quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Notas de cêntimo (7) Produtividade (2)

Carlos Mesquita


Como se vê pelo título e subtítulo, 7 a 2 é resultado magro para a produtividade, e nem há notas de cêntimo. A produtividade em Portugal, segundo um relatório de 2008 da Associação Industrial Portuguesa (AIP) será 70,8 por cento da média europeia. O presidente da AIP dizia o ano passado, que o facto de Portugal produzir menos 30% que a média dos restantes países europeus era uma vergonha; que nenhum país consegue afirmar-se competitivamente, crescer e desenvolver-se, sem que a produtividade aumente significativamente. Numa coisa temos sido produtivos, a fazer e encomendar estudos e relatórios sobre a produtividade e a competitividade, para só falar destes. Dizem todos o mesmo acerca das causas, diferem nos remédios consoante os interesses particulares de quem paga os estudos; umas razões são estruturais como o perfil produtivo tradicional, baseado em mão-de-obra intensiva de baixo custo, a braços com a concorrência de outros países sem leis laborais e que praticam dumping fiscal e ambiental. Situação impossível de resolver sem investimento na reconversão dos sectores que herdámos, para outras especializações com incorporação de maior valor acrescentado. Isto é dito e repetido há muito, mas ainda ninguém disse como se faz mantendo a “obsessão do deficit” e vendo os juros da dívida a aumentar.

Seria melhor primeiro tentar perceber porque o investimento tem diminuído impossibilitando a mudança de perfil produtivo e igualmente a criação de mais fontes de riqueza. O motivo porque não há mais investimento está intimamente ligado aos dois factores fundamentais da nossa falta de produtividade, a economia informal e a falta de regulamentação das condições concorrenciais. As mudanças artificiais no tecido empresarial, efectuado com fundos da CEE, transformando cada operário especializado ou chico-esperto em empresário, principalmente no período cavaquista, com um IAPMEI louco financiando capacidade industrial instalada várias vezes superior às nossas necessidades, teve o seu epílogo no tempo guterrista, em que para manter os indicadores de emprego, apareceu o “plano Mateus” de regularização de dividas, que foi o balão de oxigénio para empresas inviáveis continuarem a destruir aquelas que tinham todas as condições para hoje ainda existirem. Era impossível uma empresa que pagasse as suas contribuições à segurança social e ao desemprego, que tivesse os empregados e instalações no seguro, etc. concorrer com outras que nada disso pagavam (nem o IVA) e continuavam a laborar com a cumplicidade do Estado.

A lei Mateus foi cumprida por apenas 6% dos aderentes, marca o fim de uma geração de empresários, que não se metem noutra, e marca também a data em que Portugal interrompeu um período de crescimento que ainda não conseguiu reencontrar.

(continua)

1 comentário:

  1. É isto mesmo, a incapacidade de renovar o tecido empresarial de criar um ambiente favorável às PMEs, produtoras de bens transaccionáveis, viradas para a exportação. A CGD deveria apoiar estas empresas em vez de andar nas AG das TMN,GALP e outras e fazer negócio "Finos" com a Cimpor...

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