esta reflexão me fez lembrar, nestes tempos de drásticas mudanças, uma das mais fantásticas mudanças que o mundo sofreu, a que resultou da Revolução de Outubro. Revolução que foi o primeiro acto de ruptura com o capitalismo e o primeiro exemplo de uma sociedade nova. Uma sociedade que demonstrou, apesar dos desaires que atravessou e que a atravessaram, que não há alternativa ao socialismo, noção que é, sobretudo hoje, nesta bandalheira universal em que estamos atolados, muito mais clara e transparente.

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas foi decisiva para alguns dos mais importantes avanços históricos da humanidade, para um equilíbrio de forças nunca possível sem ela, bem como a grande obreira da paz no mundo, com a sua decisiva intervenção na Segunda Guerra mundial. Como todos sabem, mesmo que olhem para o lado, as tropas americanas só intervieram depois da batalha de Kursk, quando se tornou evidente que o exército vermelho, sozinho, venceria os nazis. A Batalha de Kursk foi uma tremenda batalha na Frente Leste. É considerada a maior batalha de blindados de todos tempos, e inclui o maior custo de perdas aéreas em um só dia na história da guerra. Absolutamente decisiva para a derrota nazi.

A pior mudança para a humanidade deu-se com a queda da União Soviética. Ainda hoje o mundo não se deu conta da brutal perda que daí adveio. A queda da URSS constituiu uma grande tragédia para a humanidade. Sem ela perdeu-se o equilíbrio de forças, abrindo caminho a todos os horrores, crimes e misérias do capitalismo, hoje evidentes aos olhos mais cegos. As falhas, por vezes grandes, da sociedade socialista, não anularam, para quem quiser analisar os fenómenos históricos com seriedade, a ideia de que a sociedade soviética foi a mais justa e humana de todas as que se conhecem. E, como todos sabem, essa sociedade ruiu, essencialmente, pelo agressivo poder dos inimigos exteriores e também por factores internos, como a existência de sabotadores que mais não eram do que aliados dos inimigos externos, a perversão do patriotismo, a ambição, a degenerescência mental e a perda da dignidade de muitos dos que tinham sobre os ombros grandes responsabilidades na prossecução da meta socialista. Não foram os valores sociais que acabaram com ela. O mundo é feito de mudança, mas hoje o mundo está bem pior, menos livre, menos justo, menos solidário e menos pacífico. Em nada me custa a acreditar que uma das principais causas reside no desaparecimento da União Soviética, um contrapoder indispensável à furiosa ganância, desumanidade, crueldade e selvajaria imperialista e capitalista.

(ilust. Adão Cruz)

7 comentários:

  1. Não me custa nada subscrever muito do que aqui dizes.O mundo está realmente mais perigoso.

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  2. A Revolução de Outubro foi, para muitos, a promessa do mundo desejado.
    Mas começou a devorar os seus filhos e filhas desse o primeiro dia.
    A Rússia imperial manteve o seu imperialismo, travestido de internacionalismo, e ao poder absolutista tudo e todos sacrificou: pessoas, povos, arte, literatura, cultura.
    E Estaline não foi um acidente de percurso.
    Não há que ter saudade, nem da URSS nem das chinesices que tanto excitaram alguns.
    A revolução perde-se se põe fim à liberdade de opinião e crítica e à democracia, porque mimetiza qualquer outra ditadura.

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  3. Nem mais, Pedro, tenho aqui defendido sempre, sem democracia e estado de direito não vamos lá, e mesmo a ir não interessa.O que não quer dizer que as experiências mesmo mal sucedidas não contribuam para o caminho.

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  4. Pedro e Luís, dizendo o oposto um do outro, até parece que estão de acordo.

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  5. Estamos, pois. Já disse aqui muitas vezes o mesmo que o Pedro, mas isso não quer dizer que no texto do Adão não hajam coisas que subscreva.

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  6. Eventual acordo na negativa não é, necessariamente, acordo na positiva.

    O teste final é(recusando o simples fascínio do distante): se fosse aqui, onde vivo, o que diria/aceitaria?

    O que é conhecido faz-me pensar que muitos de nós não se satisfariam nem se conformariam com tal sistema; e quantos acabariam em campos de reeducação?

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  7. Por isso digo, fora da democracia e do Estado de Direito não há solução.Por mil vezes que digo isto. Os homens não merecem a Democracia? Bem, isso é outra conversa...

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