segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

VerbArte - Dois poemas de Ethel Feldman


Inverno


Neva na montanha. Em cada vale o abismo tenta a felicidade de quem se perde pelo caminho.
Gritam as gaivotas no alto mar.  Fogem as raposas do caçador.
O Outono ambienta o Inverno. Um colibri descobre-se fora da estação. Perdido, alivia o canto.
Na casa amarela o branco dá conta da cor. Dentro dela, um homem sozinho lamenta o engano. 
Adormece, alivia a dor.  
Acorda, pede socorro.
Lá fora, neva. 
Em cada vale, um rio congelado.
Rema o pescador contra corrente, inventa o isco, mata o peixe.
Fogem as raposas, silencia o colibri.
Uma folha amarela molhada de neve.
Uma flor que não se descobre. Nasce o sol em cada manhã. 
Escorrega a neve, pesada de tanto nevar.
Excesso que atormenta.
Foge o peixe da morte certa.
Uiva o lobo com fome.
Uma ovelha desgarrada, grita.
Nascem  meninos com frio.
Primavera que tarda.
Monta o cavalo a fémea em hora de fome.
Relincha a égua a violência.
Nasce o pobre.
Sacrifício que não se sustenta.
Na beira da estrada, uma vala.
Em todas descobre-se lama.
Na beira do rio um barco sem dono.
Abandonado
Um homem morre.
Desperta na Primavera.

Madrugada
Canta a cigarra. Desce a colina sem pressa. Inventa o passo, adorna o compasso. Equilíbrio descontinuado. Sonha com a Primavera. Sorri da desfeita do tempo. Um dia nasce o sol, noutro vive apagado.


Abraça nos bares, o corpo do viajante. Um passo atrás dita o bom senso. Um passo à frente, adivinha o horizonte. Enquanto dorme, acorda. Enquanto canta, chora. Preguiçosa se entrega na madrugada. Suores a lembrar a montanha. Solitária descobre-se do outro lado.
Canta cigarrra
Canta
que o mal espantas.
No pântano nasce outra flor.

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