Clara Castilho
Arquimedes da Silva Santos é licenciado em Medicina e especializou-se em neuropsiquiatria infantil.
Dele retiro, como primordial, o pensamento de que o desenvolvimento harmonioso de uma criança é o que importa na educação para que ela, no futuro, se encontre a sis própria e se encontre com os seus concidadãos.
Foi preso pela Polícia Política e condenado, em 1949, à pena de 18 meses de prisão pelo Tribunal Criminal de Lisboa. Acabou por ter de emigrar para França, pois que não era considerado pessoa respeitável e fiável para poder, como médico, trabalhar num hospital português…
Conciliando sempre o seu interesse pela cultura, já em Coimbra, onde estudou, foi um dos impulsionadores da revista Vértice e desenvolveu actividades do Teatro Universitário e do Ateneu, representando e traduzindo um bom número de peças.
De regresso a Lisboa estagiou em Medicina Interna e em Cirurgia, em Pediatria, Neurologia e em Psiquiatria, sempre como voluntário. Acabou por ser reconhecido como Neuropsiquiatra da Infância, pela Ordem dos Médicos, em 1959. Foi, ainda, e durante muitos anos, Clínico Geral na sua terra de nascença, Póvoa de Santa Iria.
Foi na área da pedagogia que mais se destacou, no Centro de Investigação Pedagógica do Instituto Gulbenkian de Ciências e na Escola Superior de Educação pela Arte do Conservatório Nacional de Lisboa e na Escola Superior de Dança.
No Centro de Investigação Pedagógica procuravam-se soluções para as dificuldades escolares, sobretudo de origem emocional e afectiva. Recorria-se, entre outras, a técnicas de reeducação da linguagem e da expressividade da criança, utilizando-se técnicas de pedagogia curativa que implicavam relação com a música, o drama, o movimento e as artes plásticas. Foi ai que foi tomando forma a criação de uma Psicopedagogia da Expressão Artística, num primeiro tempo, dando origem, depois, ao sonho de uma Reeducação Expressiva ou uma Arte-Terapia.
Propôs, no início dos anos 70, a criação de dois cursos no Conservatório Nacional, um para Professores do Ensino Artístico, e outro para Professores de Educação pela Arte. Fundador do Movimento Português de Intervenção Artística e Educação pela Arte.
Sobre estas actividades, diz ele : “Eu tinha a formação de pedopsiquiatra e vi que a melhor maneira, do ponto de vista educativo, de agir na vida das crianças com dificuldades era através das expressões artísticas, quer seja da música, das artes plásticas, da psicomotricidade, da dança, do drama, etc. …” (entrevista à revista “Noesis” – nº 55-Julho/Setembro 2000). E ainda: “Fui um professor amador que, de algum modo, se profissionalizou. … como livre pensador e como franco atirador pude fazer aquilo que achava que devia ser. … Dava liberdade aos meus alunos para podermos fazer as coisas de maneira a enriquecermo-nos, a encontrarmo-nos, a sermos. A minha linha de acção era essa. Não era o saber, o ter, era exactamente o ser”.
Participou no filme de António Reis e Margarida Cordeiro “Rosa de Areia”(1988), com um personagem hierático, de cabeleira branca e olhar de sonho, sempre a procurar ver para além do horizonte. É autor de poemas, alguns cantados (Luís Cília, por exemplo)
A Fundação Gulbenkian publicou um livro de sua autoria – “Mediações arteducacionais – ensaios dirigidos”, obra que recomendamos a todos os intervenientes em pedagogia e onde se pretende “prosseguir e procurar vias entre a Arte e a Educação”. Na sua introdução pode-se ler: “À escala nacional... duas dicas dessa prioridade: Jardins de infância para todas as crianças portuguesas; Educadoras sensibilizadas para as expressões ludo-expressivo-artísticas”.
Este autor também pode ser consultado em “Perspectivas Psicopedagógicas”, 1977, e “Mediações Artístico-Pedagógicas”, 1989, de Livros Horizonte.
A Câmara de Vila Franca de Xira ergueu uma estátua em sua homenagem. No Museu desta mesma cidade, pode ser apreciada uma exposição onde os interessados mais ficarão a saber deste médico e professor.
Foi agraciado com a Ordem do Infante D. Henrique e com a da Instrução Pública.
http://videos.sapo.pt/EmN29I0N4ttas04slVGP
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
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Clara,
ResponderEliminarFaltou-me uma referência mais afirmativa à obra poética do meu querido Arquimedes (que é mais do que um "autor de poemas"). Obra editada pela Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo, que eu não conhecia até há poucos anos, quando a Associação me convidou para ler uma selecção dos seus poemas, numa sessão em Vila Franca de Xira. Embora a importância das suas actividades como médico, cientista e pedagogo, tão bem descritas pela Clara, tenha deixado um pouco na sombra a sua poesia (a que ele próprio talvez não desse o devido valor), esta "obra poética" completa, sem desdouro, a personalidade extraordinária de Arquimedes da Silva Santos, que só nesse dia tive o prazer de conhecer e incluir, com os seus familiares mais próximos, entre os meus amigos, ainda que o convívio pessoal seja mais rarefeito do que desejaria.
Paulo Rato