segunda-feira, 26 de julho de 2010

Novas Viagens na Minha Terra -

 Manuela Degerine


Capítulo LX

Décima sexta etapa: do Porto a Vilarinho (conclusão)


Como o roteiro é vago, mais adiante, penso outra vez, na minha pressa de chegar, que entrei em Gião.

- Não, aqui é Vilar: Gião é mais adiante.

Está a chover com força. Entro no café, bebo um copo de leite, vou à casa de banho. Depois sento-me, no exterior, nos degraus de uma escada, a ver cair a chuva.

Aparecem três caminhantes. Uma mulher segue em frente, a outra entra no café e o homem conversa comigo. É irlandês, tem um sotaque desconhecido – compreendo mal o que diz. Acabo por perceber que foram ao Porto em viagem de negócios e não puderam partir por na Islândia o vulcão lançar poeiras, o quê, outra vez, espanto-me eu. Impedidos de regressar de imediato a casa, os irlandeses experimentam o caminho de Santiago. Agora sentem-se saturados: houve a periferia do Porto, atravessaram a via rápida, depois a zona industrial, seguiu-se esta beira de estrada... Será sempre assim? Revelo-lhe que sou portuguesa mas não conheço todas as rotas do Império. O meu guia francês, sempre positivo e encorajador, fala de estradas sossegadas nesta parte do percurso.

- Fala?!

- Por isso não sei como interpretar o que diz das etapas seguintes.

A mulher sai do café e ambos prosseguem. Continua a chover com força, espero mais um pouco porém, dez minutos depois, não tendo a chuva abrandado, lanço-me também ao caminho.

Após Modivas começo a caminhar entre um muro e a N305, depois entre um muro e a N306… Não há berma, a chuva perdura, os carros são frequentes, não respeitam o limite de velocidade: vou toda salpicada de lama. A princípio não me incomoda, chapinhar é um prazer, logo à tarde lavo as calças, replico aos gentis automobilistas, com um olhar sobranceiro; contudo, um quilómetro mais adiante, acho menos graça à brincadeira. A paisagem pode até ser bonita, para além deste lençol de água, a caminhada tornou-se muito desagradável.

Ultrapasso os irlandeses que, numa paragem de autocarro, com fisionomias melancólicas, contemplam a bruma – deve trazer-lhes saudades da pátria. Horrendas paragens, noto eu ao passar, o cume da especialidade: é impossível construir mais feio. E... aquelas placas de cimento terão amianto? Tudo começa a parecer-me possível. A temperatura vai diminuindo e a chuva aumentando: sinto-me arrepiada.

Creio chegar a Macieira da Maia, sendo Vilarinho mais adiante, quase continuo em frente quando, através da água que me tapa as lentes, leio num cartaz: Abrigo de Peregrinos. Hem?!... Felicito-me por ser leitora compulsiva… do texto urbano.

Dirijo-me, de imediato, à farmácia, onde a responsável me carimba a credencial e entrega a chave do albergue.

Encontro-me, quase por prodígio, em Vilarinho.

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