quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Superbactéria (Nota de cêntimo 4)

Carlos Mesquita


Tenho por principio falar daquilo que julgo ter suficiente informação, desta vez são essencialmente dúvidas.

O meteorologista Costa Alves expressou em vários órgãos de comunicação social a sua preocupação com a vertente menos publicitada dos efeitos das ondas de calor. A calamidade dos incêndios é sobejamente visível para todos, enquanto os impactos do calor na saúde, exceptuando uns conselhos genéricos, não tem dado azo a medidas concretas que diminuam a mortalidade que lhe está associada. Muito resumidamente é isto que o cientista diz suportando as suas preocupações em estudos, estatísticas, e na realidade divulgada pelas autoridades da saúde. O Instituto Ricardo Jorge publicou um apuramento de mortalidade “por perturbações orgânicas letais associadas ao excesso de calor” entre o fim de Abril e 12 de Julho, 1081 mortes. Uma familiar que trabalha num hospital do Centro, no serviço de medicina geral tem-me dado notícia de mortes em número anormal e a semana passada deu-me uma informação suplementar, o filho duma idosa internada levou um termómetro e mediu a temperatura no interior da enfermaria, estavam 40 graus. Aqui está o ponto que merece interrogação. Como é possível alguém com saúde debilitada recuperar numa enfermaria que está a 40 graus? Ouve-se dizer que o ar condicionado pode trazer ameaças à saúde, foi essa aliás, a justificação que me deram num lar inaugurado há dois meses para não o terem instalado. Gostava de ouvir a opinião dos médicos, (temos alguns a colaborar aqui, particularmente o Dr. Leça da Veiga, com vasto trabalho na área da infecção hospitalar) pois as notícias que correm são contraditórias. Há estas que sendo rumores ou não, servem para fugir à despesa de climatizar os ambientes onde estão idosos e doentes, que são os mais afectados pelo calor, e a recomendação, que também existe, de as Administrações Regionais de Saúde e os estabelecimentos hospitalares instalarem ar condicionado. Como está tudo sempre a mudar não sei o que vigora actualmente, mas uma certeza persiste, com 40 graus num serviço hospitalar, os doentes não deixam o hospital com mais saúde.

Perguntarão o porquê do título. Se até 12 de Julho morreram 1081 pessoas devido ao calor, este ano ficaremos próximos dos números de 2003 que se estima foi da ordem das 2000 mortes, e pouco se fala do assunto; enquanto a “superbactéria”, enche os jornais por ter morto uma pessoa, e na Bélgica.

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