Carlos Loures
Não queremos deixar de assinalar a passagem do centésimo aniversário da proclamação da República e, assim, vamos dedicar a esse importante acontecimento da nossa História contemporânea alguns textos. Cada um deles focará um acontecimento que, na nossa opinião, tenha contribuído para a queda do regime monárquico.
De notar, que estes despretensiosos flashes não pretendem substituir a abundante bibliografia que existe sobre o assunto. Na sua maior parte, obras concebidas por pessoas que dedicaram as suas vidas a investigar o período histórico que abordam. Estes textos, cuja informação foi muitas vezes colhida nessas obras de referência, procuram despertar o interesse pelos temas abordados e levar a ler alguns livros fundamentais. Não são monumentos, mas sim modestas tabuletas que a eles pretendem conduzir. Um dos textos futuros, o último, será dedicado à enumeração das principais obras que consultei. Eis então alguns dados.
Um dos primeiros defensores da instauração da República em Portugal foi o jornalista, escritor e político, José Félix Henriques Nogueira ( 1825-1858). Nos seus textos defendia o republicanismo e o socialismo. Expondo as suas teses sobre a instauração de um regime republicano, o municipalismo, o federalismo e o associativismo, escreveu artigos para jornais - Eco dos Operários (1851), Revolução de Setembro (1852), sendo fundador do Almanaque Democrático (1852-1855). Publicou a obra Estudos sobre a Reforma em Portugal (1852). Fundou em 1854, o jornal Progresso , que se ocupava de política e questões económicas. Natural de Torres Vedras, Henriques Nogueira morreu com apenas 33 anos. Defensor do associativismo, do cooperativismo e do iberismo, precursor da República e adepto do socialismo inspirado em homens como Charles Fourier, Louis Blanc ou Proudhon. É, por alguns historiadores considerado como um dos primeiros teóricos do ideal republicano.
Numa fase posterior e num patamar intelectual mais elevado, surge outra figura importante na construção de uma filosofia republicana - Joaquim Pedro de Oliveira Martins (1845-1894). Oliveira Martins avaliou a vida política nacional e as suas insuficiências no ponto de vista da relação entre os políticos e a sociedade civil e sobretudo das limitações da opinião pública (no que tinha toda a razão). Foi, sem dúvida, mesmo quando não formalmente, o grande mestre do pensamento liberal português, na segunda metade do século XIX, interpretando o socialismo de Proudhon numa acepção autoritária. O seu pensamento teve grande influência na evolução da historiografia portuguesa.
Em 10 de Janeiro de 1875, no reinado de D. Luís, fundava-se o Partido Socialista Português (Partido Operário Socialista). José Fontana, Azedo Gneco, Antero de Quental, figuravam entre os seus fundadores. O Partido surgia na sequência das decisões do Congresso de Haia da AIT - Associação Internacional de Trabalhadores. Entre as medidas preconizadas, incluía-se a «abolição do Estado em todas as suas formas históricas» e a preparação para o advento da «República Social».
.Em 25 de Abril de 1876, foi criado em Lisboa o Centro Eleitoral Republicano Democrático, onde se juntavam diversas sensibilidades do ideal republicano. No seguimento deste processo, eleger-se-ia o Directório do Partido Republicano. Alguns historiadores consideram que este foi o primeiro passo para a constituição do Partido Republicano, formado em 7 de Setembro 1875. Resultando do Pacto da Granja, nele se fundiram o Partido Reformista e o Partido Histórico, movimentos que, desde 1871, encabeçavam a oposição ao governo regenerador de Fontes Pereira de Melo. O espírito que presidia a esta nova formação política era o da tradição «setembrista», designação para os ideais da Revolução de Setembro de 1836 – digamos que o setembrismo era constituído pela esquerda democrática do liberalismo triunfante da Guerra Civil.
Em 1878, nas eleições de Outubro, o Partido Republicano apresentou-se pela primeira vez ao eleitorado, conseguindo eleger o deputado Rodrigues de Freitas pelo círculo do Porto. Em 2 de Janeiro de 1879, mercê das divergências existentes no seio do Centro Republicano Democrático, foi criado o Centro Republicano Federal.
Porém, seria em 1880, durante as comemorações do tricentenário da morte de Camões, que as instituições republicanas e o movimento ganhariam grande impulso e implantação entre a população. Principalmente o cortejo cívico que atravessou a capital no meio de grande entusiasmo popular. A trasladação dos restos mortais de Camões e de Vasco da Gama para os Jerónimos, foram outro momento alto das comemorações, não esquecendo as luminárias.
A presença de republicanos na comissão organizadora – Teófilo Braga, Magalhães Lima, Batalha Reis, entre outros, e o envolvimento do próprio Partido Republicano na iniciativa, marca a passagem do republicanismo das salas de reuniões, para as ruas; da discussão entre gente bem pensante, saltou para o meio do povo onde o ideal foi apreendido nas suas linhas gerais, baseado em oratórias geralmente simplificadoras e demagógicas (80% da população era analfabeta).
Essa compreensão básica e linear da ideia republicana, vendo-a como solução para todos os problemas nacionais, motivou, proclamada a República, a desilusão traduzida em revoltas, motins e em golpes militares sucessivos, que acabaram por destruir a I República e conduzir à ditadura. Mas não nos antecipemos. Por hoje, quedamo-nos em 1880.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
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