sexta-feira, 2 de julho de 2010

Caetano José da Silva Souto-Maior, um alentejano na corte de D.João V e uma figura popular de Lisboa - 7

Outro soneto, dedicado ao mesmo tema do anterior

SALVAMENTO MARÍTIMO, APÓS UM NAUFRÁGIO DE UMA JOVEM INDIANA POR UM GRANDE GENERAL PORTUGUÊS (O POETA IMAGINA SER O GENERAL)

Não assustes. oh bárbaro elemento,
a inocente, que tenho ao peito unida,
que à glória desta acção compadecida
respeita até das ondas o violento.

Tu logras o furor, eu logro o intento
de ficarmos com sorte repartida:
asilo nobre de uma tenra vida;
sepulcro avaro de ouro macilento.

Se tenho a varonil integridade,
que consegues no horror dessa inclemência,
ou que importa a infeliz calamidade?

Quando fica no exemplo da violência
desprezado o interesse da piedade,
e vencida a desgraça da inocência.



Soneto ao Rei D. Pedro II, que, por ter morrido, não chegou a ver a sua própria estátua de pedra.

Senhor, a vossa efígie venerada
é por vós com razão desconhecida;
porque ficou na cópia pareceda
de reverente a pedra desmaiada.

Que importa que do artífice lavrada
pareça que o cinzel lhe infunde a vida,
se a grandeza só pode esclarecida
ser nas vossas vitórias retratada?


Estranhais esta imagem justamente,
se a luz original está diante,
o reflexo perdeu-se de repente.


´Inda sendo o retrato semelhante,
porque em chegando o Sol a estar presente,
mudam sempre as estrelas de semblante.



Soneto ao conquistador grego (Macedónio) Alexandre Magno, apertando com o seu diadema as feridas de Lisímaco.

Senhor, tenha o diadema lugar justo,
que eu temo vê-lo menos respeitado,
que importa a minha vida ao teu estado,
se a reservas do estrago para o susto?


Não pode altivo, o meu valor robusto
permitir, que o diadema venerado
fique nestas feridas profanado
se as recebi por conservar o augusto.


Se te fez vencedor esta façanha,
será tanta piedade em tanta glória
satisfação heróica, mas estranha.


Não percas no triunfo esta memória,
que só crescem regados na campanha
com sangue ilustre os louros da vitória.

Outro soneto a Alexandre em situação idêntica ao anterior.

Rompe o sacro diadema persuadido
que fica certamente mais honrado
nas ilustres feridas de um soldado
que quando a régia fronte está cingido.

Felizmente em pedaços dividido,
do teu sangue na púrpura banhado,
se até aqui o lograva afortunado
agora é que o mereço esclarecido.


Porque heróico às virtudes raras se una,
com justiça exército esta piedade,
que aceitar teu valor tanto repugna.

Remunero igualmente a heroicidade,
que a vitória é acaso da fortuna,
e o prémio distinção da majestade.



(Continua)

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