sábado, 10 de julho de 2010
Novas Viagens na Minha Terra
Manuela Degerine
Capítulo XLIV
Décima terceira etapa: de Águeda a Albergaria-a-Velha (continuação).
Paul e Martine percorreram diversas vezes o Camino Francés, para o qual há tantas dezenas de guias e roteiros (o primeiro foi escrito na primeira metade do século XII por Aymeric Picaud), estão portanto habituados a trabalhos de grande rigor e actualidade, com todas as informações necessárias – e nada mais. Mostram-se muito críticos em relação a Gérard Rousse. Acham-no pouco fiável pois tão depressa empanturra o caminhante com pormenores inúteis, como de supetão omite informações essenciais. Sobretudo: não indica as distâncias. Mais adiante tanto podem ser vinte metros como três quilómetros. Certo... Defendo no entanto o meu Gegê: não sei o que, em algumas etapas, teria feito sem ele. Ou antes, sei, evitou-me ter de caminhar à beira da estrada nacional, conduziu-me por caminhos de grande beleza que, sem ele, eu não saberia encontrar. Obrigada, Gérard Rousse. E, não devemos esquecer-nos, quem faz hoje roteiros do Camino Francés apoia-se em oito séculos de pesquisa, apontamentos e recomendações, parte do que foi feito antes e pode, sem dificuldade, melhorá-lo. Gérard Rousse tem este mérito imenso de ser o primeiro autor de um roteiro com a integralidade da via lusitana de Lisboa a Santiago de Compostela.
Por causa do debate sobre o nosso comum roteiro: perdemo-nos. No Caminho há em permanência que atentar no caminho. Vemo-nos de súbito à beira de um pântano, Maria enfia a pata na poça até meia-perna, põe-se a berrar palavrões que, por delicadeza e respeito pelo leitor, aqui não repito. Voltamos para trás. Setas amarelas: nenhumas. Portanto: análise do texto. Concluímos que não estamos no caminho que o roteiro descreve mas noutro mais ou menos paralelo e, de qualquer maneira, ouvimos o ruído de uma estrada, Albergaria-a-Velha situa-se a pouco mais de um quilómetro, podemos aventurar-nos sem risco naquela direcção. Paul e Martine seguem à frente, Maria e eu ficamos para trás.
Chegamos à zona comercial de Albergaria-a-Velha e avistamos logo os dois alemães sentados ao sol, à entrada do hipermercado, a comer papaias, com uma expressão de prazer supremo. Também entramos. Há restaurante. Paul ataca uma taça colossal de morangos com chantilly, Maria empanturra-se com uma pratada de peixe e arroz. Eu comi há pouco uma sandes de queijo artesanal, soube-me muito bem, não tenho fome; faço algumas compras.
Seguimos para os bombeiros. Antes de lá chegarmos, encontramos os alemães sentados (ao sol) num quintal: informam-nos que em Albergaria-a-Velha os peregrinos são acolhidos naquele lugar. Temos que esperar pelo pároco. Maria vai ao café, que fica do outro lado da rua, eu sento-me (à sombra) a escrever.
O padre conduz-nos ao centro paroquial, ali contíguo, onde já descansa um grupo de quase trinta peregrinos que vão dos arredores do Porto para Fátima. Inquiro se me pode arranjar uma credencial de peregrina de Santiago, pois sei que daqui a pouco terei, em cada etapa, de apresentar este passaporte – o padre não conhece as credenciais.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário