sábado, 4 de dezembro de 2010

Coisas do Porto - Quinta dos Três Castelos, onde viveu minha mãe.


Eva Cruz

 Havia em Vila Nova de Gaia duas quintas com nomes parecidos, a Quinta do Castelo que pertencera aos pais de Almeida Garrett, onde o poeta passou a viver a partir dos cinco anos, e a Quinta dos Três Castelos que pertencia a Bernardo Soares de Almeida, irmão de Virgolino.
Perto do apeadeiro de Coimbrões, junto à linha férrea, mandou Bernardo Soares de Almeida construir, em 1907, ao gosto revivalista do início do século XX, uma muralha de cimento com três castelos e torreões que servia de mirante aos felizes proprietários para verem passar o cavalo de ferro ou o pássaro sem asas. Esta muralha acastelada e de contos de fada encerrava uma casa que Bernardo Soares de Almeida reconstruíra ao sabor dos tempos românticos. Todo o interior da quinta era de grande imponência e harmonia. Do lado poente havia um portão de ferro de lindíssimo gradeamento que dava para uma alameda empedrada de xistos maravilhosos, bordejada por frondosas japoneiras, e o jardim era adornado por árvores e plantas raras. No alto da alameda erguia-se a casa grande e elegante, servida de uma escadaria de acesso, tudo ao gosto romântico da época. Perto da escadaria havia um lago e um repuxo com um menino a deitar água pela boca. Mais um pequeno mirante escondia o depósito da água. Sob a estátua escreveram a data da construção.
Nas traseiras da casa, o portão de cima dava para um espaço agrícola pertencente ao mesmo dono, que se chamava a Quinta da Lavoura.
Na cave do casarão, uma adega enorme com lagar granítico honrava os alicerces da Quinta dos Três Castelos. Hoje, resta um descampado onde se ergue uma escola com esse nome e aí resistem à morte dois dos três castelos, quase esboroados.

Diz Hélder Pacheco que agora já ninguém liga ou nem repara, mas nos tempos áureos da Quinta, a visão da fortaleza cinzenta, impante e bem tratada, era espécie de cartão-de-visita requintado da Vila Nova.


(Ilust. Adão Cruz)

7 comentários:

  1. Obrigada, Augusta, um beijinho.
    A minha mãe era muito especial, como todas as mães, claro. Teve uma vida muito especial também. Sempre dizia que a vida dela dava um romance. Daria se de tal fosse eu capaz.
    Este texto faz parte de um livro que escrevi sobre ela e que, não sendo propriamente um romance, é uma homenagem que qualquer mãe gostaria de receber.

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  2. E eu sei que foste uma filha impecável. Um dia que vá ao Porto, hei-de procurar o teu livro. Quanto ao romance, começa a escrevê-lo, Eva. Tenho a certeza de que és capaz. Um beijinho para ti.

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  3. Não precisas de procurar o livro. Tenho muito prazer em oferecer-to.
    Depois da aposentação deu-me para escrever. Escrevi três livrinhos. Do primeiro tenho muito poucos exemplares mas é provável que ainda te possa oferecer um .Dos outros dois ainda tenho alguns.
    Diz-me a tua direcção.

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  4. Está bem. Fico tocada com isso, Eva. Mas sabes que eu fico sempre com muitos problemas que pensem que eu estou a pedir coisas e não estou. Os meus amigos são as pessoas que mais merecem que eu lhes procure as obras como procura as de quem não conheço e não que mas ofereçam. Mas não quero ser indelicada contigo e vou ter todo o prazer em receber estas tuas lindas histórias. Obrigada e um beijinho.

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  5. Augusta, não fiz os livros com fins lucrativos, embora os dois primeiros se esgotassem. O último foi dirigido aos meus alunos e à minha escola, mas não deixa de ser interessante para outros leitores, julgo eu.
    Por isso só quero o teu endereço para tos enviar com muito prazer. Pelo que conheço da tua sensibilidade, sinto-me feliz pelo interesse que revelaste.

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  6. Obrigada. Já te mandei o endereço por mail.

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