sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Um livro que eu li - "A Peste", de Albert Camus

João Machado

Acabei de ler A Peste, hoje, dia 9 de Agosto de 2010.
Permito-me dizer que se trata de um livro impressionante, sem qualquer exagero. Aborda um tema gravíssimo, que trata com bastante profundidade a luta de um grupo de homens contra uma doença lendária, a peste bubónica, que devastou grandes zonas do mundo, durante muitos séculos, e que ressurge nos tempos modernos, e os seus dramas individuais neste cenário tão difícil. Penso que Camus quis servir-se desse cenário e das suas implicações, como por exemplo o de ser necessário pôr de quarentena uma cidade atacada por uma epidemia, ou enfrentar a presença constante da morte, para extrapolar sentimentos, maneiras de pensar e actuar individuais e colectivas para outro tipo de situações. Dou como exemplo o capítulo, já perto do fim da IV parte, em que Tarrou narra a Rieux a sua luta contra a pena de morte, e lhe conta ter-se sentido ao longo dessa luta tal e qual como um pestífero, devido às opiniões que defendia, e à prática que desenvolvia em sequência.


Albert Camus nasceu em 1913, na Argélia, e morreu em França, em 1960, num acidente de automóvel. De origem humilde, conseguiu estudar devido à sua grande capacidade e ao apoio de vários professores. A Peste foi publicada em 1947. O enredo descreve o impacto da peste bubónica na população de uma cidade argelina. Ao escrever o livro com certeza que Camus recorreu à sua experiência pessoal, de sofrer de tuberculose, doença que o perseguiu toda a vida, e que ainda hoje acarreta um forte estigma social. E, apesar de na altura ainda se encontrar apenas com trinta e poucos anos, conseguiu elaborar um romance de grande densidade psicológica, sobre um tema tão difícil. Dizem analistas que Camus procurou ao longo da sua curta existência, na sua obra tão variada, que incluiu o romance, o teatro e o ensaio, transmitir-nos a tensão que decorre do conflito entre a noção do absurdo da existência humana, num universo sem sentido, e a necessidade da rebeldia contra esse absurdo. Tinha sem dúvida valores humanos elevados. Em 1957 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel, nomeadamente pelos seus escritos contra a pena de morte, sobretudo o ensaio Reflexões sobre a Guilhotina. Camus tomou regularmente posições significativas no campo político, como durante a resistência à ocupação nazi, na adesão e no abandono do partido comunista, nas polémicas com Sartre. Sobre a guerra na Argélia, quando foi censurado por não tomar posições claras, recordou a sua mãe naquela colónia francesa, e o custo que daí podia advir. Julgo que não contestava as responsabilidades sociais, mas que procurava salvaguardar a importância dos dramas individuais nos conflitos que nos envolvem. A análise que faz das tentativas de evadir a quarentena imposta à cidade assolada pela peste dá-nos claramente essa ideia.

8 comentários:

  1. Meu caro. Alberto Camus foi um escritor que há muitos anos esteve na berra, quando se liam grandes livros e grandes autores e que tu, avisadamente, recuperas.

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  2. Foi im dos meus livros de cabeceira. A metáfora da peste, alastrando maleficamente resulta numa obra única, de uma grande bleza e profunidade. A literatura é o campo do conhecimento onde não existe evolução. Quem se atreve a afirmar que Homero, Dante, Shakespeare ou Camus estão desactualizados?

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  3. Mas na última viagem que fiz nenhuma das pessoas portuguesas com quem viajei tinham lido Albert Camus, Heminguay, Somerset Maugham,Eça de Queiroz,Vergílio Ferreira.. ...tudo às voltas com o JRS.E diziam que eu é que não podia dizer que não gostava do pivot, pois se não o tinha lido?

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  4. Luís isso também depende da forma como os orgãos sociais nos despertam para o bom... agora na RTP2 está a dar um programa sobre Jorge de Sena... mas provavelmente as gentes estão coladas às telenovelas

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  5. Pois, sem dúvida.Na RTP2 às duas da manhã costuma dar os melhores programas.

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  6. Numa coisa terão razão, por mais que não gostes da pessoa do pivot ou dele como jornalista, se não o leste não podes dizer que não gostas da escrita.
    Ideias feitas há muitas.
    O que li acho fracucho, mas acho porque li.
    Há coisas sobre as quais se pode ter opinião sem as provar; a escrita não, exige leitura.

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  7. e agora pelas 3da manhã uma prova com sabor a Angola ... Paulo Flores na Casa da Música

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  8. Pedro, isso é verdade, mas como não é possível ler todos como é que se dá prioridade ao pivot? Ouvindo opiniões, lendo primeiro os que influenciam gerações...

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