Preâmbulo
Em 1999, sob a assinatura de António Augusto Sales, publiquei através de Livros do Brasil o livro “António Botto, real e imaginário”, editado no centenário do nascimento do poeta. Se por um lado tinha por objectivo fornecer aos leitores uma visão global da sua obra (poesia, teatro, prosa, literatura infantil) por outro havia a biografia de um homem que foi contestado, mal amado e esquecido até hoje, sem omitir as contradições da sua personalidade e os exageros do seu carácter.
António Botto, no "Martinho da Arcada", com Raul Leal, Fernando Pessoa e Augusto Ferreira Gomes.
Sendo reais os factos e a obra não deixaram de ser imaginárias algumas situações que permitem ao autor dialogar com o poeta. Quero dizer, de certo modo o narrador participou na vida do biografado sem procurar com isso interferir na sua existência como personagem central da história.
A explicação deste expediente literário torna-se necessária para que se compreenda o clima criado entre o real e o imaginário que irá ter particular incisão nesta parte da vida do poeta no Brasil. Ao tempo da edição do livro um problema de direitos sobre o espólio de Botto, no Brasil, condicionou a pesquisa aos relatos que existam na imprensa portuguesa e outra ocasional documentação que tornou desequilibrado o último capítulo (Epílogo) do livro. Resolvido que foi esse problema e ficando tal espólio à guarda e classificação da Biblioteca Nacional de Lisboa, para consulta, se bem com condicionantes, permiti-me reconstituir todo o período e desenvolver um novo trabalho com vista a uma segunda edição que, até hoje, não consegui concretizar apesar da primeira se encontrar praticamente esgotada. Com o meu amigo Carlos Loures estudámos a hipótese de adaptar este período brasileiro para publicação no “Estrolabio”, que me obrigou a introduzir no texto alguns pedaços do meu citado livro “partindo” em capítulos menores para não tornar fastidiosa a leitura.
São estas as explicações sobre este trabalho em que desejo transmitir aos leitores a última fase da vida de um homem, grande poeta, que viveu o derradeiro acto do seu drama longe da pátria e mesmo depois de morto ainda foi para essa pátria um embaraço.
(Algueirão 10.08.2010)
Para completar este primeiro dia, vamos ouvir Mariza interpretando na Union Chapel, em Lndres, o tema 'Os anéis do meu cabelo', um dos poemas do livro Canções, de António Botto.
É um belo trabalho dar a conhecer um poeta e a obra de quem tão mal foi tratado na sua própria pátria.Abraço
ResponderEliminarAgradeço o incentivo e apóa a publicação do livro verifiquei, em alguns encontros que fiz, grande interesse das pessoas em conhecer o António Botto também nas vertentes da literatura infantil e do teatro.
ResponderEliminarEssas ainda são menos conhecidas.
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