
Segunda ocultação: a verdadeira ameaça não são as FARC. São as forças progressistas e, em especial, os movimentos indígenas e camponeses. De facto, a permanência das FARC é fundamental para manter a justificação da guerra contra o terrorismo e criar o clima de medo e a lógica belicista que bloqueiam a ascensão das forças progressistas, nomeadamente do Pólo Democrático na Colombia. Pela mesma razão, a intervenção humanitária a favor dos reféns teve de ser dinamitada para que dela não tire dividendos políticos Hugo Chávez. As forças políticas progressistas ameaçam a dominação territorial dos EUA por via de medidas que procuram fortalecer a soberania dos países sobre os recursos naturais e alterar as regras de repartição dos benefícios da sua exploração. Mas a maior ameaça provém daqueles que invocam direitos ancestrais sobre os territórios onde estão esses recursos, ou seja, dos povos indígenas. É eloquente a este respeito o relatório Tendências Globais – 2020, produzido pelo Conselho Nacional de Informação dos EUA, sobre os cenários de ameaça à segurança nacional do país. Nele se afirma que as reivindicações territoriais dos movimentos indígenas "representam um risco para a segurança regional" e são um dos "factores principais que determinarão o futuro latino-americano". "No início do século XXI, há grupos indígenas radicais na maioria dos países latino-americanos que em 2020 poderão ter crescido exponencialmente e obtido a adesão da maioria dos povos indígenas... Estes grupos poderão estabelecer relações com grupos terroristas internacionais e grupos anti-globalização...que porão em causa as políticas económicas das lideranças latino-americanas de origem europeia". À luz disto, não surpreende que o presidente do Peru se pergunte "se não haverá uma internacional terrorista na América Latina". Tão pouco surpreende que já hoje centenas de líderes indígenas do Peru e do Chile estejam incriminados ao abrigo de leis anti-terroristas promulgadas nestes e noutros países (por pressão dos EUA) por defenderem os seus territórios. A estratégia está, pois, delineada: transformar os movimentos indígenas na próxima geração de terroristas e, para os enfrentar, seguir as receitas indicadas no relatório: tolerância zero; reforço das despesas militares; estreitamento das relações com os EUA. A responsabilidade das forças políticas progressistas é fazer com que esta estratégia falhe.
(Publicado na revista "Visão" em 13 de Março de 2008)
Naquele triângulo de que fala o prof Boaventura,(Paraguai,Brasil e Argentina) tive ocasião de travar conhecimeto com três jovems estudantes americanos que estudavam Espanhol no Chile. Achei um bocado estranho, mas há aos milhares na América do Sul...
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