Face ao descrito no texto que se segue e face às medidas impostas pela União Europeia e pelo FMI deixamos como interrogação: como é possível explicar aos nossos alunos e aos nossos netos, no quadro de sociedades estruturalmente desenvolvidas, as razões, os mecanismos e as respostas sobre a crise que estamos a passar, que estamos a viver, que estamos a sofrer ? Como é possível que os nossos alunos e os nossos filhos expliquem às gerações futuras o roubo que às gerações presentes é feito do seu próprio futuro e, de novo, roubo que é suposto ser feito, ele também, no quadro de sociedades consideradas altamente desenvolvidas ? Como questão final e face ao descrito no texto como se compreende, ainda no quadro de sociedades altamente desenvolvidas, que a União Europeia e o FMI sancionem os roubados da Irlanda, o seu povo, e não aqueles que o roubaram. Quem souber que responda.
E por esta via talvez abram o debate e que seja duro
Terão eles sido bem controlados?
Não terá A UE feito vista grossa durante muito tempo?
Todas as descrições que desde há vários anos ouvimos e lemos sobre o Tigre Celta, como foi a Irlanda baptizada devido às suas taxas de crescimento equivalentes às taxas dos Tigres Asiáticos (daí o nome) começavam invariavelmente por um sedutor paradoxo. E o paradoxo era a metamorfose das terras pantanosas, sem nada semeado, em altas torres todas elas de vidro e aço em movimento perpétuo.
A elite bancário estiveram no centro da transformação de um país rural e profundamente religioso num laboratório prodigioso do sector terciário. Mas, como o ilustra bem o actual colapso económico da Ilha Esmeralda, “os escândalos” acabaram por juntar um mundo financeiro em profundo conluio com os promotores do sector imobiliário e com e os políticos. Um triângulo tóxico...Todas as descrições que desde há vários anos ouvimos e lemos sobre o Tigre Celta, como foi a Irlanda baptizada devido às suas taxas de crescimento equivalentes às taxas dos Tigres Asiáticos (daí o nome) começavam invariavelmente por um sedutor paradoxo. E o paradoxo era a metamorfose das terras pantanosas, sem nada semeado, em altas torres todas elas de vidro e aço em movimento perpétuo.
"Desconfiem dos grandes bancos dos pequenos países que privados de iniciativas locais dignas deste nome, se sentem, naturalmente, levados a crescer para além da sua base de partida, correndo fortes riscos...": como o afirma um operador da City, o naufrágio irlandês encarna até ao limite máximo possível o que foi a corrida louca de cada banco local para aumentar a dimensão.
O milagre da Irlanda. Como na da Bélgica, Islândia ou na Escócia, o sector financeiro irlandês está organizado em oligopólio. Três grandes bancos de retalho (Bank of Ireland, Allied Irish Banks e Anglo Irish Bank), assim como duas de crédito repartem entre si o essencial de um mercado interno de 4,4 milhões de pessoas.
O que fazer com esse dinheiro, que de repente fluía para os seus cofres no final dos anos 90, como resultado do nível de vida e de bem-estar, com uma saúde de autêntico cavalo? Uma política fiscal agressiva, especialmente a baixa de impostos sobre as empresas o que atraiu empresas estrangeiras, uma praça financeira em pleno desenvolvimento e especializada na administração de hedge funds e mão-de-obra formada e barata foram estes os elementos que alimentaram o milagre da Irlanda.
Para os bancos em busca de investimentos altamente rentáveis, para este maná de liquidez, a solução é óbvia: investir pesadamente no sector imobiliário, principalmente na parte comercial e escritórios. Os bancos de Dublin financiam de olhos fechados promotores imobiliários e empresas de construção . Enquanto isso, às famílias, muitas delas nem sempre solváveis, eram-lhes oferecidas a compra de casas com hipotecas a 100% ou mesmo mais, sem sequer confirmarem os rendimentos familiares, nem ao menos o recibo de pagamento salários .
À frente dos bancos, uma nova geração de dirigentes megalómanos substituía os antigos banqueiros prudentes e conservadores . Demasiado pequena para eles, a Irlanda: estes precisam da Ásia, do Reino Unido, da América! Abriram filiais luxuosas em todos os cantos do globo. Tanto quanto o pagamento de dividendos era grande, os accionistas não tinham nada a criticar quanto às anomalias dos balanços, os bónus de fim de ano eram miríficas, o estilo de vida era luxuoso, era sim para os senhores do dinheiro.
Além disso, no interior dos bancos, o nepotismo é a regra. Os princípios da boa gestão são alegremente ignorados. A casta dirigente na frente e por trás dos auditores dos auditores desviava dezenas de milhões de euros para financiar a compra de vivendas de luxo, iates e carros desportivos de topo de gama.
Clientelismo, elevador social desligado e as maquinações. Como é possível explicar tais derrapagens, dignas de uma república das bananas? Em primeiro lugar, neste pedaço de terra, neste pequeno país, onde todos os decisores se conhecem, a nomenclatura financeira vive em completa simbiose com o mundo político e industrial.
Desde a independência em 1921, a vida pública é dominada por dois grandes partidos, o Fianna Fail e Fine Gael, que se situam... ao centro. Sobre as questões económicas, não há diferença de substância. O clientelismo, o desligar do elevador social e as falcatruas são a norma. Parlamentares, financeiros e magnatas da construção frequentam os mesmos clubes de golfe ou os mesmos círculos hípicos e entendem-se tão bem como os ladrões de feira.
Essa ligação umbilical explica que no Outono de 2008, Brian Goggin do Bank of Ireland, e Eugene Sheehy, do Allied Irish Banks, conseguem mesmo impor ao novo ministro das Finanças, Brian Lenihan, que proporcionasse uma protecção a 100 % aos depósitos bancários como aos créditos concedidos, de má qualidade, créditos hoje denominados tóxicos. Essa decisão só veio piorar as coisas.
Até à data, apesar das graves vigarices comprovadamente feitas, nenhum banqueiro foi colocado para lá das grades, na prisão. Os promotores no centro do escândalo puderam emigrar com toda a impunidade. Outros transferiram a propriedade dos bens ilicitamente adquiridos para o nome das suas mulheres para os colocar ao abrigo de qualquer confiscação. "Este país permanece um clã, unido, parece quase uma máfia. O poder é patrimonial", diz-nos um observador indignado, perplexo, com a inércia da justiça e da polícia. É evidente que, aos olhos dos banqueiros, se o sistema financeiro capotou, a culpa é da crise de confiança, é dos construtores tubarões, é dos investidores gananciosos... Não é culpa deles.
Controladores pouco experientes. O segundo ingrediente da tragédia que se desenrola hoje é a fraqueza do regulador. Três controladores muito inexperientes foram durante tempo os responsáveis pela supervisão dos dois maiores bancos da ilha. Associados ao Banco Central, o organismo de tutela não fez qualquer esforço para incitar o seu rebanho a minimizar o risco. Além disso, o medo da fuga dos investidores estrangeiros que andam à procura de estabilidade e de benefícios fiscais levou o Tesouro irlandês a abrandar ainda mais as regras.
Depois, confrontado com a atracção de altos salários na praça financeira ou nos gigantes de equipamentos eletrónicos, a função pública bem se esforça para poder recrutar os melhores elementos. É por isso que o governo tomou como adquirido a subavaliação do financiamento do “buraco” bancário, como foi expressa pelo seu banco de consultoria, a Merrill Lynch, escolhida por causa de sua origem irlandesa. Depois disso, não houve nenhum controle quanto á utilização de 50 mil milhões de euros injectados pelo governo de Dublin desde 2008 no sector financeiro.
Os irlandeses estão agora a sofrer a ressaca e interrogam-se . Para sair da rotina, os seus bancos, de facto em falência e nacionalizados, devem rapidamente aliviar-se mesmo depreciados dos seus activos periféricos ou dispositivos externos. A prioridade consiste agora em se concentrarem no mercado interno desvalorizado durante a última década a favor da expansão no exterior, a favor do boom no mercado imobiliário ou dos pequenos génios dos mercados de produtos e dos produtos miraculosos. Como diz Byron a propósito de Itália, os bancos irlandeses não são mais do que a "a triste mãe de um império morto"...
Marc Roche (correspondente em Londres), "Les banques irlandaises sont-elles responsables de la crise? ", Le Monde, 26 de Novembro de 2010.
São, são! altas taxas de remuneração do capital accionista muito acima da taxa padrão, altas remunerações dos gestores assentes nos resultados de curto prazo e reguladores de olhos fechados (não sei se lhos fecharam ou se são cegos de nascença).Foi assim em todo o lado.
ResponderEliminarDiscordo desta análise que desculpabiliza os responsáveis pela ideologia político-económica dominante nos últimos cerca de 30 anos.
ResponderEliminarVou explicar-me no post de amanhã.