sábado, 17 de julho de 2010

Fiel ou infiel

António Mão de Ferro


Quer se queira quer não, há sempre um momento em que perante determinadas circunstâncias não se consegue controlar uma parte imprevisível do eu. Quando se toma a atitude de ser o outro de si mesmo, corre-se o risco de não se assumir a conduta que se considerava correcta quando se era o outro.

Neste caso há grande dificuldade em ser fiel a si mesmo, porque sendo-o, corre-se o risco de entrar em conflito consigo para manter aquilo que antes considerava certo.

Qual será então o modo mais adequado de proceder? Manter o respeito pelo compromisso assumido, ou aceitar o confronto consigo mesmo, rejeitando aquilo com que se comprometeu e que já nada tem que ver com a actual forma de pensar, sentir e agir. O que renuncia deve considerar-se infiel, ou o facto de não ser capaz de cumprir um acordo, por si feito, pode não ser uma infidelidade? Se esta reflexão for levada a cabo no mundo laboral teremos necessariamente de considerar que ao fazer um contrato de trabalho, a empresa se compromete em relação ao trabalhador e este à empresa.

Aparentemente, o compromisso é tido em conta entre duas partes. Mas o certo é que ele deveria ser considerado entre três. A empresa, o trabalhador e uma parte desconhecida que estará ligada à evolução de cada um dos intervenientes.

Tal como no trabalho também no casamento há mais que dois intervenientes, a mulher, o homem (ou ultimamente, mulher e mulher e homem e homem) e aquilo que se poderia chamar um terceiro elemento, constituído precisamente pelo casal.

Se já dá tanto trabalho viver consigo próprio, como é que não há-de ser norma o casal, cada um para seu lado, tentar destruir esse terceiro que são eles.

Tudo o que seja contrato que envolva pessoas necessita de ter flexibilidade para deixar viver as fantasias, os prazeres, os impulsos. É preciso que o contrato respeite os limites, mas permita a coexistência de sentimentos de que só mais tarde se tem consciência.

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