Raúl Iturra
…excertos do meu livro A Ilusão de sermos pais, Capítulo 5, publicado em Março de 2008; Monografias.com, Rio de Janeiro, no dia Internacional da criança…
Não é que todo o dito até este parágrafo não pertença à nossa cultura e ao nosso modo de ser, pensar, sentir. Fala-se imenso do mundo globalizado, pelo que não é possível abandonar a ideia da influência em nós, dos grupos sintetizados por mim até esta página e desenvolvidos de forma prudente e sintética, nas seguintes. O mundo é apenas um e a dita globalização não é apenas de economias, mas também de emoções deveres e pensamentos. Pelo menos, Tony Giddens fala assim no seu texto sobre essa Terceira via : como ultrapassar as desigualdades económicas dos diversos países do mundo, por meio de estratégias de organização estatal, política e económica e organizar o mundo em apenas uma forma de comportamento quanto à manipulação de recursos, como comento no meu livro sobre reciprocidade e mais-valia, no prelo. É parte do real dos pais preparar suas crianças na ideia de interagir com grupos além fronteiras, classe social e género, para poder ensinar a essa criançada as formas de interacção entre grupos sociais tão diferentes. Talvez os Muçulmanos Árabes, Chitas e Sunitas do Paquistão, os Palestinianos e Israelitas da Faixa de Gaza, não tenham a paciência para se juntarem, pelo menos os seus maiores. É dever dos membros destes diferentes grupos da maior religião do mundo, ensinar a diferença teórica e teológica, os planos políticos que fazem dos Sunitas grupos Talismã para a guerra, políticas de investimento que cada grupo tem, o que os obriga a manter uma distância entre si, incluindo disputas de território sobre bases históricas, lei e hierarquia estatal. Tal e qual como acontece entre Cristãos Romanos, Cristãos Ortodoxos Russos, Cristãos Arménios, Cristãos Curdos do Líbano, Ortodoxos Gregos, Luteranos, Calvinistas, Anglicanos e outros grupos da mesma religião, que mal se entendem ou conhecem uns aos outros. É histórica a ideia de dividir o mundo do Século XV em dois grupos, conforme quem seja, assim fala: os Romanos englobavam tudo o que não estava com eles, no conceito Protestante, enquanto os outros denominavam os Romanos de Imperialistas. Nem falo da diferença entre Benfica e Sporting e os debates que causam. Muito mais relevante que esse é o caso Casa Pia, e a pedofilia que tem acontecido, dizem, desde há vinte anos. Mas o que o senso comum nos leva a pensar e a saber é que os mais velhos procuram crianças para prazer físico dentro da linha definida por Charcot, Freud, Klein, Miller, Winnicott e outros que, tal como eu nos meus textos, representamos uma análise e um grito de protesto, um levantamento do protesto queria dizer, dando voz aos mais novos, que não têm epistemologia adequada para se defenderem dos abusos dos adultos. Levantamento de protesto perante as autoridades e os pais que não tiveram atenção com o que acontecia com as suas crianças
Quais destas ideias são as que os pais, na vida real, devem ensinar ao seu rebento? Será pensar antes de julgar, procurar antecedentes e factos, como na pesquisa que tem sido feita e que me tem levado a mim e a um grupo a entender os comportamentos eróticos e dar a voz aos pequenos para os pais entenderem que sentem desejo desde a nascença? Será que os pais, na vida real, debatem com os seus filhos o que acontece no mundo, com a dúvida natural que exprimem de não estarem certos sobre se deve ganhar o defensor da criança denominada abusada, ou se na circulação da criança há uma vantagem para a sua família, quanto ao dinheiro que ganham ao prostituir os mais novos? Freud, como Malinowski, ao falarem de Aberração Sexual, definem o conceito e não adjectivam os factos. Há a ética emotiva que pode fazer pensar que as fellatios referidas por mim são abusos de poder sobre as crianças. O pensamento contrário nunca tem sido ouvido por mim: se a criança gosta ou não da relação erótica com um adulto. No amamentar, por exemplo, estabelece-se, sabemos hoje, uma luta entre um embrião e um adulto que, sem saber, lhe está a tirar o seu alimento ao penetrar o pai dentro da mãe grávida de um ser humano de três meses. Até onde a rapariga deve ouvir dos seus pais esta realidade e qual a cronologia adequada para saber que amar é também fornicar? Ou, como entender que o conceito adultério não é apenas um facto criminoso, bem como uma rebelião maior do bebé dentro da mulher por ter entrado no liquido amniótico, mica desconhecida para quem não tem capacidade de entendimento, mas sim sempre muita fome e come pela passagem passiva de líquido da mãe ao bebé, por meio do cordão umbilical? Porque, como diz Malinowski nos Argonautas, ou Godelier para os Baruya, ou Iturra ao analisar aos Picunche, não há relação carnal entre progenitores enquanto dura a gravidez? O motivo de tanta mulher a viver com ou o marido, se é Maori, ou o homem da mãe se são da Melanésia ou de Samoa, Silva Pereira nos Mapuche Rauco, não tem relação, como relatam pessoalmente os Hugh-Jones, meus colegas e amigos de Cambridge, para os Barasana da Amazónia Colombiana, se não é para evitar termos adultos de mau humor no crescimento, a seguir a luta com o mundo desde o ventre materno? Qual a opinião sobre incesto, a seguir à morte em Março de Keith Hopkins, ou o silêncio da televisão portuguesa sobre a minha defesa da sua existência em sítios de Portugal? O comportamento humano, a sua relação com a sexualidade, é apresentado como um romance dentro do lar e a intimidade, a libido dos pais, um segredo de portas fechadas ou incontinência enquanto se pensa que a criança dorme. Como mais uma narrativa desse outro meu amigo Christopher Hann, quem devia dormir na única cama dos camponeses polacos, por ordem de hierarquia: os pais numa ponta, a carreira de filhos a seguir e, no fim, o meu amigo, hoje catedrático de Antropologia na Universidade de Bonn na Alemanha.
Um número inacreditável de questões brota na minha mente, ao pensar apenas na temática. A análise de Etnopsicologia da Infância, como diz Leopold Szondi na sua obra, trata de entender os elementos da cultura por meio dos quais a realidade é impulsionada – fala de pulsões . Mais um Húngaro a contribuir para o entendimento do comportamento das crianças por parte dos adultos e, especialmente dos eruditos, para desenvolver um comportamento que não retire esse novo ser da proximidade dos seus progenitores. Uma modalidade de entendimento usada por Émile Durkheim, na base de testes, organizados pelo mal conhecido autor , salvo de um campo de concentração e que até aos 90 anos trabalhou com crianças. Este teste criado por ele foi usado e impulsionado por Émile Durkheim para o seu texto sobre O Suicídio. Trata o autor de explicar, a seguir aos seus testes em crianças, que o introspectivo das pulsões nessa idade, não é apenas a transferência de factos do exterior para o interior mas, sim, uma interpretação do real que a criança é capaz de desenvolver. Tal como Durkheim prova no seu estudo do suicídio, denominado por ele anômico, causado pelo sentimento do delírio de perseguição que o baixo salário provoca no adulto e na sua família. “Le grand mérite du test de Szondi, c'est à nos yeux qu'il soulève des questions pertinentes davantage qu'il n'apporte de réponses malheureuses - "La réponse est le malheur de la question", comme l'a écrit Maurice BLANCHOT dans "L'Entretien infini" - dans le sens où elles ferment les possibilités de dialogue.
La structure du moi "primitif" peut trouver un éclairage utile à la lumière de la théorie kleinienne du fonctionnement psychique.
On sait que Mélanie KLEIN confère un poids particulier au second dualisme pulsionnel de FREUD (Eros-Thanatos) et au mécanisme de clivage en tant qu'il aboutit à distinguer radicalement le bon (objet) des mauvais, premiers représentants représentations des pulsions érotiques et thanatiques comprises dans le sens strict de l'acception freudienne: est érotique ce qui lie, unit et rassemble, est thanatique ce qui sépare, détruit et morcelle.
Mélanie Klein prolonge et enrichit les développements de la pensée freudienne inaugurés avec l'introduction de la pulsion de mort dans "Au-delà du principe de plaisir".
Em conjunto com os outros autores apresentados, Szondi é capaz de entrar pela capacidade de pensamento das crianças e as suas reacções perante o mundo que faz parte delas. O contexto da criança é salientado pelo autor, contexto que na realidade não é considerado pelos pais, o que permite, como diz em parte da sua obra, a existência de adultos narcísicos, psicóticos, ou, mais delicado ainda, omnipotentes como ele e Klein primeiro e Bion a seguir tinham estudado. Ser divindade passou a ser um dos problemas das crianças – já nem falo dos adolescentes que Daniel Sampaio analisa – que, nas minhas próprias palavras, criam aos pais um problema de não saber como agir. As crianças têm a pulsão da morte junto à da felicidade, mas a realidade, como relatava na sua análise o pequeno Richard com Mélanie Klein e Hans com Freud, eram e são capazes de não ouvir os seus pais, os seus progenitores ou adultos que, para eles, devem desaparecer das suas vidas, como refiro no capítulo 4 deste livro, A Ilusão de sermos pais, editado e publicado por Monografias.com, 2008, Rio de Janeiro. Também nas minhas palavras, a partir da minha observação de campo, desejam ver desaparecer os seus adultos. Longe da ideia de Édipo, pelo problema de globalização que nasce em 1775, Adam Smith ao lançar essa ideia da divisão do trabalho e que toda a população deve participar de forma autónoma e individual na riqueza da nação. Sabemos, e tenho explicado em outros textos, que Durkheim rebate a ideia em 1893, porque a divisão do trabalho é social, não apenas porque um faz o que o outro não sabe, bem como porque depende das capacidades, habilitações, formas da economia dentro da vida política e social, que permite às crianças, ultrapassar os ciúmes Edipianos, entrar nos ciúmes da concorrência, do consumo, das formas de vestir, do gasto para além das possibilidades e recursos. Situação que Szas tinha previsto com os seus estudos de teste e que Durkheim desenvolve para adultos e eruditos, em toda a sua obra, incluindo a que ajuda Lenine a derrubar o Império do Czar. Esta análise passa pela de Piaget, que experimenta apenas saber o conhecimento dos pequenos, porque entronca com a política contextual do objectivo de vida e de auto-estima. Se o leitor passar os olhos outra vez pelo texto que acabo de citar, será capaz de entender que a criançada coloca os adultos contra a parede: tenho estes meios, tenho este desejo, o meu grupo gasta em corridas, há quem passe droga e dinheiro, a minha inteligência e o meu corpo vão com eles. As pulsões tanáticas estão presentes dentro de um mundo que está sempre em guerra ou em debate entre classes sociais, pelo que procuram refúgio dentro das pulsões eróticas, organizadas dentro do comércio globalizado, facilitado pela queda do simbolismo que ajuda a entender hierarquias e formas de pensamentos que alimentam o saber erudito. A criança, desde a idade denominada do fim de Édipo, acaba por entrar numa corrida que pára na falta de simpatia solidária entre seres humanos.
Bem entendido, não tenho percentagens para basear a minha hipótese, mas tenho essa percentagem do método qualitativo do trabalho de campo, da observação participante retirada da vida com gente miúda faz já mais de 25 anos. Eis porque as análises de Durkheim e de Zsas despertam em mim um grande entusiasmo. É impossível não juntar a estes autores as ideias de Bion sobre aceitar a dor para desenvolver o entendimento. Quase como uma ideia religiosa de mim para com os outros, dentro da qual o símbolo exógamo acaba por ter uma valor que me leva a afirmar, sem hesitação, que o objectivo da interacção social e da acção do inconsciente é não ferir bebés com adultérios, nem aceitar dois factos que acontecem facilmente nos lares: a pedofilia e o incesto. As etnias que tenho analisado têm resolvido o caso com rituais clãnicos e mitologia que apura a forma de agir.
Não é outra, para nós próprios, que o mito da Génese, Capitulo 4, sobre Caim e Abel . É apenas um exemplo de várias actividades: para começar, da existência de uma divindade que sabe punir conforme entende, essa que Feuerbach tinha analisado em 1841 e da qual quer Marx, quer Freud, retiram a teoria da alienação, como analiso mais à frente e noutros textos. E, em segundo lugar, estamos a falar duma actividade denominada sacrifício, oferenda, que significa derramar sangue, esse sangue derramado que faz parte do acreditar nas normas culturais dos cristãos, a maior parte da população que nos interessa para este texto, ideia de sangue que retira a ideia de pecado e de crime e facilita a corrida actual entre Eros e Thanatos, num processo religioso civil, sem importar se vive ou morre, se mata, rouba ou engana, como fez Caim na sua oferenda: retira bens não adequados para tamanha magnificência, como uma divindade sem nome, que tinha punido os seus pais. Não há o problema de Édipo no caso do mito, mas sim de falta de cumprimento da lei de respeito à consanguinidade e ao parentesco. Caim é um Thanatos que Freud não usou, muito embora tenha usado o Tora em grande parte da sua teoria, como Klein e Bion os Evangelhos. No mito referido, Abel aparece apenas num verso, pelo facto de a sua conduta ser normal, a que corresponde: entregar o melhor do seu gado e sacrificá-lo, como acontece em todas as Bíblias, num prenúncio da morte de um outro mito ainda, Jesus, que é morto como cordeiro e é usado no caso pelos terapeutas franceses, como analiso mais à frente: um ante – Édipo que ama o pai que o mata, mito acreditado por milhares de pessoas e comemorado, especialmente entre nós, todos os dias. Vivemos, como se depreende da Génese, dentro da sociedade do sangue, do sacrifício, da entrega, não para entender, mas para atingir à Massim, uma outra vida e fugir do conhecido Thanatos. Caim é o melhor exemplo do caso. O contexto cultural é a forma de entender o pensamento, desde que se leiam os textos, se comemore o ritual como tantos antropólogos fazem, se entendam os símbolos e os mitos sejam respeitados dentro da verdade que levam em si, como esta do pecado e do bem e do mal de Caim e Abel, útil para analisar o saber das crianças e o seu imaginário sem os pais terem que entrar pelas raivas e pelas formas de punição que Evangelhos e Bíblia definem com detalhe. É suficiente observar Fátima em Portugal e a Faixa de Gaza no Oriente, para sabermos que é muito diferente dos Baruya da Nova Guiné, analisados por Maurice Godelier. A nossa relação de resiliência, definida por Boris Cyrulnik – como analiso no Capítulo 2-, para desenvolver o amor às crianças que são pequenos patos canalhas, e também para os pais entenderem o seu dever de amar com respeito esse bebé chorão que quase o não lhe permite trabalhar no dia seguinte. Há uma excelente contradição entre o dever de amar e o de ser agasalho da descendência: na nossa sociedade, como no Jardim do Éden fora do mesmo ainda mais, não é permitida essa definida capacidade de entender, que é denominada inaudita capacidade de amar apesar do peso da criança e da sua educação como filho e ser humano
É o mito que faz lembrar essa descendência de Bion, incrustada em Cyrulnik, analisada no Capítulo 2, de forma sintética: a resiliência precisa de muita análise e trabalho de campo com bebés e com os seus progenitores. E, da parte dos pais na realidade, de uma grande paciência para entender o produto da sua paixão e saber que um dia cresce e acaba por não ser a filiação à qual nos tínhamos habituado, como comento no Capítulo 3. Os filhos largam os pais e estes, devem ver, ouvir e calar e permitir que a geração seguinte, seja capaz de melhorar essa relação tão complexa, essa de sermos pais, sem entrarmos pelas ilusões, mas dando força ao real.
Normalmente, pensa-se que o que interessa para a Etnopsicologia é entender porque os pequenos não devem chorar. Uma minha orientada de tese de doutoramento colocou-me no Seminário quatro questões que me fizeram pensar: a primeira, uma frase já consagrada: os meninos não choram, primeira ideia da repressão das emoções que sofre parte de humanidade que nos acompanha na vida. O pranto é o resultado dos sentimentos feridos ou frustrados e cura toda e qualquer pessoa que faz luto por uma actividade mal construída, ou, pior ainda, pela perca de um ser humano que ama. A seguir, a repressão dos pais na realidade, está consagrada ainda numa outra frase: se te portas mal, apanhas. Por outras palavras, há uma vara de medida do que se deve e não deve fazer que, na sua sabedoria infinita, omnipotente, os progenitores conhecem: é o facto de se ser bem visto porque a nossa descendência é amável, gentil, atenciosa...conceitos distantes de uma Epistemologia a crescer. Mas, para os pais, adultos que optam – e nem sempre bem – os seus mais novos devem fazer como eles e assim ganham a resiliência, moeda grátis, e não trinta denários de prata, sempre ao pé do pequeno que já sofre imensa raiva e a exprime à sua maneira. Um adulto tem uma ironia simpática suficiente para aceitar pulsões que podem ferir o ego e os outros. Esse outro tão importante de analisar na Antropologia, que converte a Etnopsicologia numa ciência de direito próprio, sem um método previsto para classificar o comportamento, como faz a psiquiatria. Daí que tenha escolhido Etnopsicologia: não tem clínica, observa e aprende e abstrai para propor mais compreensão na relação adulto criança. Como essa outra frase dita, a terceira, que pretende regulamentar a conduta rebaixando os pequenos: meninos que não lavam as mãos, são porcos, é dizer, uma metáfora dura, suja, que dita com zanga, acaba por deixar cair o pequeno dentro de uma grande melancolia a ser paga nas depressões do adulto. E digo assim tão forte, porque estas frases, com punições e gritos, são parte do quotidiano da criança que apenas deseja fugir dos pais: um Édipo social, com libido emotiva ferida, a ser guardada para a vida adulta, queira ou não o indivíduo. Como a outra fatalidade que indica o desapreço de quem apenas sabe procurar carinho: já viste esse menino tão sossegado e tu tão irrequieto, que mete nojo? Não sabes fazer como ele?
Grande dor que nos acompanha desde a concepção até à morte e que tento analisar nas poucas páginas que hoje em dia uma editora permite.
Quais as crianças? Estão definidas assim e também mais em frente: essas que são pensadas, a mãe engravida e até os 4 anos, não sabem muito bem por onde andam, excepto que têm um conjunto de inimigos em casa, e talvez fora dela, se o seu alimento e carinho primário lhes forem retirados.
http://br.monografias.com/trabalhos913/licoes-etnopsicologia-infancia/licoes-etnopsicologia-infancia2.shtml#xoreal
terça-feira, 1 de junho de 2010
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A palavra ilusão está usada em sentido luso: o que não se tem nem se deseja. Não é a esperança de...como em Castelhano Espanhol. A ilusão de sermos pais refere ao facto das crianças serem manipuladas pela libido e pela sociedade a partis do 4º mes de gestação, como diz Bion no livro citado. Os pais são instrumentos para cuidar, ensinar, colocar dentro da ordem estabelecida pela lei o que pertence a um grande grupo, como Estado, Nação, Etnia. Não retira emotividade, mas não esta dentro do significado ilusão. Engano dos sentidos ou pensamento. O que se nos afigura ser o que não é. Quimera. Esperança irrealizável.
ResponderEliminarEm castelhano Espanhol, é o que se espera, o carinho, o amor. Foi preciso usar o conceito luso, para entender a ordem social das interacções, o engano dos sentidos e não essa ideia da delícia de ser pai. Eis porque uso a psicanálise para explicar o conceito. A delícia de ser pai, é um pensamento social, não uma emoção que une em circunstâncias esperadas. Eis porque os mais novos são criadas pelo grupo e não pelos pais, eis porque há a interdição do incesto, pedofilia e outras relações carnais entre ascendentes e descendentes, o que acontece amiúde.
É muito oportuno este esclarecimento do Professor Raúl Iturra, pois nos textos vertidos do castelhano para português é vulgar, eu diria quase fatal, a confusão que os tradutores fazem traduzindo «ilusión» por «ilusão». Trata-se, na maior parte das vezes, de um daqueles casos de «falsa amizade» em que um vocábulo igual ou semelhante correponde no outro idioma a uma acepção diferente. Relativamente a este substantivo - «ilusión» - sendo em castelhano um caso de polissemia, apresenta duas acepções correntes: o de engano dos sentidos (como na acepção vulgar em português) e o de esperança na concretização de qualquer desiderato. Quando um português usa o termo (que também é polissémico na nossa língua), pensa sobretudo na acepção de «engano da inteligência ou dos sentidos», como o define José Pedro Machado; quando um falante de castelhano usa «ilusión», pensa em primeiro lugar em «esperanza». Sem prejuízo, numa língua e noutra, das demais acepções da palavra. Muito útil o esclarecimento do Professor Iturra. Ilusão, no seu estudo, é usado no sentido mais corrente para nós, falantes de português. O rigor científico, conceptual, necessita de ser apoiado pelo rigor linguístico. Estes textos, valiosas lições sobre matérias tão importantes e sobre as quais sabemos tão pouco, constituem
ResponderEliminaruma mais-valia para o nosso blogue (ou um importante «serviço público», como costuma dizer o Luís Moreira) . Obrigado Professor Raúl Iturra.
Agradeço os comentários do escritor e editor Carlos Loures. Agradeço também o convite para se parte e co-fundador do Estrolabio. O texto colocado por mim ontem, tem produzido um debate, para mim, útil. As palavras polissémicas são um problema. Um exemplo: tinha sempre usado a palavra intrujar - evidente, uma tradução mal feita, e não a que devia: imiscuir-me (no tempo dos outros). Uma antiga discípula, hoje a minha amiga, foi a única que teve essa força de me dizer que intrujar em luso português era mentir. Parecia ser semelhante a palavra ilusão, já largamente comentada. Aliás, vários dos meus candidatos a doutores acabaram de assistir aos meus seminários por causa do uso do adjectivo. Causava lhe calafrios essa descoberta minha e o livro todo: eles, especialmente uma candidata disse-me um dia que não se atrevia a beijar ao seu filho, adulto jovem e pai, pelas minhas revelações sobre o incesto e a pedofilia que esta contidas na palavra ilusão no sentido português. No meu ver, quem foge do conteúdo das palavras, está a fugir do que Freud denomina sentimentos recalcados pelo Id. Tentei explicar o assunto... nunca mais a vi. Na nossa cultura, a realidade material dos sentimentos, é quase um insulto no dia em que se sabe o seu significado. Na palavra ilusão, queira o meu comentarista Carlos Loures aceitar ou não, há também dois sentidos: o que eu uso e ele aceita, e esse de saudade o quimera: Coisa resultante da imaginação. = fabulação, fantasia, ilusão ≠ realidade
ResponderEliminar3. Esperança irrealizável. = Utopia. Ainda em luso português, ilusão é uma palavra banida para exprimir sentimentos de carinho. A questão está na sua origem grega: quimera = Khímaira, Ser mitológico geralmente representado com um corpo híbrido entre leão, cabra e serpente ou dragão. Toda esta pesquisa foi feita por mim antes de usar ilusão como título para o meu livro Eis porque estava de boca aberta e surpreendido ao pensar o meu amigo o editor que eu estava a traduzir do Castelhano - Espanhol, hoje em dia a minha quinta língua, para o luso português, a minha primeira língua, a par e passo com o inglês, para as análises de seres humanos, especialmente crianças e essa permanentemente perturbadora relação emotiva, por causa da libido e o desejo carnal que existem enquanto mais próximos estão os seres humanos, comandados pelo desejo sexual.
Parece-me que atingimos um consenso (se é que a divergência existiu). O vocábulo ilusión/ilusão, conserva a sua polissemia nos dois idiomas nascidos na mesma matriz neo-latina. O que acontece, repito, é que enquanto um falante de portugês valoriza mais a acepção «engano dos sentidos», no castelhano é a subentrada «esperanza cuyo cumplimiento parece especialmente atractivo» que prevalece.
ResponderEliminarAproveito este comentário para chamar a atenção para a má qualidade da maioria das traduções de castelhano para português. Com a estulta ideia de que «não é preciso aprender espanhol», qualquer pessoa se acha competente para traduzir do castelhano. Estou a lembrar-me da tradução de um romance (obra de um dos maiores escritores latino-americanos) que brada aos céus. O castelhano, por ser a língua mais semelhante à nossa, é a que nos traz mais «falsos amigos». O cuidado deve redobrar. Esclarecer significados, como o Professor Iturra fez com ilusión/ilusão, é fundamental. Um prontuário de «Falsos amigos entre o português e o castelhano», seria um bom serviço prestado à ciência linguística, e, em particular, um instrumento de grande utilidade para quem tenha de trabalhar com os dois idiomas.