sexta-feira, 4 de junho de 2010

Opinião. Cavaco, outro “berdadeiro” independente


Carlos Mesquita


Pronunciei-me sobre Fernando Nobre, hoje toca a vez a Cavaco Silva, o único dos três candidatos (este é oficioso por enquanto) à presidência da República, que foi secretário-geral de um partido, o PSD. Cavaco tem a tarefa de parecer independente facilitada; a campanha que o coloca distanciado do partido a que pertence, tem anos, resmas de artigos de opinião foram escritos com esse fim e são imensos os comentadores e jornalistas que ao longo da carreira política do actual presidente o têm arrumado fora do partido, criaram-lhe essa imagem, é mas não é, apesar de ser não se assume como sendo, está acima, ao lado, ou de costas, para o PSD, conforme as suas conveniências conjunturais. Pode-se duvidar se Cavaco quando líder do PSD era do PSD. No entanto o seu partido, (ou ex-partido) não lhe nega apoios; todas as linhas do PSD, e são mais que as linhas do TGV do tempo de Durão Barroso/Ferreira Leite, concordam em ampará-lo na candidatura ao segundo mandato como presidente. Todas? Não! Como se diria na introdução de mais uma aventura de Astérix. Alguns católicos do PSD juntos com o CDS e a Igreja, e os seus mais leais fiéis, (ou seja, o sector democrata cristão e cristãos pouco democratas) depois da promulgação por Cavaco Silva, do casamento entre pessoas do mesmo sexo, põem em causa esse apoio. Este novo elemento é decisivo para medir a facilidade de Cavaco em ser ou não reeleito; os cavaquistas desvalorizam a controvérsia, mas o país, diz-se, é maioritariamente católico. Os activistas anti-casamento gay juntaram mais de 200mil assinaturas para pedir um referendo, número semelhante aos dos movimentos anti-aborto.

Responsáveis da Igreja católica e figuras da direita procuram alternativas ao nome do actual presidente, e o CDS já disse que poderia sustentar um nome da sua área como opção a Cavaco Silva. Qualquer que seja a evolução destas iniciativas, a Igreja e também políticos e comentadores conservadores, não deixarão de levar o tema do “casamento gay” para o período da campanha presidencial, não sendo previsível que esses sectores deixem morrer o assunto em nome das contrariedades económicas e financeiras. Cavaco Silva desiludiu quem nele votou, também pelas comodidades oferecidas à governação de Sócrates, e agora para se furtar à discussão vem dizendo que só pensa na crise, em campanha eleitoral vai ter de abandonar esse paleio.


A forma como Portugal vai enfrentar no curto/médio prazo as dificuldades internas e as ameaças exteriores, depende do nível de estabilidade política e da situação social a par da capacidade de aumentar o crescimento. Com governos sem maioria parlamentar e na ausência de acordos partidários consistentes o desempenho do presidente da República será importante, o próximo presidente é fundamental para o rumo da política nacional; de Cavaco já se sabe que se não é presidente que agrade a todos os portugueses, é presidente que encanta os partidos da governação. O que é preciso tentar entender é que Cavaco seria o do segundo mandato, a campanha cavaquista diz que será diferente, os cavaquistas não estão satisfeitos com o desempenho de Cavaco Silva. Há um outro Cavaco? Ou só existe este, inseguro e inconsistente, refugiando-se na posição institucional e nas dificuldades económicas para não ter qualquer papel activo; seria bom nunca vir a saber.

O que é essencial para os portugueses é perceberem porque vão ser sujeitos a medidas severas de austeridade, e que vantagens essa necessidade vai trazer no futuro. De nada serve prometer grandes alterações no panorama político partidário, que não vão acontecer, nem imaginar mudanças radicais na Constituição. Com mais ou menos independência em relação aos partidos políticos o que seria honesto no próximo presidente, é que depois de eleito, a sua actuação não fosse uma surpresa para quem o elegeu. Cavaco Silva parte com a vantagem de agradar a todo o “centrão”, de forma natural ao centro direita e pela prática do actual mandato à direita do PS que governa o partido e o país. Para a direita mais conservadora Cavaco Silva só será seu presidente por inteiro, quando a direita ganhar o parlamento ou houver um governo de iniciativa presidencial.

1 comentário:

  1. O seu raciocinio tem razão de ser, mas a direita nunca entregaria a eleição a Alegre, com um candidato que dividisse. Nem pensar! É fogo que não dura um fósforo!

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