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sábado, 1 de janeiro de 2011

Boaventura de Sousa Santos no Estrolabio - Respirar é Possível



As eleições no Brasil tiveram uma importância internacional inusitada. As razões diferem consoante a perspectiva geopolítica que se adopte. Vistas da Europa, as eleições tiveram um significado especial para os partidos de esquerda. A Europa vive uma grave crise que ameaça liquidar o núcleo duro da sua identidade: o modelo social europeu e a social democracia. Apesar de estarmos perante realidades sociológicas distintas, o Brasil ergueu nos últimos oito anos a bandeira da social democracia e reduziu significativamente a pobreza. Fê-lo, reivindicando a especificidade do seu modelo, mas fundando-o na mesma ideia básica de combinar aumentos de produtividade económica com aumentos de protecção social. Para os partidos que na Europa lutam pela reforma, mas não pelo abandono, do modelo social, as eleições no Brasil vieram trazer um pouco mais de ar para respirar.




No continente americano, as eleições no Brasil tiveram uma relevância sem precedentes. Duas perspectivas opostas se confrontaram. Para o governo dos EUA, o Brasil de Lula foi um parceiro relutante, desconcertante e, em última análise, não fiável. Combinou uma política económica aceitável (ainda que criticável por não ter continuado o processo das privatizações) com uma política externa hostil. Para os EUA é hostil toda a política externa que não se alinhe integralmente com as decisões de Washington. Tudo começou logo no início do primeiro mandato de Lula, quando este decidiu fornecer meio milhão de barris de petróleo à Venezuela de Hugo Chávez que nesse momento enfrentava uma greve do sector petroleiro depois de ter sobrevivido a um golpe em que os EUA estiveram envolvidos. Este acto significou um tropeço enorme na política norte-americana de isolar o governo de Chávez. Os anos seguintes vieram confirmar a pulsão autonomista do Governo de Lula. O Brasil manifestou-se veementemente contra o bloqueio a Cuba, criou relações de confiança com governos eleitos mas considerados hostis, a Bolívia e o Equador, e defendeu-os dos golpes da direita tentados em 2008 e 2010 respectivamente. O Brasil promoveu formas de integração regional, tanto no plano económico, como no político e militar, à revelia dos EUA. E, ousadia das ousadias, procurou um relacionamento independente com o governo “terrorista” do Irão.




Na década passada, a guerra no Médio Oriente fez com que os EUA “abandonassem” a América Latina. Estão hoje de regresso, e as formas de intervenção são mais diversificadas que antes. Dão mais importância ao financiamento de organizações sociais, ambientais e religiosas cujas agendas as afastem dos governos hostis a derrotar, como acaba de ser documentado nos casos da Bolívia e do Equador. O objectivo é sempre o mesmo: promover governos totalmente alinhados. E as recompensas pelo alinhamento total são hoje maiores que antes. A obsessão de Serra com o narcotráfico na Bolívia (um actor secundaríssimo) era o sinal do desejo de alinhamento. A visita de Hillary Clinton e a confirmação, pouco antes das eleições, de um embaixador duro (“falcão”), Thomas Shannon, são sinais evidentes da estratégia norte-americana: um Brasil alinhado com Washington provocaria, qual efeito dominó, a queda dos outros governos não-alinhados do sub-continente. O projecto vai manter-se mas por agora ficou adiado.




A outra perspectiva sobre as eleições foi o reverso da anterior. Para os governos “desalinhados” do continente e para as classes e movimentos sociais que os levaram democraticamente ao poder, as eleições brasileiras foram um sinal de esperança: há espaço para uma política regional com algum grau de autonomia e para um novo tipo de nacionalismo, apostado em mais redistribuição da riqueza colectiva.








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Folha de São Paulo

domingo, 21 de novembro de 2010

Boaventura de Sousa Santos no Estrolabio: Respirar é possível

Para governos "desalinhados" do continente e para as classes sociais que os levaram ao poder, as eleições no Brasil foram um sinal de esperança
As eleições no Brasil tiveram uma importância internacional inusitada. As razões diferem consoante a perspectiva geopolítica que se adote. Vistas da Europa, as eleições tiveram significado especial para os partidos de esquerda. A Europa vive uma grave crise, que ameaça liquidar o núcleo duro da sua identidade: o modelo social europeu e a social-democracia. Apesar de estarmos diante de realidades sociológicas distintas, o Brasil ergueu nos últimos oito anos a bandeira da social-democracia e reduziu significativamente a pobreza. Fê-lo reivindicando a especificidade do seu modelo, mas fundando-o na mesma ideia básica de combinar aumentos de produtividade econômica com aumentos de proteção social. Para os partidos que, na Europa, lutam pela reforma do modelo social, mas não por seu abandono, as eleições no Brasil vieram trazer um pouco mais de ar para respirar. No continente americano, as eleições no Brasil tiveram uma relevância sem precedentes. Duas perspectivas opostas se confrontaram. Para o governo dos EUA, o Brasil de Lula foi um parceiro relutante, desconcertante e, em última análise, não fiável.
 

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dilma Roussef, primeira mulher Presidente do Brasil

Sílvio Castro
A mulher brasileira conquistou o direito de voto, de eleger e de ser eleita, pelo Novo Código Eleitoral de 1932. Tratava-se de um dos mais revolucionários atos daquela primeira fase da geral institucionalização do País, completada com as livres eleições de 1933. Passaram-se, desta maneira, 78 anos para que o povo brasileiro elegesse pela primeira vez uma mulher como seu Presidente.

Dilma Roussef, nascida em Belo Horizonte (Minas Gerais), no dia 14 de dezembro de 1947, economista, viveu os anos de sua juventude como ativista de extrema-esquerda, chegando à guerrilha urbana contra a ditadura militar que investiu o Brasil no período 1964-1985. A jovem Dilma vem aprisionada pelos militares, torturada, passando três anos nos cárceres da ditadura.

Filha de um advogado e empresário búlgaro e de uma professora primária brasileira, sendo assim filha de um imigrante e partecipante de uma 2ª. geração de novos brasileiros, tudo isso como um exemplo de rápida e alta integração de descendentes de imigrantes na vida política brasileira, como igualmente acontece nos USA com o Presidente Barack Obama, a futura presidente do Brasil teve uma infância burguesa e tranquila em seio à classe média da capital mineira.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Eleições presidenciais do Brasil

Sílvio Castro

O 1º. turno das eleições presidenciais brasileiras de 3 de outubro passado foi a demonstração de que os dois candidatos principais, Dilma Rousseff e José Serra, não convencem completamente a maioria do eleitorado nacional e, ao mesmo tempo, um aviso a ambos, remetendo-os ao 2º. turno, a realizar-se no próximo 31 de outubro, que este mesmo eleitorado se mantém vigilante e com inevoquável capacidade crítica e de escolha. Foi um resultado que nos leva a crer que o período auge das lobies políticas já passou, mas igualmente que não basta um carisma, direto ou indireto, do candidato para levá-lo à vitória.

A grande surpresa do primeiro turno foi a votação da candidata dos Verdes, Marina Silva, com os vinte milhões de votos alcançados. Na sua maioria, tratam-se evidentemente de votos de protesto, mais diretamente endereçados à candidata de Lula, ainda que o social-democrático José Serra também tenha o seu quinhão na mensagem popular. Em tais resultados pode-se ler, igualmente, sobre uma possível revisão da antiga influência da televisão quanto aos resultados eleitorais. Em particular, a rede Globo decai no seu poder de convencimento popular. Ainda que isto não signifique naturalmente que o olhar popular, fixado pela mensagem televisa, possa considerar-se completamente imune do fatal fascínio.

A partir de todos esses elementos, indecifráveis à primeira vista, a possibilidade de que a TV Globo possa servir de trampolim a uma grande recuperação de José Serra em relação a Dilma Roussef não seja completamente coisa a excluir-se. Certamente Dilma parte avantajada pelos 16 milhões de votos que conquistou a mais do que Serra em 3 de outubro e que, como declarava cautamente Lula dias antes da eleição, vencer no primeiro turno não é a coisa absolutamente principal; antes de tudo, importante é partir para o segundo turno com um boa margem de votos conquistados no confronto com o mais direto adversário. Lula assim raciocinava porque foi o quanto viveu nas suas eleições vitoriosas...

Certamente, até o próximo 31 de outubro, o Brasil viverá um período de grande expectativa. A grande votação de Marina passa a ser o fiel da balança de tudo, mas como demonstra a história de todas as eleições de segundo turno nem sempre é possível teleguiar-se os números de uma grande votação de protesto. E muito menos considerá-los como coisas necessariamente possuídas...

Nessa grande expectativa, a sabedoria popular que conduziu os dois candidados ao segundo turno declara em alta voz que, seja Dilma a vencedora ou Serra o novo presidente, nenhum deles possa interromper o processo de crescimento econômico-social do Brasil, pretendendo de apresentar-se com um comportamente político inteiramente diverso daquele que conduziu o País a tal crescimento.