sexta-feira, 24 de setembro de 2010

assim devagar

Ethel Feldman

assim devagar vou-me calando, saudades da chuva vestindo o mar, febril me tomei por todos os seres, doente inventei o presente. Setembro molhado, cheiro da terra com gosto. na rua me dispo, lavo com a chuva meu corpo suado. ah, este Setembro que com ele me fico, sonhos passados nunca vividos. era assim a memória de tudo que lembro, minha vida por Setembro dos Desgarrados. Se te conto só agora, é porque a hora se fez hora e contigo e ele partilho tudo que lá foi acontecido. não percas tempo em procurar a verdade, não pares na mentira, pouco importa se o que conto existiu, fecha os olhos e sente: (...)"Bem abençoado quem nasceu, sofreu no parto a primeira dor da existência, no sangue materno a promessa de cor, no primeiro choro a certeza do riso. Cada desgarrado trouxe no rosto a marca do sofrimento, em Setembro fez dela o desenho da felicidade. Em cada homem o universo se exibe inteiro. Em Setembro se ama como o mar quando se espreguiça na areia. (...)". Se nada te pára, nem te comove, sente a chuva que te corre por dentro. Senta devagar, vê a semente por onde ela cresce. Se da tua mão nasce agora uma flor foi porque te deixaste adubar, neste Setembro que agora me abraça.

1 comentário:

  1. O sentimento poético não precisa da habitual matriz do poema. Ele está onde está.

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