Carlos Loures
Carlos Fuentes é um escritor mexicano que, ou me engano muito, ou se arrisca a ganhar um dos próximos prémios Nobel da Literatura. Aliás, os critérios da Academia de Estocolmo, são inescrutáveis. Não se compreende como é que o argentino Ernesto Sábato, o peruano Mario Vargas Llosa, o mexicano Carlos Fuentes não obtiveram ainda o galardão. E falo só de alguns dos que, felizmente, estão vivos. Jorge Amado foi um caso de evidente injustiça, se de justiça se pode falar ao evocar o Nobel. Naturalmente que falo apenas no plano literário, como se não soubesse que outros factores entram na ponderação dos académicos suecos. Adiante. Hoje é para falar do grande escritor mexicano Carlos Fuentes.
Uma muito breve resenha biográfica – nasceu no Panamá, filho de um casal de diplomatas, 1928. Estudou na Suíça e nos Estados Unidos. A itinerância profissional dos pais, obrigou-a a viver em diversos países – Equador, Uruguai, Brasil, Estados Unidos, Chile, Argentina… Voltou ao México onde permaneceu até 1965. Licenciado em Direito, tem desempenhado diversos cargos oficiais, sendo, entre 1972 e 1976, o embaixador do México em França.
É uma figura nuclear da moderna novelística em língua castelhana. Lembro apenas as suas obras mais importantes: A morte de Artemio Cruz (1962), Agua quemada (1981), O Velho Gringo (1985). Agora, editado pela Alfaguara, acaba de lançar Adán en Edén »Uma comédia em que o humor foi substituído pelo horror», para usar a definição do autor numa entrevista concedida ao El País. Horror que é o do México minado e dominado pelo narcotráfico.
Com 82 anos, afirma «Estou vivo, porque tenho livros para escrever». E tem alguns já escritos e inéditos – um volume de pequenas novelas, bem como um longo ensaio sobre o grande romance latino-americano – Das crónicas das Índias à actualidade – que será editado em primeiro lugar nos Estados Unidos. Tem em esboço mais três ou quatro livros. Por isso pede que «lhe sejam concedidos» mais dez anos.
Nessa entrevista, diz também: «Pensei: o tema é tão trágico que é melhor começar como uma comédia, ou seja, contar a história de um homem que acaba no tráfico de drogas porque as circunstâncias a tal o arrastaram». Mas foram., sobretudo, as declarações que produziu sobre o tráfico de drogas, que despertaram a minha atenção.
Reconhecendo que a polícia foi, em grande medida, cooptada pelas redes de traficantes e que o Exército é mais fraco do que os «narcos», sugere a criação de uma polícia específica, uma força de contra-ataque, treinada para enfrentar inimigos implacáveis e fala na aceitação de mercenários franceses, alemães israelitas… Quando o jornalista lhe coloca a questão da soberania nacional, que seria afectada por esses corpos de polícia integrados por estrangeiros, respondeu: «Vivemos num mundo globalizado: Além disso, não teria que se saber, São actos de Estado, de um Estado que se defende a si mesmo». E acrescentou; «Esses mercenários actuam em todo o mundo e ninguém sabe da sua existência. Não se metem em nada em que não possam meter-se. Estão ali para desempenhar um papel: enfrentar uma força criminosa:»
Mas a sua declaração mais forte é quando, quando o jornalista lhe pede uma solução, Fuentes responde: «A solução? Despenalizar paulatinamente as drogas». Sabe-se como esta tão polémica solução corta os caminhos do negócio aos traficantes. Porém, discutível no plano moral e de saúde pública, eficaz no combate ao tráfico, esta medida poderá ser implementada num México apertado entre os tentáculos do polvo da corrupção? Os traficantes e os seus aliados, espalhados pelo aparelho de Estado, pela Igreja, por toda a sociedade mexicana, usarão tudo, desde o assassínio às campanhas de opinião que , em nome da moral e dos valores cristãos, se oporão a que tal medida seja concretizada.
Vou ler Adán en Edén logo que o consiga obter.
Carlos Fuentes é um dos maiores escritores da actualidade. Há que estar atento ao que ele escreve.
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quinta-feira, 27 de maio de 2010
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"Os Anos Com Laura Diaz" é um livro solar, um fresco dos últimos 100 do México onde Diego Rivera e Frida Kahlo aparecem pelo meio da história. Este e "A Festa do Chibo" do Vargas Llosa são dois livros a não perder. Desculpem o despropósito, mas ando a pesquisar o blog porque ainda cheguei há pouco tempo.
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