sábado, 15 de maio de 2010

Coreografia de água

Luís Rocha


Estou sentado no banco de um jardim Municipal, que localmente se designa por “parque da cidade”.

Ainda é cedo e poucas pessoas passeiam pelo jardim. Apenas se ouve o chilrear dos pássaros e sente-se o conforto do silêncio.

Vejo o colorido das flores, as árvores e sinto o cheiro a fresco. O que atrai a minha atenção, até pela calma que transmite, são vários repuxos de água que no máximo do seu esplendor fazem um quadrado, com uma área quase idêntica à de um palco de teatro.

Os repuxos sobem e descem numa coreografia perfeita, em forma alternada ou conjunta, com mais ou menos exuberância que se manifesta na altura que alcançam, numa dança de água desafiante e ao mesmo tempo calma.

De vez em quando surge uma nuvem de água, como um fumo que envolve os bailarinos (repuxos) na fantasia da sua dança.

O fumo vai desvanecendo lentamente, os bailarinos param por momentos e vão surgindo como estátuas vivas à medida que se levanta o nevoeiro.

De seguida e também lentamente os bailarinos retomam a sua dança à espera de nova nuvem envolvente que quase os esconde, como a querer sufocá-los.

Por cima daquela névoa vão aparecendo um, dois e depois três repuxos, como que a gritar pela sua “liberdade”, ou será que os seus saltos mais altos, que vão contagiando os outros bailarinos, são o regozijo do aconchego e abraço daquela nuvem que vem e logo vai!

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