quarta-feira, 7 de julho de 2010
Bakunine por Bakunine (Raúl Iturra)
O exílio na Sibéria
Carta a Alexandre Herzen
Caro Herzen. Já faz sete meses que eu te escrevi uma longuíssima carta de vinte páginas.
Por diversas razões, ela não chegou até você. Foi a primeira manifestação de uma voz que voltou a ser livre após um longo silêncio. Hoje, serei mais breve. Inicialmente, deixa-me ressuscitar dentre os mortos, agradecer a você pelas nobres e simpáticas palavras que, pela imprensa, você disse sobre mim durante minha triste detenção. Elas atravessaram os muros que me isolavam do mundo e me trouxeram muito reconforto. Você havia me enterrado, mas ressuscitei, graças a Deus, vivo e não morto, pleno desse mesmo amor apaixonado pela liberdade, pela lógica, pela justiça, que foi e que é ainda agora toda a razão de ser de minha vida. Oito anos de reclusão em diversas fortalezas fizeram com que eu perdesse meus dentes, mas não enfraqueceram minhas convicções, ao contrário, elas se fortaleceram; nas fortalezas tem-se tempo para reflectir; os sentimentos que foram os mobiles de toda minha juventude, * concentraram-se, clarificaram-se, tornaram-se por assim dizer mais sensatos e, segundo me parece, mais capaz de se manifestar na prática. Libertado da fortaleza de Schlüsselburg, há quase quatro anos, recuperei igualmente a saúde; eu estou casado, feliz, em família e, apesar disso, pronto como antes, e mesmo com a paixão de outrora, a me lançar em meus antigos pecados, desde que a ocasião se apresente. Retomo por minha conta as palavras de Fausto: Estou muito velho para somente me divertir, muito jovem para estar sem desejos. O futuro, mesmo o futuro próximo, parece prometer muito.
lrkutsk. 7 de Novembro de 1860. Pis'ma M.A. Bakunineea K.A.I. Gercenu I.N.P. Ogarevu, Ed. M.P. Dragomanov, Genève, 1896, PP.3-4.
Ilustração: Foto de Bakunin amigos e a companheira durante o exílio na Sibéria
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Esta última frase, citando Goethe, é comovente. Como todas as cartas, aliás, revela-nos um Bakunine que o marxismo, pelo menos o oficial, sempre se esforçou por nos mostrar como indivíduo ridículo. Conseguiu mesmo fazer passar para o imaginário popular uma imagem distorcida do ideal anarquista, tornando-o sinónimo de caos e desorganização. Não sei se têm reparado, pela leitura das cartas que o Professor Iturra nos traz, na grande disciplina e contenção que as ideias de Bakunine revelam. Um belo trabalho, caríssimo Raúl Iturra.
ResponderEliminarA minha admiração pela obra de Bakunine quase ultrapassa a que sinto por Karl Heinrich Pembroke Marx. Há diferenças de classes odiosas, há outras que são nos deliciam, como esse aristocrata transferir obras cumes da escrita, duma literatura universal que é universal pela sabedoria que é outorgada para todas as pessoas que nem sabem ler muito, mas tão universal, que é entendida por todos. Como Pablo Neruda e Gabriela Mistral os nossos prémios Nobel de literatura: são compreendidos por todos os seres humanos, como Oscar Wilde, até pelo operariado dos EUA e do UK
ResponderEliminarCartas que revelam um escritor e um homem extraordinários.
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