(Continuação)
Capítulo 5- Perda da família
Falar da perda da família, é uma confissão que experimentamos não falar. Foi uma experiência triste, em parte narrada na Introdução deste texto. A família alargada , como dizemos em Antropologia, rapidamente afastou-se de mim. Era o parente traidor, era o parente que fazia mal, era o parente ovelha negra. Ainda lembro as palavras da última vez que vi a minha sogra, ainda em Cambridge. Apenas ficaram ao pé de nós essa a minha querida irmã Blanquita, quem tinha partilhado comigo o campo de concentração, e o nosso psicólogo, Miguel Toro Melo, fundador e docente da Universidade Autónoma do Chile, que começou em Talca, como Instituo del Valle Central, e passou a ser o meu cunhado ao casar com Blanquita da forma narrada no Capítulo1, mas que, enquanto era o meu psicólogo, teve a gentileza de ir cumprimentar-me para dizer adeus. No entanto, anos mais tarde, disse-me que eu era um romântico.
Não era para se despedir de mim, bem como para ver, uma vez mais, a minha irmã, que ele tinha começado amar, mas queria ter a certeza. Esses tempos que vivíamos, cheios de incertezas e de não saber quem era o quê, fez que essa visita for realizada. Tempos incertos, ainda, entre os membros da UP: fui cumprimentar ao único vizinho nosso que falava ainda connosco, um membro do Partido Radical, referido ao falar de Orlando Cantuárias no Capítulo 1, e disse que vinha a cumprimentar e a me despedir, porque ia ao estrangeiro.
Acrescentei ao vizinho que tínhamos perdido a batalha da UP e a sua resposta deixou-me de boca aberta, para não dizer surpreendido. Surpreendido não podia estar, era, com todo, do, mas desse de tirar vantagens! Partido Radical , um membro da UP por conveniência de ganhar e obter cargos e regalias governamentais. Esse o meu vizinho, cujo nome apaguei das minhas recordações e dos meus livros para escrever a minha vida, respondeu, em castelhano, evidente, ele apenas sabia essa língua e mais nada: “Nós nada temos perdido. Eu tenho o meu trabalho, o Senhor – em chileno castiço, disse-me o Inhor, que se escreve iñor- tem o seu. Os que perderam foram os rotos – esse descosidos de que tanto falei nos capítulo precedentes – que não nos souberam defender!” Fiquei horrorizado e temido com essa resposta, mas nem surpreendido devia ter ficado. Ele não era como Pedro Aguirre Cerda, nem Bilbao nem Arcos, era à Cantuárias!. Sempre estimei que estarmos na UP, era para servir aos mais pobres e assim eles partilharem a riqueza do Chile, o mínimo de justiça social, quer para cristãos, quer para ateus! Fiquei furioso!
Esse dia entendi porque não tinha querido participar na Junta de Vizinhos do nosso bairro, na base da lei feita redigida por mim e Francisco Vio nos anos sessenta: eu solicitava horas livres para as empregadas domésticas, que, de forma eufémica, são denominadas Trabalhadoras por Horas ou Mulher a Dias, e no Chile de hoje, são Nanas. No Chile de Antigamente, der Nana era a servente que tomava conta de um dos filhos do patrão, o resto era a servidão, for tratada bem ou mal. Na casa dos meus Senhores Pais, havia uma imensidão de servidores, todos bem pagos e tratados com a dignidade de pessoas que eram.
Foi ai que nós, os descendentes, aprendemos a tratar aos nossos próprios serventes. Com horas livres para o descanso e até para estudar cursos de modas, como aconteceu com uma das nossas empregadas, uma rapariga nova, Eliana, que não sabia o quê fazer se não trabalhava. Foi a nossa ideia de lhe pagar um curso de Modista, para o qual tinha horas de licença do trabalho na nossa casa e o fim de semana era usado para ir a casa dos pais, no pequeno povo de Bobadilla, sito ao Sul de Talca, por perto da Província de Linares, onde tinha um namorado. Ela tinha a nossa cumplicidade, não por sermos socialistas, era apenas porque sabíamos o que o amor era... Para acabar a história do dito vizinho, dito radical, costumava dizer, como outros membros do bairro, que éramos um mal exemplo: “o povo é duro e é preciso trata-lo como tal, estes rotos de merda só sabem trabalhar, para isso é que existem, para aliviar o nosso trabalho”. Essa família tinha uma empregada para o denominado todo tipo de serviço e apenas saia de quinze em quinze dias, aos Domingos, a seguir a lavagem da loiça usada ao almoço. Falei um dia com ela e li a ela os seus direitos.
A seguir, por ter sido espreitado pelo esse o meu vizinho, ela nunca mais falou comigo e disse a correr: “Don Raúl, falar consigo é um perigo, se me vem falar consigo outra vez, perco o emprego, que preciso para mim e a minha mãe viúva.” Fui de imediato falar com o malvado vizinho, esse dito radical, que de radical apenas tinha empreendimentos como Construtor Civil que era, empreendimentos dados a ele pelos membros do seu partido no Governo Regional e expliquei que...não consegui: mal apareci na casa à qual entrava sempre, ele falou: “O senhor manda na sua casa como entende, eu, na minha, da forma que sei”. Mais uma amizade e vizinhança cortada. Até a nossa pequena filha Paula, muito amiga da filha dos nossos mais imediatos vizinhos, os Meier, Jimena e Walter, deixaram também de falar connosco, por causa do perigo que para eles representavas, desde a noite que fui levado ao campo de concentração. A nossa pequena filha não conseguia entender porquê a sua pequena vizinha, também de nome Paula, não podia brincar com ela.
Era difícil de explicar. Como era também difícil dizer a família a forma de tratamento que dava-mos aos nossos serventes, Eliana em casa, Cora que ia engomar, e ao José, que tratava do nosso encerado do piso da casa e a uma senhora que lavava a nossa roupa em casa dela. Pensávamos estar pouco tempo, não tínhamos máquina de lavar e era muito o trabalho para Eliana fazer a comida, limpar a casa e lavar, o que normalmente era mandado nas casas onde havia empregadas. Eu não gostava de sobrecarregar de trabalho a apenas uma pessoa e, apesar de ganhar bom dinheiro na Universidade, não dava para tanto e a minha mulher Glória começou a trabalhar na organização de um Museu, projecto do nosso amigo Ministro da Corte e Reitor delegado da Pontifícia em Talca, que Gloria soube fazer as mil maravilhas com um dos meus colaboradores, contratado especialmente para esse trabalho, Angel Sanmartín, a quem eu, por ironia, denominava O Libertador....sem saber que me andava a tentar me libertar da minha pessoa mais amada, mas como essa história não é minha, a não refiro mais. Ele e Gastón Pérez, da equipa de Artes e Cerâmicas da Universidade do Chile, com Sede em Talca, como nós. Fizeram um lindo trabalho, orientado por Gloria que, nesse tempo, sob a minha responsabilidade, deleguei a orientação em ela, a mais sabida pelo amor que dedicou ao trabalho, como pessoa graduada em Arquitectura Interior, com imenso talento para a arte: o génio estava dentro da família. Ainda mais, essa devoção ao trabalho de Museu, era feito para salvar espécies em vias de extinção, dentro da agricultura, já não usadas pelos trabalhadores rurais.
Passou a ser o Museu de Glória Iturra, muito celebrado e muito estimulado. Ente a Museologia e o batik, essa arte da Malásia, Tailândia e outras nações orientais, está referido em nota de rodapé , com definição da arte e a sua expansão e a sua história. Era uma forma de tingir roupas, expandida para fazer pinturas e decorar a casa como está referido na nota de rodapé, técnica, que mais tarde, faria no exílio para incrementar as nossas entradas.
Tornando ao texto centra, esse repartir o dinheiro por todos, era uma antecipação ao socialismo chileno, que queríamos ver materialmente. Estas, como dizia a minha mulher, eram as minhas extravagâncias, bem como o facto de organizar um fundo comum com os nossos ordenados e os dividir entre todos conforme as suas necessidades, essa antecipação à forma socialista de vida que, estávamos certos, ia acontecer.
Eu ganhava mais do que todos, por ser Presidente do CEAC e ter um Mestrado Britânico e ser candidato a Doutor já, suspenso enquanto ia visitar o Chile de Allende. De certeza, a perca da via chilena ao socialismo e o meu trabalho de campo entre os camponeses do Chile, fizeram-me escolher, mais tarde, a Galiza Rural: uma compensação emotiva e psicológica. Essas as minhas denominadas extravagâncias, não eram entendida pela minha família, excepto pela minha irmã que era uma convicta mulher de esquerda, e pela minha Senhora Mãe, de quem eu tinha aprendido esse tratamento da igualdade para com os nossos subordinados do nosso lar. No seu senhorio, herdado pela minha irmã mais querida, que esteve em prisão comigo, sabia o que era mandar sem escravizar aos mais pobres. O resto da família, não entendia e diziam que eu era doido, a ovelha preta da família, por causa de não seguir as ideias cristãs que, conforme eles, indicavam que as diferenças de classe deviam ser respeitadas, como Deus tinha indicado. O Nosso Senhor, que todo o sabe, tinha criado....A minha Senhora Mãe entendia, a minha Senhora Sogra, talvez menos, mas respeitava essas as minhas denominadas extravagâncias, pelo menos, algumas.... O que ela nunca respeitou, foi o meu pedido para nunca termos aparelho de televisão em casa e assim expandir a imaginação das crianças com jogos e danças e música ouvida e dançada, como aconteceu mais tarde na nossa casa de Cambridge.
No entanto, cada pessoa tem uma ideia diferente para agradar aos outros e como ela gostava da televisão, pensava que a única pequena nossa nesses tempos, Paula, ia gostar de ver telenovelas e outras histórias, o que não aconteceu. Apenas que, senti a obrigação de respeitar as ideias dessa querida Senhora, que adorava a, nesse tempo a sua única neta. Ela adorava não apenas as suas filhas, bem como as suas netas, nesses dias apenas uma, a causa da sua alegria que dava prazer de ver, e entendia que o que ela gostava, ia ser querido também pela mais nova da família. Não havia semana ou fim de semana que ela e a sua filha solteira, a minha hoje doente cunhada Maria Eugenia, em face de recuperação e cuidada pela minha mulher, não havia semanas, reitero, que elas não estiverem na nossa casa por causa da neta, ou em Talca ou em Cambridge. Mas, a neta era-lhe roubada por mim para irmos ao campo ou apanhar “boleia” de carros e “carretas” tiradas por cavalos ou bois e assim experimentar dar conhecimento de outras formas de vida, históricas e de hábitos diferentes, conforme o lugar social que se ocupava dentro da hierarquia social, ou classe social: tentava dar alternativas de vida a nossa filha, com esse novos conhecimentos.
A televisão ficou “redundante”!. A causa era que um dia, eu tinha perguntado a Paula: “onde é que nascem as alfaces”? e ele respondera: “dos cestos do mercado”, outra das minhas excentricidades. Levei a Paula ao mercado e falamos com os trabalhadores rurais que ai vendiam, e, a pouco e pouco, a nossa Paula foi alargando os seus saberes.
Sempre denominei a essa minha cunhada, a segunda avô dos nossos netos. Mas, foi a altura de termos o primeiro desencontro, quando, num dia qualquer, nesse país semeado de espinhas pela CIA e o Governo de Nixon, especialmente as conspirações do Embaixador Frank Carlucci , a minha cunhada e a minha Senhora Sogra, começaram a apoiar um certo golpe, esse no qual nós não acreditávamos que podia acontecer. A minha mulher, na sua calma e sabedoria, aconselhou não debater com elas, difícil para mim, socialista e convicto pró Allende . Foi já o começo da perda da família: respeitar os pensamentos dos outros, eu defendo, mas ter que suportar ideias e actividades impingidas sobre a nossa vida, era um perigo dos que as nossas famílias não estavam nada conscientes e não queriam saber. A típica reacção da denominada alta burguesia do Chile, mal informada e, naturalmente, muito vincadas às suas propriedades. Os documentos das conspirações de Kissinger e Carlucci não eram conhecido por elas, nem por ninguém, foram desclassificados bem mais tarde, pela administração do Presidente Clinton para colaborar no julgamento do ditador que matara ao Presidente do Chile, e que estivera como Embaixador em Portugal entre 1974 e 1976, sob as ordens directas do director da CIA, como é referido na Wikipédia .
A nossa família nunca acreditou nestes factos e a nossa intenção, de Gloria e minha, era não entrarmos em problemas. A pesar de todo, não esqueço as últimas palavras que ouvi a minha sogra na nossa casa de Bateman St, em Cambridge: “Raúl, tú eres una buena persona, muy trabajador e triunfador, pero me quitaste lo que yo más quería: mi hija y mis nietas, y es por eso que no puedo perdonar tus ideas. Has contagiado a mi hija! Y no sé lo que será de mis nietas”. Foi, praticamente, o começo do fim de uma família de Tolkien, dos serões com bailado russo à Scheherazade de Rimsky-Korsakov, dançado pelas nossas filhas e da música em flauta de bisel, e, mais tarde, estudos de violinos de uma das minhas filhas, que acordava as 6 da manhã para ensaiar, enquanto a outra experimentou o violoncelo. Todo feito para dar prazer aos pais.
O começo do fim da minha pequena família. A minha mulher, que nem queria ir ao exílio porque, como referi na Introdução, no Chile estava bem, entrou em depressão, da qual curou pelos cuidados do nosso amigo analista, Martín Cordero, esse amigo psiquiatra que examinou ao ditador Pinochet e conseguiu advertir que ele estava mentalmente activo e são para entender um julgamento, que percebia factos e os podia explicar, diagnóstico relatado mais em frente deste texto. As pequenas iam crescendo, como tenho relatado. O dia que Paula foi púbere, aos 11 anos de idade, diz-me: “Dad, nem penses que vás-me buscar ao Park Side Secondary School, é para pessoas grandes, e se tu vás, vão pensar que sou pequena e não gosto!”.
Evidente, respeitei o seu desejo e, no primeiro dia em que estava a sair do seu colégio, eu fui na minha bicicleta a espreitar de longe, onde que ela estava e como estava. Como é evidente, ela viu-me, os sítios são pequenos, virou-me as costas e continuou a falar como se nada tiver acontecido. Apenas, que, à tarde, disse-me “Dad! You did not respect my request, as you went to fetch me”. A minha resposta foi simples: levantei as mãos e respondi: “Guilty as charged” Entre nós, sempre falávamos em inglês para habituar as pequenas a tantas línguas aprendidas e desaprendidas por causa do trabalho de observação participante do pai.
Desde muito novas, tentamos que elas tivessem força para confrontar a vida e destemidas para esse confronto entre classes diferentes, e respeitar a diferença, à Babeuf: todos somos iguais, excepto os diferentes, que é preciso respeitar. Em Vilatuxe, Paula começou ir a Escola Local, denominado Grupo Escolar de Vilatuxe, por ter crianças de várias aldeias, trazidas de autocarro desde sítios distantes.
Ao conhecer como era a escola e ao perceber o que entediam de mim, especialmente porque um professor era o meu amigo da alma Manuel Pichel e Maria da Luz Barreiro, a sua mulher, amiga da minha mulher, Gloria, tinha-me solicitado dar conferências aos docentes do Grupo Escolar, conferências que eu protelei para que a minha filha não fosse ter tratamento especial. E não teve. Falei com a sua Professora, Doña Conchita e pedi que esquecera quem era o pai dessa criança, o que ela fez tão bem, que um dia chegou Paula a casa toda cansada e vermelha. Perguntei em inglês, porque tentamos manter a língua do país de acolhimento, a Grã-bretanha, viva na sua mente, o que era quase impossível: Paula falava Castelhano de Castela, denominado por todos Espanhol, com todas as eses e zetas sibilantes da língua Castelhana, mas ainda, com palavras portuguesas. Não dizia Dad, nem papá, no chileno castiço dizia: “Papaito”, como as suas amigas galegas. Não dizia fechar a porta, usava as duas palavras que o luso-galaico tem: fechar e trancar em português, “Cerrar e pechar” em luso-galaico. A minha mulher ficava desesperada e dizia: “No hables así, es tan feo!”. Nada, não havia remédio, a sociabilidade proverbial de Paula a fez aprender todas as línguas que hoje fala. Bom, para acabar essa história, Paula apareceu zangada e calada. Perguntei o que se passava e ela diz: “ Es mi problema, lo resuelvo yo, como me has enseñado” Curiosa, era a nossa filha, fui falar ao Grupo Escolar e a dita Doña Conchita, contou-me que Paula tinha sido punida por não saber o Pai Nosso, de joelhos no chão de cimento e as mãos abertas em cruz, com livros nas mãos. Não consegui ser calmo, porque o que mais me doía, não era apenas a minha filha punida, bem como o trato dado às crianças todas....por serem ....rústicas e que os rústicos sabiam aguentar....Lancei uma homilia a docente primária, que os rústicos eram assim, porque eram mal tratados por pessoas vistas com os deuses que todo o sabem. Ela ripostou: “Don Raúl, si hasta los padres de los niños nos piden que los castiguemos!”. Pois era, porque os rústicos, como eram denominados, nunca tinham sido ensinados a criar aos seu filhos. Aliás, rústicos ou não, ninguém tem sido ensinado a criar aos seus filhos ou descendente. Criar crianças, é uma inspiração, é uma maneira, diria eu, aprendida dentro da família alongada, é um saber retirado da interacção do grupo doméstico de origem, como é referido por Meyer Fortes , no seu texto de 1938. Diz Meyer Fortes que a criação de uma criança deve ser feita sempre pelos seus adultos, bem como que para ensinar, era melhor associar os novos conceitos às actividades por eles desempenhadas na sua vida quotidiana. Não era apenas das ideias de Meyer Fortes que me orientavam na educação das nossas crianças, bem como as nossas conversas, porque Meyer era um quase avô das minhas filhas quando eram pequenas, uma tipo de sogro para mim. A falta de adultos era muito triste, porque os nossos adultos orientam-nos na educação dos nossos descendentes e na solução de problemas que, os mais novos, nos colocam.
Como foi o caso de Camila e a sua decepção com a sua professora da Escola Primária à qual assistia na Grã-bretanha, escola confessa de ser anglicana e denominada St Paul, em inglês. St Paul’s, ou Escola de São Paulo em português, inaugurado o novo prédio pela Bispo de Canterbury em Inglês, ou Cantuaria, em Português, como refere a placa da inauguração dedicada ao Bispo de Cantuaria, quem manteve o nome de Escola de St Paul, escola ou Primary School na rua de St Paul, onde a escola tinha sido construída. Paula foi a primeiro em assistir a essa escola, após ter estado, ao começo dos anos 70, antes de irmos para Galiza, na Escola Primária de Chesterton Road. Nunca esqueço o dia que Paula foi, levada por nós, Gloria, a pequena Camila no seu carrinho de bebé, comprado especialmente para ela,- o de Paula tinha ficado no Chile da ditadura -. Bom, esse dia, levamos, todos temidos, porque era muita mudança de língua e estudos para uma rapariga de 6 anos, que tinha estudado no Chile de Allende as sua primeiras letras aos cinco anos, para passar nesse dia a uma escola estrangeira, a falar apenas inglês, normal para britânicos, muito diferente para nós os pais e para a nossa amiga Maquela de Floto. Entrei à escola para explicar a professora que Paula era um caso especial e que devia ser tratada com simpatia e amabilidade e muita gentileza, por causa de...a professora não me deixou acabar e diz-me: “ The first day at School is spetial for most young parents, please, leave us, I know what to do”. Persistente até a arrogância, tornei a entrar e deixei o nosso número de telefone, caso o caso for....E mais nada, a professora tornou a repetir: “There is no need, but if you are not calm, the girl is going to cry again”. Sai envergonhado. O caso era que tínhamos feito uma experiência de colocar Paula num infantário perto de casa e ela não queria ficar. No primeiro dia, Gloria a levou e a troce de volta porque Paula, toda perdida entre tantos mundo e línguas diferentes, chorava e não queria ai ficar.
No dia a seguir, eu e fiquei com ela o dia inteiro, ou, mais bem, a manhã toda e Paula estava calma por ver ao seu pai, mas, mal sai, ela correu trás de mim e foi o fim do seu infantário, o que me transtornou imenso. Às noites, a nossa filha chorava imenso e queria ir para o nosso quarto e dormir na nossa cama, mas Gloria leva-a de volta para a sua cama no seu quarto e, a pouco e pouco, Paula aprendeu a se habituar a sua autonomia, duramente conquistada por ela, com o apoio dos pais, especialmente a firme atitude de Gloria, que me ensinara a mim como devia ser tratada uma criança. No meu eterno romance da vida, sentia-me culpado por elas estarem nessa situação! Paula. Esse foi o facto a me empurrar na minha consciência de pai novo e sem família, a falar com a sua professora nesse primeiro dia da escola para Paula. Andrés Flotto, hoje médico, estava também nessa escola e estava com problemas, como toda criança no seu primeiro dia de aulas, entendo hoje, passados os anos da nossa juventude de pais. Assim, nos três adultos e Camila na sua carrinha de bebé, entramos na nossa casa, colocamos o telefone sobre a mesa....à espera de um telefonema que nunca mais chegava! Maquela foi tratar do outro filho, nós da nossa outra descendente....sempre a espera de ser as 15.30, para ir procurar a nossa primogénita., que saiu toda sorridente e feliz, rodeada de outros amigos que adoravam ouvir outra língua e saber que não era a deles! Foi assim que Paula triunfou e nós ficamos calmos e começamos convidar crianças para a nossa casa, assim a nossa pequena aprendia mais inglês.
No dia de deixar Chesterton, fomos para a Galiza, a volta estava a nossa espera a nossa casa de Bateman St 53, à que Gloria não queria entrar: estava suja, húmida, com mobília nada apropriada para o seu gosto e solicitou-me se podia ir para a nossa antiga de Chesterton Rd, o que eu fiz, mas a casa estava alugada e não havia maneira. Aliás, não tínhamos cumprido o contrato com a proprietária, que, ao alugar essa casa, perguntara: “Are you going to stay here for long? If you don´t, I cannot lease you the flat” Eu sabia que, em breve, devíamos ir para um outro país. Fiz um denominado esquecimento mental e disse que era por muito tempo. Foi preciso fazer o exercício de fechar a mente à verdade, conceito retirado dos catecismos católicos que referem que não é mentir esse referir um facto que vai acontecer ao contrário do falado, e, ainda que não católico, era da cultura cristã e não gostava desviar a intencionalidade dos factos, como falam os referidos catecismos. Precisava de uma casa para a família, que, entretanto, estava em Sussex, com os nossos amigos Vio, já referidos, os dias mais leves e felizes da nossa estada na Grã-bretanha, no ano de 1974. No dia que íamos para a Galiza, dias antes, melhor, falei com a proprietária e ofereci trespassara casa para amigos nossos porque, por causa do meu trabalho, devíamos ir embora. Ela disse que eu tinha mentido, que ela tinha direito a cobrar um ano de aluguer por rompimento unilateral do contrato, mas...tínhamos sido boas pessoas, nunca fizemos barulho, etc., etc., entre os factos narrados por ela foi o do Ano Novo passado no seu andar e termos morado a gostado da Escócia, a sua terra. E não foi preciso pagar nada! Felizmente!
A seguir foi a já narrada Galiza, e a escola de St Paul's , que Paula também atendeu, muito temida por causa da língua e de colegas dela não ser amáveis. Chorava imenso, mas, já mais sabido em assuntos de criação, a nossa resposta foi breve: “That’s a problem that you have to resolve, otherwise, you shall never be independet” E Paula resolveu, ao mudar a sua carteira para o pé da carteira de Nicholette Barnett, filha da nossa amiga, a médica Carol Barnett , amiga conhecida por mim ao aderir ao denominado movimento
Ante Sexista, ou Anti-Sexism em inglês que tomava conta das uma menina simpática e amiga e tornou esse dia a casa feliz e sorridente. Mais um problema resolvido, dentro desse malfadado exílio nosso, que as crianças e a minha mulher, tentavam resolver. Era essa a escola na qual Camila teve que resolver um problema com a sua professora, Miss Cathy Pompa. Aprendida já a minha situação de pai, o meu papel de ser pai, empurrei a Camila para organizar um encontro com a sua professora, o que ela fez e ficamos combinados com o Head Master ou Director, Mr Bennet e Cathy Pompa, para um dia à tarde. Mal chegamos lá, Camila olhou para mim e disse “Dad?”, convidando-me a falar. A minha resposta foi breve. “I’m here to support you, but this is your problem to be resolved by you”, e Camila resolveu e começou, nos seus 5 anos, a sua autonomia….Camila esteve durante dois anos no primeiro ano, era preciso ter 7 anos de idade para entrar nos trabalhos procurados para essa suposta primeira vez de entrar a escola. Digo suposta, porque Camila com cinco, já lá estava. Camila começou a aprender as primeiras letras aos 5 anos, no ano de 1979, quando eu estava a acabar de redigir a minha tese de doutoramento. Mas, começou em computador, esses aparelhos que não existiam para as minhas pesquisas e redacção de tese. Havia apenas a máquina de escrever, começada a ser usada por mim desde os meus 14 anos. Um dos motivos que nos levara a matricular Camila na Escola, era que ela assistia às actividades do denominado Play Group, mantido pela Universidade de Cambridge, mas que devia ser pago cada três meses por nós, os pais. Era dispendioso para nós, de entradas baixas em dinheiro efectivo. No entanto, a educação das filhas era-nos importante. Camila ia ao Play Group para aprender inglês e para libertar a minha mulher dos trabalhos de criar as pequenas, o que cansavam imenso a Gloria, especialmente por causa de mim, sempre ausente, como fiz em Compostela, estava sempre na Biblioteca ou no meu novo e individual Gabinete do Departamento de Antropologia. Individual não era, partilhava com Chris Hann e com o hoje docente da Universidade de Malta, o Doutor Paul St Cassia .
Notas:
OS CONCEITOS DE FAMÍLIA, QUE SÃO IMENSOS, ESTÃO NO SÍTIO NET: HTTP://WWW.GOOGLE.PT/SEARCH?HL=PT-PT&Q=CONCEITOS+ORGANIZA%C3%A7%C3%A3O+FAM%C3%ADLIAS+USADAS+EM+ANTROPOLOGIA&BTNG=PESQUISA+DO+GOOGLE&META= , ESPECIALMENTE NO TEXTO DE 2003, DA AUTORIA DA PSICANALISTA WALKIRIA L. C. SCHOGOR
página web: http://www.symbolon.com.br/monografias/veneno-e-remedio.doc O texto é denominado: Um olhar simbólico sobre a casa lar: veneno e remédio. Também, no texto citado de Sir Jack Goody, Domestic Groups, no texto meu editado pela Xunta de Galiza, e no livro de Brian O’Neill, editado pelas Publicações Dom Quixote em Português, e pela Editora de Cambridge, CUP: Proprietários, lavradores e jornaleiros, 1984, sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&sa=X&oi=spell&resnum=0&ct=result&cd=1&q=Brian+O%27Neill+Propriet%C3%A1rios,+Lavradores+e+Jornaleiras&spell=1 ou a página Web do seu CV DáGois http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=5072228070267150 , e em João de Pina Cabral:1986: Sons of Adam, Daughters of Eve, Clarendon Press, Oxford, edição portuguesa na mesma colecção Dom Quixote, Filhos de Adão, Filhas de Eva. Uma visão do mundo camponesa no Alto Minho, sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&sa=X&oi=spell&resnum=0&ct=result&cd=1&q=Jo%C3%A3o+de+Pina+Cabral+Filhos+de+Ad%C3%A3o,+Filhas+de+Eva&spell=1 e página Web com comentários sobre a obra do autor referido: http://www.acvl.pt/titulos.php?seleccao=aut&id=516 Os meus já estão referidos. Os conceitos de família são complexos e, como comenta João de Pina e Cabral, era necessário alinhavar os conceitos para ter uma mesma expressão para todos eles e na a heterogeneidade que usamos hoje.
Para saber mais do que tenho dito sobre o PR, ver o texto em pdf de Elisa Campos Borges, de 2007: O movimento operário no Governo de Salvador Allende (1970-1973):
O caso dos Cordones Industriales, texto completo no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Partido+Radical+UP+1973&btnG=Pesquisar&meta= página Web em pdf: snh2007.anpuh.org/resources/content/anais/Elisa%20de%20Campos%20Borges.pdf - Este artigo é fruto do projecto de doutorado apresentado ao programa de pós-graduação em História Social da Universidade Federal Fluminense, Brasil.
Batik, a sua definição e a sua técnica, em: http://www.batik-art.nl/po/ , que refere que “Batiks são tecidos que são feitos principalmente para a fabricação de roupas na Indonésia e entre outros países como Malásia, Tailândia, etc. Esta tradição, que já existe há séculos, tem multiplicado o número de artesões que passaram a arte de geração em geração. A tradiçao se evoluiu tanto, que se iniciou a fabricacão de tecidos especialmente para a decoração em forma de quadros
Este Embaixador, esteve também em Portugal a seguir o dia 25 de Abril e o Presidente da Junta de Salvação Nacional que derrubou ao Salazarismo, Vasco Gonçalves, teve que solicitar com amabilidade que era preciso mudar de Embaixador, referido no sítio net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&sa=X&oi=spell&resnum=0&ct=result&cd=1&q=Embaixador+Americano+Chile+Allende+Carlucci&spell=1 e na página Web, onde há um comentário da imprensa de alto interesse para o que aconteceu ao Chile de Allende e ao Portugal de Mário Soares. O texto do jornal on-line, Observatório da Imprensa, reproduz um artigo denominado: “Kissinger vs Maxwell, Censor da mídia, falsificador da História”, escrito por Por Argemiro Ferreira, de Nova York em 8/6/2004
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=280MON001
Não resisto referir um parágrafo apenas: O mundo suspeita de que não passa de um criminoso de guerra. Ele próprio está consciente, desde que deixou Paris à pressa para fugir à intimação de um juiz para depor, consciente, digo, de que já não pode circular livremente fora de seu país. Mas dentro dos EUA, Kissinger tem inacreditável influência e o estranho poder de censurar – como acaba de fazer mais uma vez, agora tendo como alvo o historiador Maxwell. Foi Kissinger quem enviara a Carlucci, quer ao Chile, quer ao Portugal liberto de Soares.
A página web http://avozportalegrense.blogspot.com/2006/09/nuno-rogeiro-e-o-chile.html diz, entre outras materias: “O clima conspirativo era palpável. Henry Kissinger e Frank Carlucci são acusados de conspirar contra Allende, a missão naval dos EUA em Valparaíso mantém contactos estreitos com a Armada chilena (tida como o ramo mais conservador, ou antimarxista), a CIA gasta 8 milhões de dólares em subsídios à imprensa, partidos, rádios, sindicatos (segundo alguns dados, a contribuição soviética, entre 70 e 73, cifra-se em 650 milhões), começam as marchas das “donas-de-casa” contra a escassez de bens, que se tornam famosas pelo uso de panelas e colheres como instrumento sonoro, há greve geral dos camionistas, mas Régis Debray, solto pelo regime boliviano, confessa que teme mais “o aburguesamento da revolução do que um golpe militar”. Retirado do Jornal on-line A Voz Portalegre
O texto está em inglês, não consegui encontrar um em Português, mas estou certo que os leitores saberão procurar ao citar o sítio Net e a página Web de Carlucci, história, aliás, muito conhecida por nós todos, mas que é melhor com provas que apenas uma conversa de café: sitio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Frank+Carlucci+&btnG=Pesquisar&meta= , página Web da Wikipédia: http://en.wikipedia.org/wiki/Frank_Carlucci
Fortes, Meyer, 1938: “Sociological and psychological aspects of education in Taleland”, em África, volume XI, Nº. 4, Londres. O texto é difícil de encontrar. Foi preciso fotocopiar as quase 150 páginas do texto, editado em Londres, MacIntosh, mas referida no sítio net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Meyer+Fortes+1938+Sociological+and+psychological+aspects+of+education+in+Taleland&btnG=Pesquisar&meta= Paou a ser livro em 1970, publicado por Sage Publications, Londres. como é referido na página Web: http://jbd.sagepub.com/cgi/content/refs/29/4/282 ou, ainda, na página web do sítio Net, referido nesta nota: links. jstor.org/sici?sici=0003-1224(197110)36%3A5%3C905%3ATASSAO%3E2.0.CO%3B2-C ou, ainda, a referência da publicação: http://links.jstor.org/sici?sici=0003-1224(197110)36%3A5%3C905%3ATASSAO%3E2.0.CO%3B2-C
Carol Barnett é referida no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Physician+Carol+Barnett+Cambridge+UK&btnG=Pesquisar&meta=
O Movimento denominado em inglês da maneira referida no texto, era mais uma forma de entender e me adaptar à cultura Britânica e aprender comportamento masculino não paternalista com as mulheres enm patriarcal. Proferí uma conferência na London University, London School of Economics, comentado por uma colega de outra Universidade Británica, a que, ao ouvir o meu texto, disse que era o texto mais sexista que tinha escutado em muito tempo, paternalista e contra as mulheres. O texto ficou com elas e foi publicado, após correcções, por Bárbara Bradby como coordenadora, da Universidade de Manchester, mais tarde transferida ao Trinity College de Dublin na República de Irlanda.Referida no sítio Net: http://www.tcd.ie/sociology/staff/ O meu texto foi publicado na Revista do Movimento, referida no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Anti-Sexism+Movement+Publications+UK+&btnG=Pesquisar&meta= Publicação, entre outras minhas da Grã-bretanha, referida, sem texto, no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Raul+Iturra+Publications+in+Great+Britain&btnG=Pesquisar&meta= O Movimento está referido no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Movement+Anti-Sexism+UK&btnG=Pesquisar&meta= e um artigo sobre o ante sexismo, de David Bartlett, do grupo ante sexista Achilles Heel Collective, proprietários dos direitos de autor, e pode ser lido na página web: http://www.achillesheel.freeuk.com/article08_18.html Bábara Bradby é referida no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt- PT&q=Dr.+Barbara+Bradby+Dublin+College&btnG=Pesquisar&meta=
Quem sabe destes assuntos, é Anália Torres, especialmente
Quem sabe destes assuntos, é Anália Torres, especialmente no seu livro de 1996, em formato de papel, oferecido por ela a mim: Divórcio em Portugal. Ditos e Interditos, editado pela Celta Edições, Oeiras. Referido no sítio Net: http://links.jstor.org/sici?sici=0003-1224(197110)36%3A5%3C905%3ATASSAO%3E2.0.CO%3B2-C e recenseado por Andreia Fernandes Silva, recensão da Revista de Sociologia, página Web: http://www.recensio.ubi.pt/modelos/recensoes/recensao.php3?codrec=33
Paul St Cassia é referido no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=+Professor+Paul+St+Casia++University+Republic++Malta&btnG=Pesquisar&meta= , como o académico que retornou a Malta, após um exílio imposto sobre ele por ser membro de movimentos ideológicos nada convenientes para a Republica. É possível perceber que o Departamento era um sítio de asilo para muitos d nós, a começar pelo Catedrático e o anterior, ainda connosco, Meyer Fortes. Cada um de nós tinha a sua mágoa!
(Continua)
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
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