domingo, 11 de julho de 2010

Novas Viagens na Minha Terra


Manuela Degerine

Capítulo XLV

Décima terceira etapa: em Albergaria-a-Velha.

No rés-do-chão do centro paroquial há uma grande divisão na qual, de um lado, vemos fogões a gás, uma grande mesa, sacos e bagagens, de todos os tamanhos e variedades, do outro lado, os peregrinos descansam em colchões encostados uns aos outros: prostrados e com os pés a sangrar. Uma senhora vai, com uma caixa de meio metro cúbico cheia de medicamentos, por ordem, de um para o outro, fazendo curativos. (Mais de cinquenta pés: passará nisto toda a tarde.)


O pároco conduz-nos ao cubículo onde se encontram dois colchões e alguns cobertores. Cedemos os colchões aos alemães, sem saco-cama e com uma coluna vertebral mais frágil, nós colocaremos cobertores no chão, em cima dos quais havemos de instalar os sacos-cama. O maior inconveniente: resta livre o espaço contíguo à casa-de-banho, da qual já agora sai um odor nauseabundo... Será possível dormir aqui? Concertamo-nos.

Eu resolvo ficar – quero ver como é. Na minha vida não haverá muitas ocasiões para observar o modus vivendi de um grupo de peregrinos a Fátima... Os alemães também ficam. Maria hesita se deve ou não juntar-se na pensão aos franceses e a um austríaco (com quem Paul já seguiu dois outros Caminhos; Gerhardt começa aqui a Via Lusitana) mas acaba por ficar.

O duche é nos bombeiros. Enchemos um saco com roupa limpa e produtos de higiene, vamos lá, depois damos uma volta pelas igrejas, a Matriz, Santo António, São Sebastião, por toda a cidade, que achamos bonita. (Impõe-se eu voltar aqui para ver as mamoas.) Em seguida lemos na biblioteca o correio electrónico; encontramos Martine. Telefonamos numa cabine; aparece Paul. Mais tarde fazemos compras na mercearia (onde um cliente tenta, num estilo patético, engatar Maria); entram Paul, Martine e Gerhardt. Inevitáveis encontros na via-sacra dos peregrinos...

Caminhei os dezasseis quilómetros da etapa mais dois ou três pela cidade – não me doeram os pés em todo o dia!

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