quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

VerbArte - A Arte (2) (Uma visão pessoal)









Adão Cruz

Desde as expressões artísticas anteriores ao século XX, passando por todas as correntes artísticas do século XX anteriores à Segunda Guerra Mundial, até aos movimentos artísticos contemporâneos, todas as intervenções procuram apoderar-se e assenhorear-se da Arte como sua definitiva herança ou conquista final. Dentro da Arte moderna, quer tenha sido no Realismo, no Impressionismo, no Simbolismo, no Expressionismo, no Abstraccionismo, no Surrealismo e outras, qualquer artista, abraçando uma qualquer destas formas de expressão, ter-se-á sentido, porventura, na recta final do caminho da arte.

O mesmo se dá na Arte Contemporânea, em qualquer dos seus ramos, Pop Art, Minimalismo, Arte conceptual, Performances, Instalações e outras. Muito pequeno sentimento artístico revela quem assim pensa ou quem assim se comporta, desconhecendo que a Arte, como sentimento, é universal, intemporal e transversal ao longo dos séculos. É o mesmo que pensar que a ciência, a despeito da actual magnitude da ciência da evidência, não foi sempre ciência e sempre mãe do conhecimento e do desenvolvimento.

Arte Conceptual, por exemplo, pode usar meios e materiais não directamente relacionados com as artes plásticas, como o vídeo, projectores de slides, fotografia, mas não pode pôr em causa o conceito de Arte, insistindo que é na imaginação, no idealismo, na ideia geradora, no conceito, que a Arte prevalece, de forma exclusiva, sendo a execução apenas um fenómeno dela decorrente. Apesar de eu considerar, como veremos adiante, que a morada da Arte está na ideia e na mente, chegar ao exagero de aceitar a obra como um sub-produto acidental do salto imaginário, é uma forma redutora. Muito provavelmente continuará sempre a haver em qualquer ideia e em qualquer expressão concreta um elemento surpresa, uma originalidade ou um golpe de génio que revolva outras ideias e outros pensamentos. Uma simples mudança de cor ou de forma pode exprimir imediatamente estados emocionais completamente diferentes.

A Arte é muito pouco analítica e programável. Por outro lado, dentro da Arte Conceptual e em nome da independência do artista e da sobrevalorização da exclusividade da ideia, proliferam excessos e banalidades, por vezes premiados e aplaudidos como processos de rebeldia e que não passam de frivolidades ao sabor da ordem estabelecida, levando à confusão entre a verdadeira criação e aquilo que se diz novo. Com a agravante de o artista, muitas vezes senhor de mentalidade banal, hiperbolizar a obra com conceitos e considerações de filosofia barata e legendas ridículas, pretensiosamente sábias.

2 comentários:

  1. Conto sempre esta história.Percebi a pintura a partir da altura em que compreendi a "Guernica", as dores, os gritos, o medo, a obra da "besta", o que não quer dizer que não me emocione perante um belo quadro com um ramo de rosas.

    ResponderEliminar
  2. Caro Adão,
    Há excepções, mas também não vou muito à bola com a chamada "arte conceptual", conceito que reputo de abusivo (até porque, em última análise, toda a arte é conceptual - os tais 99% de suor...) e que acaba por incluir projectos e percursos artísticos que dificilmente absorve, apesar do abuso. Cá p'ra mim, na minha insuficiência teórica, a arte conceptual nasceu com Duchamp e morreu com ele, andando uma quantidade de gente (artistóides, criticóides e academóides) a alimentar-se, há décadas, dos vermes do honrado cadáver, em vez de lhe darem um enterro condigno, com apropriado elogio fúnebre.
    A curtíssima história do Luís Moreira é muito bonita, comovente e elucidativa, porque mostra como uma arte que, aparentemente, se torna de compreensão (e aceitação) menos "imediata", quando se afasta dos cânones estabelecidos até finais do séc. XIX, continua a ser apreensível através dos seus primeiros (e fundamentais) graus de comunicação com o espectador: a emoção, a forma e a narrativa.
    Paulo Rato

    ResponderEliminar