Adão Cruz
A tarde declina
A tarde declina
suavemente
como o lento caminhar de uma nuvem.
A tarde declina
para o fundo escuro da noite
mas os olhos ainda prendem
a nudez viva de um sonho
perdido num campo de violetas.
Ainda resta
uma fugaz tremulação de água
no desértico medo
e na secura
do lento caminhar do fim da tarde.
A tarde declina
para onde não há outra manhã
de corpos apertados e corações tão perto.
Ainda resta a luz branca
e compassiva
que ilumina a imagem
dos olhos que não morrem
e a ilusão de um carinho
no lento declinar do fim da tarde.
Marcos Cruz
Tardinha
A tarde calma tem um encanto infinito. Transforma-se em noite, como todas as tardes, mas dentro de mim mantém-se tarde e arde num brando lume sem fim. Olhem para a de hoje, a pousar o seu manto etéreo com arejados requebros de medusa. Ela insinua-se e a sua chama chama-me como se a cada segundo se fosse apagar, mas eu, que já a conheço, porque a trago na alma desde a primeira tarde, sei que isto é uma dança como a que mantenho com o tempo desde que o tempo perde tempo comigo.
Josep A. Vidal
Ocaso
Esperaste, ao cair da tarde,
a sinfonia de um doce crepúsculo,
a explosão de luz, a diáfana plenitude,
a serenidade que antecede a noite,
com o olhar seguiste o espaço,
perderam-se-te os olhos no infinito,
e escutaste a brisa deslizando entre os ramos
como o escandir de um verso de metro antigo,
Não há mais nada. Aqui acaba o caminho.
Detém o andar e acalma o teu espírito.
Semicerra os olhos. Guarda dentro de ti a tarde,
o céu, a luz, o subtil resplendor
deste poente que lentamente avança
de um esplendor para o nada. Princípio e fim.
(Versão em português de Carlos Loures)
Adão Cruz
No silêncio da tarde
Daqui te escrevo
Onde o mar não existe
Onde as mãos do silêncio
Não tardam a entrar
No silêncio da tarde.
Daqui te escrevo
Nesta tarde de silêncio
Onde a memória da tarde
Arde em silêncio
No mar das tuas mãos.
Daqui te escrevo
Onde o deserto é imenso
E a sede do teu mar
Cresce em silêncio
No silêncio da tarde
Onde não tarda o silêncio
Do mar das tuas mãos.
Daqui te escrevo
Onde o mar não existe
E o deserto é imenso
No silêncio da tarde.
Daqui te escrevo
Daqui te escrevo
Desta tarde sem fim
Onde arde a cidade sem mar
E o deserto sem cidade
Onde arde em silêncio
Na tarde das tuas mãos
Todo o silencio da tarde
sábado, 21 de agosto de 2010
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Um espaço belíssimo, onde se guarda "todo o silêncio da tarde" nas tuas mãos, o ocaso onde acaba o caminho, uma dança que mantenho com o tempo desde que o tempo perde tempo comigo.Uma maravilha !
ResponderEliminarLuís, não esqueçamos o mérito do Carlos Loures e a sua sensibilidade para compor estes conjuntos e estes espaços. É admirável! Ele consegue retirar das coisas muito mais vida e sentido.
ResponderEliminarAdão, tens toda a razão. O Carlos é o melhor compositor que se pode arranjar e faz mais, trava os meus desvarios...
ResponderEliminarO mérito é por inteiro dos poetas e do pintor,´O Espaço VerbArte começa a dar frutos.
ResponderEliminarO mérito é mesmo de todos aí desse lado. Conseguem encaixar lindamente todos os saberes. Parabéns.
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