quarta-feira, 14 de julho de 2010

A chamada Assistência Médica


Adão Cruz


-Senhor dr., responde-me ele, olhe, eu não vou dizer nada à médica, por um lado porque, embora não sendo rico, tenho dinheiro para comprar os remédios, em segundo lugar porque até não me sinto mal com eles e vou continuar.


Infelizmente situações destas são o que mais se vê. Médicos amorosos há muitos, a par de outros que tratam os doentes como animais. São estes médicos, amorosos ou não, aqueles que tantas vezes dão uma palmadinha nas costas do doente quando ele se queixa de uma dor no peito, e o mandam embora dizendo que se trata de uma nevrite, quando, na realidade, se trata de um enfarte agudo que o vai matar, provavelmente, durante a noite. No entanto, pedem todos os exames e mais algum, receitam tudo e mais alguma coisa, com todas as consequências nefastas, em todos os sentidos, que essa incompetente atitude pode acarretar. Tal qual o caçador que não vê nenhum coelho, mas manda uns tiros para um monte de ervas porque pode lá estar um coelho. Fazer clínica…o que é isso?


Fala-se muito de assistência médica e tem-se a tendência de quase reduzir essa assistência à presença de um médico. Nada mais errado. Muitos médicos, sem qualquer preparação nem competência para fazer clínica, não passam de uma espécie de PBX, requisitando exames em cima de exames às clínicas privadas que pululam por todos os lados, de cima abaixo deste pobre país, incompetentes para o exercício de uma verdadeira clínica, meras fábricas de exames, tantas vezes de muito duvidosa credibilidade, cuja única finalidade é facturar. Exames que puxam exames, exames que descrevem”anomalias” que obrigam a mais exames, com relatórios estereotipados e dúbios, desinseridos de um contexto clínico, não permitindo qualquer possibilidade de distinção entre o essencial e o secundário. Para além disso, tais “agentes de saúde” nada mais fazem do que perpetuar uma irracional cadeia de exames, profundamente nefasta para o doente e para a economia do país, bem como uma absurda prescrição sintomática, sem qualquer critério, sem qualquer conhecimento do mal que podem estar a fazer ao doente, e sem fazerem a mínima ideia do complexo quadro clínico em que as queixas do doente se inserem. E o pobre do doente ainda lhes chama amorosos!

No meio de tudo isto, desta pouca vergonha em que caiu a medicina, anda para aí uma Senhora, armada em ministra de qualquer coisa, que nada percebe da doença da nossa saúde, que nem sabe para onde vão as centenas de milhões de euros que se gastam a adoecer cada vez mais, que não vê os profundos buracos por onde o orçamento se escoa nos bolsos dos espertos sem vergonha, na voraz e temível medicina privada, na indústria farmacêutica e nas farmácias, uma senhora simpática que não faz a mínima ideia do que é e do que deveria ser um SNS. Uma Senhora que muito afavelmente está a levar o país à completa rotura de toda a assistência médica mais ou menos decente que ainda tínhamos, há uns anos atrás, quando os seus antecessores resolveram iniciar a aniquilação do SNS, e espezinhar tudo o que António Arnault pretendeu erguer.

Aceitou fazer parte deste desavergonhado governo, coitada, sabe-se lá porquê! Não teve bom gosto nem bom-senso ao optar pela participação numa governação tão empenhada em levar um país à bancarrota, ao desprestígio total, ao descalabro económico, moral, social e político, à miséria da mente e do pão, só para enfiar o dinheiro de todos nós nos próprios bolsos e nos bolsos dos amigos, os senhores do poder económico que os lá colocou e que, ao fim e ao cabo, são quem manda nesta merda toda.

Senhora ministra lá do que quer que seja, vá tratar crianças, a melhor coisa do mundo. Talvez possa ter aí alguma utilidade. Fuja desta corja, até porque não parece má pessoa. Se parar para pensar, há-de ver que não tem qualquer arcaboiço para fazer uma barrela a toda esta estrumeira.

2 comentários:

  1. É a maltesaria que frequenta o SNS. Se toda a alta hierarquia do estado fosse obrigada a passar 1º pelo SNS outro galo cantaria. A malta não canta, chora. Isto caminha para o estilo neo liberal do utilizador-pagador. Tás doente? Pagas. Não pagas, morres. Porque isto, meu caro, quem não tem dinheiro não tem vícios, nem para médicos, nem para remédios, nem para chatear o pessoal que tem saude.

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  2. Continuaremos a andar demasiado distraídos se não pusermos fim ao abuso das seguradoras que, quando a cobertura esgota, os doentes “recebem alta” dos privados e vão direitinhos para o público. Já para não falarmos nos casos de doenças que não dão lucro e são encaminhados para o SNS.... claro que isto é mau para a saúde dos portugueses mas é muito bom para os bolsos dos privados & companhia.

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