domingo, 2 de janeiro de 2011

Direcção de Augusta Clara de Matos



Apresentação




Delícias são tudo o que nos faz felizes. E é para isso que queremos contribuir com esta rubrica do Estrolabio: para espremer a dura realidade e dela extrair as gotas do néctar que, apesar de tudo, contém.

Quando lemos o texto que alguém escreveu, o poema em que os tocados por varinha mágica transformam a dor e a alegria, as cartas que amigos ou amantes trocaram, quando olhamos as imagens que a paleta guiada pela mão dum artista produziu, quando entramos em êxtase através de sublimes sons que nos invadem o éter, o que somos senão felizes?

Ao nosso Jardim vai faltar apenas o que saboreamos e o que tocamos para as delícias morarem todas aqui. Mas mais não conseguimos. Somos, apenas, pobres virtuais. Só esperamos conseguir empolgar-vos de modo a experimentarem no mundo real todos os prazeres que aqui faltarem.

Mas o Jardim tem matizes. Nem sempre nele vai raiar o sol porque nunca isso acontece em lugar algum. Nos dias sombrios, as ameaças e os medos escondem-se em recantos insuspeitos. O que ele vai estar sempre é povoado por vibrações de vida. Disso não tenham dúvidas.

Venham connosco. Tragam as vossas palavras seja qual for a expressão que para elas adoptarem.

Haverá quem nos relate as vivências em Eu li, Eu vi, Eu ouvi, Eu fui; outros afirmarão que Quem Conta Um Conto…; quem vá informar que Hoje Falamos de…; os que nos trazem Boas e Más Memórias, auxiliares para melhor percebermos o mundo e os seres.

Destas e doutras coisas se falará neste sítio: do que vai acontecendo por aqui e por ali, do que a nossa imaginação nos permitir e das delícias que formos capazes de ir encontrando na arrecadação dos tesouros ao fundo do nosso Jardim.

Vamos começar com uma semana sobre a Criação Artística que poderá estender-se caso o interesse pelo tema assim o justifique.

É já amanhã, e será todos os dias às 14 horas que se abrirá o portão. Entrem e vagueiem a vosso belo prazer.

Como preâmbulo, um pequeno excerto de um texto de Carlos de Oliveira:

“Tornam a discutir-se entre nós certas ideias de filosofia da arte que pareciam ultrapassadas ou esquecidas. Debate-se outra vez a velha tese que admitia a gradual cegueira da arte à medida que o horizonte da ciência se fosse iluminando. Examina-se também de novo a “busca do intemporal”. E, coisa curiosa, é possível estabelecer uma ligação entre esses dois surtos, apesar da disparidade ideológica que os suscita. Em boa verdade, se o progresso científico ameaça liquidar a criação artística, porque não tentar salvaguardá-la “au-dessus de la mêlée” no intemporal? A antinomia entre ciência e arte, guerra de alecrim e manjerona mais ou menos fomentada pelo positivismo, pode servir deste modo uma escala de valores completamente opostos. E assim se volta a filosofia contra os filósofos.”

(in Almanaque Literário, O Aprendiz de Feiticeiro, Assírio & Alvim)

3 comentários:

  1. Um Jardim, como o Jardim das Estátuas em Castelo Branco, com os seus recantos cheios de odores e recordações de uma infância cheia de sonhos. Que os sonhos não te faltem, Augusta Clara.

    ResponderEliminar
  2. Se o SAPO não nos comer as plantas, vai correr tudo bem, Luís. Obrigada.

    ResponderEliminar
  3. Já temos uma sapa para ele deixar as flores em paz...

    ResponderEliminar