Carlos Durão
Acedo com gosto ao amável convite do Estrolabio para fazer uma breve resenha de algo que nos honra a todos, nesta grande casa da Lusofonia. Trata-se da atualização do reconhecido programa FLiP, da empresa Priberam Informática, permitindo programas OpenOffice.
Para nós, galegos, é importantíssima esta oitava atualização, pois entre as variedades nacionais da língua que tradicionalmente lá figuravam: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Timor, hoje por primeira vez aparece a Galiza, até com a sua bandeira. Este é um facto (um feito, como dizemos acima da Raia) que nos orgulha a todos, e pelo que parabenizamos a Priberam Informática.
Talvez para alguns leitores seja isto novidoso, mas a consideração da língua galega como “variedade do português” (também “norma galega do português”), sempre afirmada pela filologia clássica e independente de nacionalismos, recebeu um revigorado impulso nos dous derradeiros anos, que são os que tem de vida a jovem Academia Galega da Língua Portuguesa: ela foi recebida de braços abertos pelas irmãs Academia de Ciências de Lisboa e Academia Brasileira de Letras. A sua Comissão de Lexicografia e Lexicologia forneceu um Léxico não exaustivo (1200 entradas aprox.) de palavras “tipicamente” galegas, de uso corrente, para se integrar no Vocabulário Ortográfico que pedia o Acordo Ortográfico, como também nos demais dicionários da Lusofonia.
E isso já está a acontecer: um exemplo é este FLiP8; também o dicionário Priberam online já começou a incorporar esse Léxico. Os leitores podem ali consultar duas típicas palavras galegas: “lôstrego” e “brêtema” (http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=lôstrego e http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=brêtema). Elas já figuravam, como exemplos de proparoxítonas com vogal tónica fechada, na Base XI, 2º a) do Acordo Ortográfico de 1990, de Lisboa, no que a Galiza participou, com uma delegação de observadores, nas sessões de trabalho (como antes no de 1986 no Rio).
A inclusão de léxico da Galiza no FLiP 8 é fruto, pois, do trabalho da CLL da AGLP, e do Protocolo de Cooperação assinado com a Priberam. Mas também do chamado reintegracionismo linguístico galego, ao longo de muitos anos e com os esforços de muitos “bons e generosos” (as palavras do nosso Hino) de ontem e de hoje, entre os que só mencionarei os saudosos Ernesto Guerra da Cal e Manuel Rodrigues Lapa. Bem hajam!
Está a amadurecer na Galiza a consciência de pertença ao tronco linguístico comum, da que procuram afastá-la obscuros poderes ao serviço do centralismo estatal espanhol. Para estes “o galego” está bem em estado de hibernação e como engraçado adorno folclórico; e para eles é intolerável que a Galiza assuma a sua língua como nacional e internacional, com todas as consequências: pois isso é o que está a acontecer hoje nas suas camadas mais novas. Já era hora!
(Carlos Durão, Londres, 27 agosto 2010)
(Algumas ligacões: http://aglp.net/index.php?option=com_content&task=view&id=117&Itemid=31
http://aglp.net/index.php?option=com_content&task=view&id=114 (Léx) e
http://aglp.net/images/stories/Documentos/lexico_aglp.pdf)
sábado, 28 de agosto de 2010
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Bem-vindo ao Estrolabio, Carlos Durão. Uma genuína voz da Galiza entre nós, «galegos-amadores» que amam Galiza, mas lhe são exteriores, é uma grande mais-valia. Este seu texto, traz-nos uma boa nova - o esforço da AGAL, do Portal Galego da Língua e de outras entidades, deu frutos. Um provérbio português diz:«água mole em pedra dura, tanto dá até que fura». Foi o caso. Não sei quando é que a CPLP integrará a Galiza como membro de pleno direito (creio que por ora tem estatuto de observador). A que se deve isto? Os governos não querem desagradar ao estado espanhol ou são os representantes galegos que escolheram este estatuto?
ResponderEliminarParabéns Carlos Durão. Oxalá se sinta bem entre nós.Esta casa é sua.
Um abraço amigo!Seja feliz por aqui, Carlos Durão.
ResponderEliminarParabéns para Carlos Durão, grande tipo e um galego.
ResponderEliminarAbraços de Madrid, dum galego losófono.
Moncho de Fidalgo.
infinhttp://lacomunidad.elpais.com/monchofidalgo/2010/8/28/a-tve-n-o-respeita-nome-oficial-do-portugu-s-do-brasil-actoito de Londres...
Anónimo de Madrid regresse sempre aqui a esta casa o estrolabio, mande-nos os seus textos sobre o que quiser, Um Galego em Madrid deve ter sentimentos singulares e muitas coisas interesssantes para dizer.
ResponderEliminarCarlos,
ResponderEliminarAnsiamos por mais textos e galeguismos.
Na minha primeira viagem à Galiza, pouco após o 25 de Abril de 1974, fiquei feliz quando num café me corrigiram o pedido do pequeno-almoço em portunhol dizendo que falasse português que era língua de entendimento para galegos e para mais lhes aprazia falar galego que era também um modo de recusar o franquismo.
Aperta.
Carlos Durão, grande êxito o seu texto, muita gente de Espanha que nos visitaram para ler o texto (Galiza,Madrid,Barcelona...) fui a vários sítios deixar a informação (La vanguardia, Portal, Além Guadiana..)
ResponderEliminarPedro, a primeira vez que fui à galiza disseram-me o mesmo num restaurante." fale portugûes"
Carlos Durão, o texto eu vou ler a seguir, mas não quero perder mais tempo sem lhe mandar um abraço. Eu adoro a Galiza e os galegos. Nunca me esquecerei da boa recepção e do espírito fraterno com que lá fui recebida. Até os motoristas de táxis gostam de nós :) Que pena esta separação!
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