Sílvio Castro
Com o encerramento da 12ª. Exposição Internacional de Arquitetura de Veneza (29/08 – 21/11 2010), podemos verificar que a sua organizadora, Kazuyo Sejima, conseguiu incorporar novas e convincentes conotações à manifestação veneziana. Com a sua proposta metodológica subordinada ao tema People meet in Architecture, ela demonstrou ser possível fazer uma Bienal de Arquitetura igualmente vista como uma Bienal de Arte: mais do que nunca, a exposição veneziana equilibrou o seu aspecto técnico e especialístico com a presença estética da própria representação. Com isso, a Bienal abriu-se a um público maior de visitantes, 170.000, 38% a mais daquela que visitara a precedente exposição de 2008. Toda essa multidão de expectadores pôde gozar contemporaneamente o lado técnico dos projetos apresentados e a trancrição artística dos mesmos, tudo em grande equilíbrio. Diante dos pavilhões nacionais estáveis na área dos Giardini, ou nas diversas sedes espalhadas por toda a cidade (a exposição de Portugal encontrou sua posição ideal nos espaços magníficos da Universidade Ca’Foscari – cf. o nosso artigo a propósito, neste mesmo blog na abertura da exposição), a inovadora edição de Kazuyo Sejima soube propor para a Bienal de Arquitetura uma nova perspectiva.
O Brasil esteve positivamente representado na grande festa veneziana. Na sede tradicional do estèavel Pavilhão brasileiro dos Giardini, apoiado pelo comissário Heitor Martins, presidente da Bienal de Arte de São Paulo, o curador Ricardo Ohtake mostrou uma fisionomia ampla da arte arquitetônica nacional, tudo a partir da proposta temática “50 anos depois de Brasília”. O crítico paulista soube homenagear dignamente o meio-século decorrido da inauguração da moderna capital brasileira e, ao mesmo tempo, mostrar um amplo quadro das atividades criadoras de alguns dos mais significativos arquitetos brasileiros contemporâneos. Traduzindo a proposta organizativa e em plena lógica com ela, a exposição vem centralizada pelo percurso correspondente da obra de Oscar Niemeyer, para em seguida abrir-se a alguns dos jovens arquitetos de menos de 50 anos de idade, surgidos justamente depois da inauguração de Brasília.
Partindo da obra do Mestre maior da moderna arquitetura brasileira, o curador desenvolve um processo de análise que vai desde os momentos modernistas da operação de Niemeyer, até um possível pós-moderno dos jovens arquitetos selecionados para a ocasião.
A carreira centenária de Oscar Niemeyer (no próximo 15 de dezembro todo o Brasil festejará o seu 103º. aniversário) vem representada desde a pioneira obra do bairro de Pampulhas, de Belo Horizonte, nos anos da década de 40, antecipadora de quanto seria realizado pelo gênio arquitetônico nos projetos da nova Capital, Brasília, visíveis no Pavilhão veneziano com a arquitetura dos Ministérios, do Parlamento, da Catedral de Brasília etc., etc.. A grande criatividade se mostra até obras mais recentes, como o MOM - Museo Oscar Niemeyer, Curitiba, Paraná, de 2002, ou o extraordinário MAC – Museo de Arte Contemporânea de Niterói, Rio de Janeiro, 1993/2007, passando por outros projetos famosos, como aquele da sede da ONU, em Nova Iorque. Com os seus projetos, distribuidos por todo o mundo, Niemeyer transforma a momentânea revolução modernista brasileira em perdurável forma de modernidade artística.
Alargando a perspectiva expositiva, o curador brasileiro apresenta alguns jovens arquitetos nascidos depois da inauguração de Brasília e, como consequência, partecipantes da renovação ocorrida na arquitetura brasileira a partir de 1990 e sempre vigente. Os novos arquitetos em mostra são: Mário Biselli e Artur Katchborian, que trabalham com amplos espaços e volumes, com uso de material e técnicas próximos aos pontos de vista da indústria; Ângelo Bucci, com uma arquitetura que se aproxima muito da escultura, de boa sabedoria artesanal; os jovens arquitetos Daniel Corsi e Dani Hirano (Museo Esplorativo de Ciência da UNICAMP , Campinas, São Paulo, 2009; Casal Globa, 2005); Marcos Bodarini, dedicado predominantemente a projetos para as favelas. Completam o quadro, Gustavo Penna e Mariza Machado Coelho, autores do Memorial da Imigração Japonesa (Belo Horizonte, Minas Gerais, 2007-2009), realizado para a comemoração do centenário da imigração japonesa no Brasil.
A presença brasileira se completou com a sala do Pavilhão Central da Bienal na área dos Giardini com uma preciosa retrospectiva da arquiteta italo-brasileira Lina Bo Bardi, criadora, entre outras obras famosas do MASP, Museo de Arte de São Paulo.
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Vejamos um vídeo sobre a presença do Brasil na Bienal de Arquitetura de Veneza:
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quarta-feira, 24 de novembro de 2010
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Portugal na 12a. Exposição de arquitetura de Veneza
Sílvio Castro*
A “Mostra internazionale di arquitetura” da Bienal de Veneza chega neste 2010 à sua 12. manifestação e continua a lutar para afirmar-se definitivamente em face da sua congênere das Artes, certamente a mais representativa, ao lado daquela do Cinema, nos quadros setoriais da Bienal veneziana. O setor da arquitetura tem sofrido até aqui e fortemente a pouco cômoda posição de setor altenativo, nos anos pares, daquele artístico, sempre esperado com grande expectativa pelo mundo internacional das artes, nos anos ímpares. Porém, lenta, mas seguramente a Exposição Internacional de Arquitetura de Veneza está assumindo posição de grande importância e significado no quadro internacional. A sua 12. edição, do título “People meet in architecture”, sob a curadoria da arquiteta japonesa Kazuyo Sejima, edição inaugurada no dia 29 de agosto passado, com conclusão fixada para 21 de novembro de 2010, denota no alargamento de seu espaço expositivo e nas muitas participações nacionais tal desenvolvimento.
Neste quadro magnífico, Portugal ocupa uma posição muito significativa, seja tanto pela qualidade de seus representantes, quanto pela sistemação do Pavilhão português.
O Pavilhão, um daqueles que se localizam fora da área expositiva tradicional da Bienal, encontrou uma sede de alto prestígio no ambiente da cidade. Trata-se de um espaço do Palazzo Foscari, no Canal Grande, sede igualmente da Universidade Ca’ Foscari de Veneza. O Palácio de Ca’ Foscari é um dos mais prestigiosos exemplos arquitetônicos do chamado gótico veneziano, ao mesmo tempo que impressiona pela grandeza de seus espaços. A Representação portuguesa ocupa uma ala famosa, aquela mesma que hospedou nos tempos também o famoso teatro de Cá Foscari, no andar térreo, com ligações para os andares superiores.
Portugal está representado pelos irmãos Manuel e Francisco Aires Mateus, por Ricardo Bak Gordon, João Luís Carrilho da Graça e Álvaro Siza Vieira. Os cinco arquitetos, mesmo nas marcadas diferenças existentes entre eles, demonstram pelas respectivas obras a alta qualidade assumida pela arquitetura portuguessa contemporânea.
Os cinco estão juntos no projeto que os comissários Júlia Albani, José Mateus, Rita Palma e Julião Sarmento – designados pela Trienal da Arquitetura de Lisboa - denominaram sugestivamente “No Place Like”, reunião de 4 criações exemplares para o crucial problema arquitetônica da habitação. Manuel e Francisco Aires Mateus apresentam o projeto “Casas na Comporta” (Comporta, Grândola, 2008-2010); Ricardo Bak Gordon, “2 Casas em Santa Isabel” (Lisboa, 2003-2010); João Luís Carrilho da Graça, “Casa Candeias” (S. Sebastião da Giesteira, Évora, 1999-2008); Álvaro Siza Vieira, “Bouça”, Porto, 1973-1978, 2001-2006). O programa expositivo do Pavilhão português ilustra todos os 4 projetos através de 4 filmes: Filipa César mostra os magníficos e significativos espaços das “Habitações Sociais”, de Siza Vieira, em Bouça; João Onofre tematiza a casa de Bak Gordon; Julião Sarmento apresenta a casa de Carrilho da Graça; João Salaviza desvenda os segredos da casa na Comporta de Aires Mateus.
A realização global do Pavilhão é de grande eficácia, permitindo aos especialistas o melhor contacto com a parte técnica dos projetos, bem como ao público em geral a dinâmica visão dos mesmos através dos 4 filmes projetados nas diversas salas do magnífico espaço de Ca’ Foscari.
*(Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA e
da Associação Internacional de Críticos de Arte – AICA)
A “Mostra internazionale di arquitetura” da Bienal de Veneza chega neste 2010 à sua 12. manifestação e continua a lutar para afirmar-se definitivamente em face da sua congênere das Artes, certamente a mais representativa, ao lado daquela do Cinema, nos quadros setoriais da Bienal veneziana. O setor da arquitetura tem sofrido até aqui e fortemente a pouco cômoda posição de setor altenativo, nos anos pares, daquele artístico, sempre esperado com grande expectativa pelo mundo internacional das artes, nos anos ímpares. Porém, lenta, mas seguramente a Exposição Internacional de Arquitetura de Veneza está assumindo posição de grande importância e significado no quadro internacional. A sua 12. edição, do título “People meet in architecture”, sob a curadoria da arquiteta japonesa Kazuyo Sejima, edição inaugurada no dia 29 de agosto passado, com conclusão fixada para 21 de novembro de 2010, denota no alargamento de seu espaço expositivo e nas muitas participações nacionais tal desenvolvimento.
Neste quadro magnífico, Portugal ocupa uma posição muito significativa, seja tanto pela qualidade de seus representantes, quanto pela sistemação do Pavilhão português.
O Pavilhão, um daqueles que se localizam fora da área expositiva tradicional da Bienal, encontrou uma sede de alto prestígio no ambiente da cidade. Trata-se de um espaço do Palazzo Foscari, no Canal Grande, sede igualmente da Universidade Ca’ Foscari de Veneza. O Palácio de Ca’ Foscari é um dos mais prestigiosos exemplos arquitetônicos do chamado gótico veneziano, ao mesmo tempo que impressiona pela grandeza de seus espaços. A Representação portuguesa ocupa uma ala famosa, aquela mesma que hospedou nos tempos também o famoso teatro de Cá Foscari, no andar térreo, com ligações para os andares superiores.
Portugal está representado pelos irmãos Manuel e Francisco Aires Mateus, por Ricardo Bak Gordon, João Luís Carrilho da Graça e Álvaro Siza Vieira. Os cinco arquitetos, mesmo nas marcadas diferenças existentes entre eles, demonstram pelas respectivas obras a alta qualidade assumida pela arquitetura portuguessa contemporânea.
Os cinco estão juntos no projeto que os comissários Júlia Albani, José Mateus, Rita Palma e Julião Sarmento – designados pela Trienal da Arquitetura de Lisboa - denominaram sugestivamente “No Place Like”, reunião de 4 criações exemplares para o crucial problema arquitetônica da habitação. Manuel e Francisco Aires Mateus apresentam o projeto “Casas na Comporta” (Comporta, Grândola, 2008-2010); Ricardo Bak Gordon, “2 Casas em Santa Isabel” (Lisboa, 2003-2010); João Luís Carrilho da Graça, “Casa Candeias” (S. Sebastião da Giesteira, Évora, 1999-2008); Álvaro Siza Vieira, “Bouça”, Porto, 1973-1978, 2001-2006). O programa expositivo do Pavilhão português ilustra todos os 4 projetos através de 4 filmes: Filipa César mostra os magníficos e significativos espaços das “Habitações Sociais”, de Siza Vieira, em Bouça; João Onofre tematiza a casa de Bak Gordon; Julião Sarmento apresenta a casa de Carrilho da Graça; João Salaviza desvenda os segredos da casa na Comporta de Aires Mateus.
A realização global do Pavilhão é de grande eficácia, permitindo aos especialistas o melhor contacto com a parte técnica dos projetos, bem como ao público em geral a dinâmica visão dos mesmos através dos 4 filmes projetados nas diversas salas do magnífico espaço de Ca’ Foscari.
*(Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA e
da Associação Internacional de Críticos de Arte – AICA)
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