terça-feira, 13 de julho de 2010

Poesia tradicional oliventina - 94 quadras


Carlos Luna


São 94 quadras da poesia tradicional oliventina, todas elas em português. As 72 primeiras foram recolhidas por Ventura Ledesma Abrantes (décadas de 1930 e 1940)), duas de dois habitantes de São Jorge de Alor na década de 1990, as últimas 20 recolhidas pelo Prof. Hernâni Cidade, na década de 1950 e 1960. Iremos publicando todos os dias uma dezena de quadras: hoje, da 51ª à 60ª (Ventura Ledesma Abrantes).

51-
Eu já não gosto de ti,
tenho o coração sovado.
Tenho agora amores novos
deixei já os teus cuidados.

52-
Adeus, que me vou embora
para a terra das andorinhas;
deita cartas no correio
se quiseres novas minhas

53-
O meu amor é aquele
que não tira o chapéu;
passa por mim, não me fala,
mostra-me cara de réu.

54-
Estreei minha saia nova,
minha blusa, meu vestido.
Levarei tudo para a cova
se não queres ser meu marido.


55-
Não posso ser teu marido
ainda que tu digas "sim";
vê lá tu, meu querido,
como as coisas são assim.


56-
Se tu souberas bem ler
nos meus olhos o feitiço,
verias como se quer
a paixão ao seu derriço*.

*namorado

57-
Baila, não cantes tanto,
que o bailar é espavento;
as cantigas que eu canto
não são cantigas ao vento.


58-
Porque esperas, meu bom moço,
que eu viva tão requeimada?
Só se fores como o poço:
muita água... e não tem nada!


59-
Alto lá, meu bem formoso,
não digas isso a cantar!
És um pau carunchoso,
e não te posso aguentar!*

*suportar


60-
Olha bem para o meu peito,
onde está o coração;
vê lá se disto há direito,
diz-me agora: sim ou não!

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