segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

VerbArte - Quinta dos Três Castelos









Adão Cruz


Em complemento do post de minha irmã Eva Cruz sobre a Quinta dos Três Castelos em Coimbrões, peretencente a um tio de minha mãe e onde ela viveu a sua mocidade, segue este pequeno poema que lhe fiz, quando, pelos seus oitenta e tal anos a levei a visitar a quinta, toda em ruínas, onde vivia uma família de ciganos. O poema nasceu quando vi a velhinha agarrada ao portão, a gabeça entre as grades, reflectindo nos olhos a mais inesquecível e profunda expressão de saudade que até hoje me foi dado observar).


Mãos secas pegadas à idade das pedras
a cabeça de ontem nas grades ferrugentas de hoje
olhos molhados num olhar mendigo a tempos de outro tempo.

Dentro da quinta em ruínas no meio de silvados urtigas e ervas daninhas
anos e lustros a caminho de séculos.

Os olhos de minha mãe cheios de outroras e lágrimas mostram-me todas as lágrimas do mundo nas lágrimas de tudo o que se verte em lágrimas
por dentro e por fora do tempo.

Restos de um lago seco entulhos e restos esqueletos de cameleiras
escadas sem fins nem degraus portas e janelas esventradas de foras e sombras.

Mãe
que o sol se lembre de nascer onde o carinho é poema e onde o amor e o mar se tocam dentro de uma gota de orvalho.

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