Augusta Clara de Matos
Um dia percebi que as palavras me andavam a trair. E não só as alheias. As minhas amigas e fieis palavras, as minhas próprias palavras tinham-me traído. E calei-me. E juntei-me ao silêncio.
Mas, também, ele me traiu e não resolvi o problema. Fiquei atenta e ouvi o silêncio falar muito mais do que as palavras. É tão eloquente! E quando elas, as palavras, o querem disfarçar, ele faz-lhes um manguito: “Cumpram a vossa missão que eu cumpro a minha”.
As palavras não são capazes de falar pelo silêncio, nem o silêncio por elas. Não há escapatória, tudo passa por um ou por outras. Foi só escutar o silêncio porque a elas, as palavras, já não as consigo ouvir. Têm um buraco no meio, estão ocas. Perderam a essência, o coração. Já não têm força nem cor. São pálidas sombras do que foram, as palavras. As minhas palavras.
Talvez debaixo da tecla do delete, com algodão nos ouvidos.
Muito bonito, muito bonito, Clara. Também eu sinto a falta de palavras novas, cheias, e também eu sinto a magia do silêncio quando entre elas ele se aninha. Um beijinho
ResponderEliminarLindo, Clara.
ResponderEliminarUm beijo para vocês, meus queridos.
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