MARX E A INTERNACIONAL: CARTA AOS INTERNACIONAIS DE BOLONHA
Dezembro de 1871. Instituto Internacional de História Social de Amesterdão.
A guerra acaba de ser declarada ao Conselho Geral. Mas não vos assustais, caros amigos, a existência, a potência e a unidade real da Internacional não sofrerão, porque sua unidade não está em cima, não está num dogma teórico uniforme imposto à massa do proletariado, tampouco num governo mais ou menos ditador como aquele que o Congresso dos operários mazzinianos acaba de instituir em Roma; ela está em baixo: na identidade da situação material dos sofrimentos, das necessidades e das aspirações do proletariado de todos os países; a potência da Internacional não reside em Londres, ela está na livre federação das secções operárias autónomas de todos os países e na organização, de baixo para cima, da solidariedade prática entre elas. Eis os princípios que nós defendemos hoje contra as usurpações e contra as veleidades ditatoriais de Londres que, se elas pudessem triunfar, matariam a Internacional, com certeza.
Um Conselho Geral da Internacional, que esteja sedeado em Londres ou em outro lugar, só é suportável, possível, na medida em que é revestido de atributos modestos de um Bureau central de, apenas, correspondência. É também aproximadamente o único papel que lhe atribuem nossos estatutos gerais. Mas tão logo ele queira se tornar um governo real, ele se torna necessariamente uma monstruosidade, uma absoluta impossibilidade. Imaginem um tipo de monarca universal, colectivo, impondo sua lei, seu pensamento, seu movimento, sua vida aos proletários de todos os países, reduzidos ao estado de miséria! Mas seda, paródia ridícula do sonho ambicioso dos Césares, dos Carlos V, dos Napoleão, sob a forma de uma ditadura universal, socialista e republicana. Seria um golpe de misericórdia dado na vida espontânea de todas as outras secções, a morte da Internacional.
Estes doutrinários e estes autoritários, Mazzini tanto quanto Marx, confundem sempre a uniformidade com a unidade, a unidade formal dogmática e governamental com a unidade viva e real, que só pode resultar do mais livre desenvolvimento de todas as individualidades e de todas as colectividades e da aliança federativa e absolutamente livre, na base de seus próprios interesses e de suas próprias necessidades, das associações operárias nas comunas, e, para além das comunas, comunas nas regiões, regiões nas nações, e nações na grande e fraternal União internacional, humana, organizada federativamente somente pela liberdade com base no trabalho solidário de todos e da mais completa igualdade económica e social.
Eis o programa, o verdadeiro programa da Internacional, que nós opomos ao novo programa ditatorial de Londres. Nós, quer dizer, a Confederação das secções do Jura, à qual eu pertenço. Nós não somos os únicos: a imensa maioria, pode-se quase dizer todos os internacionais franceses, espanhóis, belgas, e italianos também, eu espero - já temos a adesão de várias secções italianas e, não duvidamos, da vossa secção - numa única palavra, todo o mundo latino está connosco. Os operários ingleses e americanos têm muito acentuado o sentimento de sua independência e o hábito da acção e da vida espontânea para se preocupar ou para levar em consideração as pretensões bismarckianas do Conselho Geral, que sequer ousa anunciá-las. Há somente o mundo propriamente tudesco que se submete a ele com esta paixão da disciplina ou da servidão voluntária que o distingue hoje. O pensamento que acaba de prevalecer, infelizmente, no seio do Conselho Geral, é um pensamento exclusivamente alemão.
Representado sobretudo por Marx um judeu alemão, um homem muito inteligente, muito culto, socialista convencido e que prestou grandes serviços à Internacional, mas ao mesmo tempo muito vaidoso, muito ambicioso, intrigante como um verdadeiro judeu que ele é – este pensamento, representado por Marx, o chefe dos comunistas autoritários da Alemanha, por seu amigo Engels, um homem muito inteligente também, o secretário do Conselho Geral para a Itália e para a Espanha, e por outros membros alemães do Conselho Geral, menos inteligentes, mas não menos intrigantes e não menos fanaticamente devotados a seu ditador – Messias, Marx, – este pensamento lhes é inspirado por um sentimento de raça. Como o pangermanismo que, aproveitando-se dos triunfos recentes do absolutismo militar da Prússia, é o pensamento
Omnidevorador e omniabsorvente de Bismarck, o pensamento do Estado pangermânico, submetendo mais ou menos toda a Europa à dominação da raça alemã, que eles acreditam ter sido chamada a regenerar o mundo. Estes pensamentos liberticidas, mortal para a raça latina e para a raça eslava, que se esforça hoje em se apoderar da direcção absoluta da Internacional. A esta pretensão monstruosa do pangermanismo, devemos opor a aliança da raça latina e da raça eslava, - não com este império monstruoso de todas as Rússias que nada mais é do que um tipo de império alemão que se impõe às populações eslavas pelo cnute (chicote usado na Rússia) tártaro, não com esta outra monstruosidade que se chama pan-eslavismo e não seria outra coisa senão o triunfo e a dominação deste cnute na Europa - não, a aliança da revolução económica e social dos latinos com a revolução económica e social dos eslavos, revolução que, fundada sobre a emancipação económica das massas populares e que, tomando por base de sua organização e autonomia das associações operárias, das comunas, das regiões e das nações livremente federadas, fundará um mundo internacional novo sobre as ruínas de todos os Estados - um mundo que, tendo por base material a igualdade, por alma a liberdade, por objecto de acção o trabalho, e por espírito unicamente a ciência, será o triunfo da humanidade.
Esta aliança latino-eslava não fará absolutamente a guerra ao proletariado da Alemanha, hoje infelizmente enganado por seus chefes. Regra geral: nunca são as massas populares que criam a vaidade e a ambição nacional, são sempre seus chefes que os exploram e que têm naturalmente um grande interesse em estender os limites do mundo submetido à sua exploração lucrativa. Assim, pois, longe de lhe fazer guerra, a aliança latino - eslava procurará ao contrário reforçar e multiplicar os elos da mais estreita solidariedade com o proletariado da Alemanha, cuidando de fazer penetrar em seu seio, por uma propaganda ardente e infatigável, este princípio, esta paixão da liberdade que, derrubando todo o aparato artificial do novo despotismo que seus chefes actuais gostariam de construir sobre seus ombros, de há muito habituados à servidão, somente poderá lhe dar e lhe assegurar o que ele procura e o que ele quer tão apaixonadamente quanto o proletariado de todos os outros países: uma existência humana.
Retorno ao Conselho Geral de Londres. Suas pretensões actuais são tanto mais ridículas e absurdas porque a sua composição e a sua constituição, completamente irregulares e provisórias, deveriam ter-lhe imposto sentimentos muito mais modestos. Compreender-se-ia ainda que ele se arrogasse o direito – sempre iníquo e liberticida segundo minha opinião, excepto em caso de guerra – o direito de impor as suas leis a todos os grupos nacionais da Internacional se ele realmente fosse o representante destes grupos. Mas para isso teria sido preciso que ele fosse composto de delegados nomeados e renovados pela eleição anual ou bi-anual destes grupos.
Seria necessário que cada país fosse nele representado por dois delegados, pelo menos, especialmente eleitos pelo Congresso Nacional de todas as suas secções. Teria sido preciso, então, que cada grupo nacional fizesse uma despesa anual de quatro a seis mil francos, pagando a cada um de seus delegados gastos de correspondência inclusive, de dois a três mil francos por ano, pois a vida em Londres é mais cara do que em qualquer outro lugar. Em parte por causa desta consideração, mas em grande parte também pela pouca importância que, desde o início, se deu à missão e ao papel tão modesto que lhe eram determinados pelos estatutos gerais, criaram este resultado que a partir do primeiro Congresso da Internacional em Genebra (1866), do Congresso de Lausanne (1867), do de Bruxelas (1868) e do último Congresso de Basileia (1869), enfim, acharam mais cómodo deixar continuar provisória a existência do mesmo Conselho Geral, dando-lhe o direito de acrescentar novos membros ao invés de renová-lo todos os anos. Assim, com poucas excepções, desde que a Internacional existe, é sempre o mesmo Conselho Geral, este mesmo que, antes do Congresso de Genebra, chamava-se Conselho Geral ou Comité Central provisório, e que só tomou o título definitivo de Conselho Geral após a votação deste Congresso. Ele é, em imensa maioria, composto de alemães e de ingleses. Todas as outras nações estão pobremente representadas nele, algumas vezes por seus delegados nacionais que, residindo em Londres, têm a felicidade de agradar Marx e CIA, algumas vezes, à sua revelia, por indivíduos de uma secção diferente e, na maioria das vezes, por alemães. É assim que hoje mesmo a Itália e a Espanha estão representadas no Conselho por Engels, um alemão; a América, por Eccarius, alemão; a Rússia, por Marx, judeu alemão, o que é simplesmente ridículo. Para representar a França, desdenhando um Berqeret por exemplo, que redige e que vive! em Londres, e tantos outros representantes enérgicos, devotados e inteligentes da Comuna, e antigos membros da Internacional francesa, eles escolheram Serraillier, uma nulidade que nem sequer tinha feito parte da Internacional até então; isto pela simples razão que todos os franceses sérios, orgulhosos da sua dignidade e da sua independência, não quiseram, não puderam submeter-se a Marx, enquanto Serraillier, desejoso de se tornar, ou melhor, de parecer alguma coisa, diante dos seus compatriotas mais sérios, subordinou-se voluntariamente à ditadura do judeu alemão.
Ilustração: retrato de Karl Marx.
(Continua)
segunda-feira, 12 de julho de 2010
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