quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Novas Viagens na Minha Terra


Manuela Degerine

Capítulo XCVI

Vigésima terceira etapa: em Pontevedra (continuação)

Encontramos os dois venezianos, que hoje só caminharam de Redondela a Pontevedra, restando-lhes força e tempo para visitar a cidade. Propomos que participem no nosso piquenique, porém eles descobriram um restaurante com preço e aparência atractivos, no centro, sugerem que guardemos as compras e lhes façamos companhia; eu sinto-me incapaz de dar mais um passo fora do albergue. Contamos uns aos outros, com todos os pormenores, as aventuras dos últimos dias.

Inquiro como fazem para secar a roupa. A veneziana confia que o melhor método é, quando acabamos de a lavar, retirar o máximo de humidade com papel absorvente; assim, no dia seguinte, embora húmida, não a vestimos encharcada. Convém lavar apenas a do dia, que usaremos no seguinte, trazendo sempre a mesma, evitando fechar roupa suja dentro de plásticos. O que eu fiz... Sugere que a deite no lixo pois, até chegar a casa, com esta humidade, as bactérias terão proliferado: será impossível desodorizá-la. Resigno-me a seguir o conselho. Para além do cheiro, pouco agradável, não a podendo lavar, por não a poder secar, a camisola pesa na mochila sem utilidade. E, daqui por três dias, quando chegar a Santiago, comprarei outra.

Deparo com uma peregrina estendida numa marquesa enquanto alguém, que me parece uma enfermeira, lhe massaja os pés. Inquiro o que se passa. Sentiu-se mal? Explicam-me que aquela profissional faz, todos os serões, durante quatro horas, massagens gratuitas aos peregrinos.

Entretanto foi chegando mais gente ao albergue, alguns que se encontravam deitados levantaram-se, outros que haviam saído, regressaram, por conseguinte a animação, conversas e movimentos, continuam a aumentar. Encontro o pai e a filha franco-alemães, exaustos mas contentes: chegaram. Inquirem qual a melhor estratégia para tratar as bolhas.

As conversas, como as roupas e equipamentos, são uniformes e resumem-se, não raras vezes, aos pés e ao caminho. Os esforçados, dolorosos, diligentes, resistentes, admiráveis pés que percorrem este caminho...

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