Carlos Loures
No dia 31 de Maio de 1819, nasceu Walt Whitman, o poeta que cantou a América do Norte com a emoção e o génio lírico com que outro grande poeta, Pablo Neruda, no século seguinte, cantaria a América Latina. E também cantaria Walt Whitman - YO no recuerdo \a qué edad, \ni dónde, \si en el gran Sur mojado \o en la costa \temible, bajo el breve \grito de las gaviotas, \toqué una mano y era \la mano de Walt Whitman:\pisé la tierra \con los pies desnudos, \anduve sobre el pasto, \sobre el firme rocío \de Walt Whitman.
Não vou perder tempo e gastar espaço com pormenores biográficos que podeis encontrar com abundância. Vou ocupar o meu tempo, o vosso tempo, e o espaço do blogue a transcrever os primeiros versos de uma extensa Saudação a Walt Whitman, de Álvaro de Campos, porque um génio merece ser saudado por outro génio:
Portugal Infinito, onze de junho de mil novecentos e quinze...
Hé-lá-á-á-á-á-á-á!
De aqui de Portugal, todas as épocas no meu cérebro,
Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em Universo,
Eu, de monóculo e casaco exageradamente cintado,
Não sou indigno de ti, bem o sabes, Walt,
Não sou indigno de ti, basta saudar-te para o não ser...
Eu tão contíguo à inércia, tão facilmente cheio de tédio,
Sou dos teus, tu bem sabes, e compreendo-te e amo-te,
E embora te não conhecesse, nascido pelo ano em que morrias,
Sei que me amaste também, que me conheceste, e estou contente.
Sei que me conheceste, que me contemplaste e me explicaste,
Sei que é isso que eu sou, quer em Brooklyn Ferry dez anos antes de eu nascer,
Quer pela Rua do Ouro acima pensando em tudo que não é a Rua do Ouro,
E conforme tu sentiste tudo, sinto tudo, e cá estamos de mãos dadas,
De mãos dadas, Walt, de mãos dadas, dançando o universo na alma.
No dia 31 de Maio de 1930, nasceu outro norte-americano, felizmente ainda vivo e que completa hoje 80 anos – Clint Eastwood. Actor, realizador, produtor, destacou-se nos western spaghetti, de Sergio Leone e no papel do inspector Harry Callahan, em diversos filmes de uma famosa série de acção. Mas creio que não é pelo que fez nos anos 60 a 80 que merece ser saudado. Muito menos pelas suas posições políticas como membro do partido republicano.
Clint Eastwood, quando começou a ficar velho para os papéis de «macho» e para o tipo de filmes que o tornaram famoso, desenvolveu uma série de insuspeitadas aptidões. Como actor, atenuada a agressividade dos seus papéis de juventude e meia-idade, vieram à superfície recursos histriónicos que pareciam não existir. Como realizador (embora dirigisse filmes desde há duas ou três décadas) passou a abordar temas menos superficiais e menos voltados para os imperativos do mercado: lembremo-nos apenas de A Troca (Changeling), 2008, Cartas de Iwo Jima (Letters From Iwo Jima) 2006, e Menina de Ouro (Million Dollar Baby), 2004.
Mais dois norte-americanos que desmentem a generalização em que caímos quando dizemos que «os americanos são uns estúpidos». Tenho ouvido dizer isto de muitas maneiras. Eu já o disse algumas vezes e pensei-o muitas mais. No entanto, em todos os dias do ano nascem pessoas ímpares nos Estados Unidos e todos os dias se podem comemorar nascimentos de norte-americanos excepcionais.
Moral da história: as generalizações é que são estúpidas.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
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Grandes e extraordinárias descobertas e invenções têm sido efectuadas nos USA, por cientistas, artistas,músicos,engenheiros, médicos...mas é verdade que o cidadão médio parece dever um bocado à inteligência.
ResponderEliminarÉ a sociedade americana no seu conjunto, sobretudo a classe média (mas não só) que transpira estupidez e uma perversão de valores que chega a ser revoltante. Mas, depois, há os «walt whitmans» que, de certo modo, redimem essa imbecilidade reinante.
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