coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (24)
por Carlos Durão
(continuação)
Ângelo Cristóvão Angueira: “Deve deixar-se bem claro que, apesar de manipulações políticas, o galego não é nem será nunca uma língua regional da Espanha [...] Não é uma língua minoritária, pois é falada atualmente por cerca de 200 milhões de seres nos cinco continentes./ A nossa língua é, sem embargo, minorizada no território administrativamente espanhol. Neste jogo da minorização a primeira culpável é a consideração do galego como língua diferenciada da portuguesa [...] Esta auto-exclusão, denominada na Galiza isolacionismo é, sem lugar a dúvidas, o intento histórico mais elaborado do regionalismo espanhol por suprimir definitivamente a comunidade lusófona da Galiza, reduzindo o problema ao nível das denominadas “minorias linguísticas da Europa” [...] / O problema da língua portuguesa na Galiza não é, pois, exclusivo domínio dos linguistas e filólogos universitários espanhóis [...] nem das universidades galegas: é também, em boa medida, assunto da comunidade científica internacional e responsabilidade moral e legal dos Estados em que se fala qualquer das variantes da nossa língua. Dentre eles, nomeadamente, a República Portuguesa” (1991, 19-28: 387); “o nacionalismo galego compartilha a ideologia espanhola. Começando polos aspectos mais patentes, “recebe” a distribuição territorial da Galiza nas quatro províncias espanholas [...] Também o nacionalismo galego não tem claro se a Galiza fala português ou galego, como língua diferente, como se evidencia nos intentos de elaborar uma “nova” ortografia para o português da Galiza em vez de tomar singelamente o português comum” (1989, II: 747); “a disputa sobre o modelo de língua para o português da Galiza só pode resolver-se com a aceitação generalizada das convenções gráficas da língua comum, e a assunção do discurso da unidade como garante da unidade e do futuro, conjugado com o reconhecimento das pronúncias, os sotaques, as especificidades lexicais e também, se for o caso, verbais, que têm o seu lugar de expressão privilegiado na literatura” (2006: V); “Se o português é língua nacional é porque existe a Nação Portuguesa. É evidente. O que não resulta tão evidente para alguns nacionalistas galegos é que a única nação galega que existe se chama Portugal, e que a nação galega não existe propriamente. A nossa afirmação não necessita demonstração. O que é preciso provar é justamente o contrário, que existe a nação galega, quer diferenciada da portuguesa, quer diferenciada da espanhola.[...] Se preferível, dir-se-á que não há uma nação galega diferente da nação portuguesa, dentro do território político espanhol [...] É claro que os galegos, considerados no território político espanhol, isto é, as quatro províncias da Corunha, Lugo, Ourense e Ponte-Vedra, mais os territórios limítrofes desagregados em 1833, constituímos una nacionalidade com características étnicas e nomeadamente lingüísticas, diferenciadas, o que até é reconhecido de alguma forma pola legalidade vigente espanhola emanada da Constituição de 1978. Mas a respeito de Portugal, tais características poderiam considerar-se simples e lógicas diferenças regionais, esperáveis em todas as culturas. Assim pode e deve afirmar-se que nada do que os galegos temos de essencial e definitório, em cultura, língua, tradições, etc., é alheio aos portugueses, apesar de ter sido tamisado ou deturpado -que não “livremente evoluído”- através da história e a influência castelhana./ Não existem razões de peso para defender a promoção de uma nação galega diferente da portuguesa” (1991, 26: 239); “língua galega ou portuguesa” (1988, 14: 157); “Pretendemos uma instituição nacional galega criada por iniciativa da sociedade civil, independente dos organismos do estado. Uma AGLP presidida por princípios de responsabilidade e rigor no trabalho, integrada por aquelas pessoas que mais têm apoiado a lusofonia galega, através de diversas formas como a docência, a investigação, a criação literária ou o ativismo cultural. Uma entidade que recupere e ponha em valor o nosso património linguístico e literário, ora maltratado, ora esquecido, ora deturpado” (2007).
Fernando Vázquez Corredoira: “Pode-se formular, como princípio geral, que o carácter distintivo e delimitador da ortografia é singularmente evidente nas situações de contacto linguístico em que os utentes de uma das línguas sentem a necessidade de marcar a distância em relação à outra e que esta necessidade é tanto mais premente quanto menor a distância estrutural entre as línguas em contacto” (1998: 11).
Xavier Vilhar Trilho: “A codificação espanholizadora do galego nega-lhe a este o caráter de língua nacional na medida em que o converte numa simples língua “regional” do Reino da Espanha, num dialeto do espanhol, numa espécie de castelhano antigo ou de português aldeão. Esta normativização, que isola o galego do português, desintegra o galego, ao desagregá-lo da comunidade linguística lusófona, da que faz parte, e ao facilitar a conversão do mesmo num dialeto do espanhol. A estandardização espanholizadora do galego priva ao galego da função de língua de cultura na medida em que o desvincula da própria tradição cultural dos cancioneiros líricos medievais galego-portugueses, na medida em que também o desliga da literatura portuguesa e brasileira (a forma mais culta, mais “cultivada” do galego), na medida em que não se serve do léxico científico já acunhado no português, que segue a orientação erudita das restantes línguas românicas.” (2003) “O reintegracionismo e/ou lusismo ortográfico não precisa de intervenção dos poderes públicos autonómicos para se impor socialmente. Ao lusismo ortográfico bastar-lhe-ia usufruir na Galiza de condições de igualdade com o oficialismo isolacionista, viver com ele numa situação de competência não desleal, sem discriminações legais, para se consolidar socialmente, porque não esquece que o passado do galego são os cancioneiros líricos medievais galego-portugueses e sabe que o seu futuro está na lusofonia” (1994, 35-40: 160).
(continua)
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