sábado, 1 de janeiro de 2011

As duas independências de Cuba

Carlos Loures

1 de Janeiro é o dia em que os cubanos comemoram a independência relativamente à tutela de Espanha. O primeiro governo nacional, o de José María Gálvez Alonso, foi empossado em 1 de janeiro de 1898. Faz hoje 113 anos. No entanto, este governo que culminava uma guerra de dez anos contra a potência colonial, não significava uma verdadeira independência - Cuba fora ajudada pelos Estados Unidos e, na verdade, o que se passara com a derrota espanhola fora uma mudança de tutela. Agora, os donos de Cuba eram os Estados Unidos.

Na guerra, várias tendências se haviam consolidado – os autónomos, de Rafael Montoro, os reformistas, de José Antonio Saco, e os separatistas de José Martí, os únicos que aspiravam a uma verdadeira independência. Foi nesse sentido que Martí organizou o Partido Revolucionário Cubano. Porém, Martí morreu em 19 de Maio de 1895 na luta contra as tropas espanholas. Com a entrada dos Estados Unidos no conflito, as coisas mudaram – Espanha não tinha poder bélico para opor aos modernos couraçados que destruíam os navios que da Europa seguiam para as Caraíbas, com uma logística complicada e dispendiosa. Em 1898, Espanha rendeu-se.

O desapontamento dos cubanos pela simples troca de potência colonizadora foi imediato.  Porto Rico e as Filipinas que os americanos tinham «libertado» ao mesmo tempo que Cuba, foram assumidas como colónias norte-americanas por mais tempo, em Cuba as pressão por uma independência verdadeira, levou os Estados Unidos a retirar, mas deixando aberta a possibilidade de uma nova intervenção como forma de "garantir a independência", conforme expresso na emenda constitucional de 12 de junho de 1901, a Emenda Platt. Embora sem ocupação militar (com excepção de Guantánamo. onde instalaram uma base) os norte-americanos continurama ser os donos de Cuba, colocando no poder políticos corruptos e traidores. Até que...


Na madrugada de 1 de Janeiro de 1959, Fidel Castro e as suas forças revolucionárias entraram em Havana e proclamaram a segunda e, desta vez, autêntica independencia de Cuba. Porque, podemos concordar ou não com o Governo cubano, podemos aceitar ou não, as medidas que têm sido assumidas e com a política que tem sido seguida nos 52 anos que hoje se completam, mas do que ninguém terá dúvidas é de que Cuba é uma nação independente, pese embora o preço que os cubanos estão a pagar por essa independência.

Estive em Cuba, pude ver como o povo sofre, fustigado pelo desumano bloqueio económico a
que a ilha está sujeita. Não concordo com a linha política do Governo. Mas, apesar disso, não posso deixar de admirar a dignidade com que um pequeno país resiste há tantas décadas ao cerco que a única superpotência mundial lhes move.

Tantas esperanças que tínhamos em que Obama mudasse as coisas! Os fascistas que ocupam o Pentágono, como sempre, levam a melhor.

Deixo-vos com um poema de José Martí

Cultivo una Rosa Blanca

Cultivo una rosa blanca
En Junio como en Enero,
Para el amigo sincero,
Que me da su mano franca.
Y para el cruel que me arranca
El corazón con que vivo,
Cardo ni ortiga cultivo
cultivo una rosa blanca.

3 comentários:

  1. Muito bom, Carlos. Claro como água. Um abraço.
    Algum dia os EU souberam o que era ética e dignidade? O país mais abjecto do planeta em muita coisa, mas sobretudo no seu comportamento internacional, desde sempre profundamente condenável.

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  2. Obrigado Adão:

    Em Cuba acontecem muitas coisas com as quais não podemos estar de acordo - hé entre os cubanos muitos opositores ao Governo, sobretudo nas grandes cidades . com o Gomes Marques e as respectivas mulheres, fizemos uma inesquecível viagem a Cuba. Pudémos falar à vontade com quem quisemos e houve uma conclusão que tirámos - os cubanos, pró-Governo ou opositores - estão unidos num forte sentimento anti-Estados Unidos.

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  3. Sempre oportuno, Carlos, em cima da hora certa a relatar-nos acontecimentos históricos. Também partilho a desilusão relativamente ao comportamento dos EUA em não permitirem, de uma vez por todas, que Cuba seja um país livre. E lembro, a igualmente excelente, análise de Boaventura de Sousa Santos.

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