Era de Parral e foi, como digo em nota de rodapé, criado pelo seu avô paterno. O nome Neftalí da sua partida de nascimento de 12 de Julho de 1904, era o da sua mãe. O padre José del Carmen, no perdoava a causa da morte da sua mulher por causa do nascimento de Pablo. Foi-se embora e foi criado pelo seu avô paterno nas suas terras de Parral. Como Neftalí Reyes, era neto e filho terra tenente, esse de prosápia mas sem dinheiro…. As suas ideias socialistas nasceram de ver como eram mal tratados os trabalhadores, obrigados a trabalhar desde a manhã cedo, até a tarde noite.
Lia, gostava ler, especialmente poesia. A casa do avô paterno, José Angel Gomes Hermosilla uma mansão rural, tinha uma Biblioteca, onde livro nenhum era perdoado de não estar ai. O pelo menos, era o que ele dizia. Quem toma conta dele é a sua avó das segundas núpcias do seu Avô Dona Encarnación Parada, quem procura entre os inquilinos a melhor mulher para amamentar ao seu neto adoptivo – a sua mãe era fruto do primeiro matrimónio do Avô com Tomasa Opazo, a avó consanguínea de Pablo Neruda, morta como a sua filha, ao dar a luz a Rosa Basoalto, a mãe de Neruda
Chegada a hora dos estudos, apesar do Avô querer e poder preparar a sua instrução. A criança não quis e teimo em assistir a escola pública de Parral. Grande sorte. Ensinava ai Lucila Godoy Alcayaga, que mudou o seu nome para Gabriela Mistral após ganhar os Jogos Florais de Santiago, em 1914, com seus poemas Sonetos de la Muerte. Foi o encontro feliz da vida de Neruda: ela lia poemas, ele começava a escrever. Dizem que um dia o pequeno Pablo foi a casa da sua maestra (3) Ela lia, ele ouvia ensinou-lhe, como se for um menino atrasado nos estudos, como escrever. Anos volvidos, tornaram-se a encontrar na Itália, ela como consulesa. Aliás, a maestra era amiga de Rosa Nefatlí, quem ensinara à mãe como fazer do pequeno, um poeta. Entre a mãe e a sua colega amiga, começaram por Virgílio e outros textos, até o enredo de relações acabar: morre a mãe, Gabriela é transferida a altos cargo e o pai, todo arrependido pela sua atitude prévia, casado outra vez, leva ao pequeno desde Parral para Temuco.
El padre se casa en segundas nupcias con doña Trinidad Candia Marverde. Era diligente y dulce, tenía sentido del humor campesino, una bondad activa e infatigable. No puede nombrarla madrastra. Ella es su "Mamadre": "Mi boca tiembla para definirte/ porque apenas/ abrí el entendimiento/ vi la bondad vestida de pobre trapo oscuro". También ahora pertenecen a este nuevo hogar sus hermanos Laurita y Rodolfo. Atrás quedó Parral como recuerdo vago, blanco y polvoriento. Es Temuco, su geografía: lluvias, bosques, madera, pájaros, insectos cogidos por los ojos hacia el arca de su curiosidad desmedida. Y son de Temuco las tiendas identificadas con objetos inmensos: zapatos, serruchos, caballos, llaves, olletas para los que no saben leer. Ciudad de incendios, las casas de madera no están preparadas para el verano. Allí entra al Liceo, sus compañeros de apellidos extranjeros "iguales entre los Aracenas y los Ramírez y los Reyes, brillaban con luz oscura los apellidos araucanos olorosos a madera y agua: Melivilus, Catrileos."
Reencontra à maestra, essa amiga da sua mãe, já no cargo de Directora do Liceo de Niñas de Temuco, leva-lhe, confiante, o seu primeiro poema. A directora, com esse carácter mal-humorado que todos sabiam, perguntou-lhe: de onde o copiaste?.... Após este (des)encontro, Neruda apenas a encontra na Itália, onde ela era consulesa e Neruda, fugido da perseguição chilena aos comunistas, não tem outra alternativa que acudir a ela. Mistral, envergonhada do passado, faz os possíveis, para o proteger. O resultado foi um sucesso (4) .
A minha lembrança mais clara de Neruda, era a sua forma de rir e de levar a vida alegremente, especialmente na Sebastiana. Onde nem os seus piores poemas eram maus para ele. Aliás, com a excepção de, Veinte poemas de amor y una canción desesperada. Santiago, Nascimento, 1924, Canto general. México, Talleres Gráficos de la Nación, 1950 e outros.
O que dele não se conhecia, mas foi tornado público, eram os poemas escritos enquanto era estudante do Liceo de Homens de Temuco (5). Em quanto caia a chuva, ele escrevia o que hoje conhecemos por Cuadernos de Temuco, manuscrito perdido ao longo do tempo e de um tipo de poesia que não seriam o seu orgulho mais tarde.
Um poema diz:
Cansancio I
Dejar fecundamente clavado el corazón.
Para qué rebeldías? Para qué sufrimientos?
Elevemos más grande nuestra eterna canción
en el molde callado de los propios momentos.
Los pájaros ignaros sigue el rumbo eterno
y nosotros humildes, seguiremos también,
nos blanqueará el cabellos la nieve del invierno,
la racha más helada nos herirá la sien.
Para qué sufrimientos. Para qué rebeldías?
Tendrá que helar huesos la racha del dolor,
fatalmente tendremos que sentir que no ardía
eterna, eternamente nuestro primer ardor.
Essa alegria de viver acabou a 23 de Setembro, aos 69 anos, onze dias depois de morte do seu melhor amigo, Salvador Allende, Presidente Constitucional do Chile. Acabou a 10 o seu livro, Confieso que he vivido. (Memorias), Barcelona, Seix Barral, 1974. (autobiografia) sua segunda obra em prosa, após a peça de Teatro, em verso e prosa: Fulgor y muerte de Joaquín Murieta. Bandido chileno injusticiado en California el 23 de julio de 1853. Santiago, Zig-Zag, 1967. (Obra teatral)
Allende defendeu ao Chile com a sua vida: Pablo Neruda, com as suas letras.
Haveria mais para dizer, mas o espaço…
_____________________
1 - Pablo Neruda nasceu em Parral, em 12 de Julho de 1904, como Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto. Era filho de José del Carmen Reyes Morales, um operário ferroviário, e de Rosa Basoalto Opazo, professora primária, morta quando Neruda tinha apenas um mês de vida. Ainda adolescente adoptou o pseudônimo de Pablo Neruda (inspirado no escritor checo Jan Neruda), que utilizaria durante toda a vida, tornando-se seu nome legal, após acção de modificação do nome civil. Retirado da Biografia Pablo Neruda, escrita pelo meu amigo que falecera em 2005, com 101 anos, livro escrito em 1984 na União Soviética e publicado no Chile pela Editorial Sudamericana Chilena em 1996
2 - totora .(Del quechua tutura). - 1. f. Am. Mer. Planta perenne, común en esteros y pantanos, cuyo tallo erguido mide entre uno y tres metros, según las especies. Tiene uso en la construcción de techos y paredes para cobertizos y ranchos.
3 - No Chile as professoras primárias recebem esse nome, enquanto entre nós todas e todos são professores, excepto os docentes do jardim da infância: Educadores da Infância. O encontro foi feliz.
4 - Contado a mim por um nosso parente do Corpo Diplomático e por Volódia Teitelbom que, por recato, não o escreve no seu livro Neruda
5 - , Neruda Pablo, poemas entre os anos1919-1920, 1997: Cuadernos de Temico, Seix Barral, 1997
Através destas memórias do Professor Iturra, acedemos á intimidade de Pablo Neruda. É um raro privilégio este o de podermos ler o testemunho de quem conheceu Neruda pessoalmente. Belo e esclarecedor texto. Obrigado, Professor.
ResponderEliminarServiço Público! belo texto, dando a conhecer um poeta "que está para além da morte".por alguem que o conheceu pessoalmente.
ResponderEliminarAgradeço os vossos comentários. Têm a virtude de serem inteligentes. Foi um dos poucos chilenos de valor que conseguiu entrar à eternidade, no país em que nasceu, como Salvador Allende, apenas que de outra maneira. Ou talvez não: doente e todo como estava na sua casa de Isla Negra, no dia seguinte a morte do Presidente, foi invadida pelos esbirros do ditador, o fizeram sair do seu leito de doente, registaram tudo, não quiseram ouvir a Matilde sobre a doença e foi levado num camião qualquer do exército até Santiago. Pablo Neruda era um coleccionador entre outros assuntos, de proas de barcos antigos, que foram encontrados na casa do ditador. Havia uma rede, Pablo não sabia, para a sua protecção. Mal se soube, o Embaixador da Suécia foi de imediato a Clínica Santa Maria e mal o doente desceu às 5 da manhã, o agarrou com a bandeira sueca e foi declarado baixo a sua protecção. Os soldados queriam matar ao Embaixador e acompanhantes, mas o oficial o não permitiu. Foi uma luta entre os chilenos e os suecos, perante o horror de Matilde. Harald Edelstam teve que ficar, junto com o da França, a dar protecção pessoal a Neruda, enquanto a sua casa de Santiago, La Chascona, era pilhada e roubada, desfeita. No dia do seu funeral, propositadamente o corpo foi levado dentro de uma casa partida, cheia de água e vidros de paredes e tecto. Os admiradores e apoiantes entraram ai, a polícia teve que se retirar. Vi todo pela televisão e confesso que chorava…O funeral foi com milhares de pessoas a acompanhar, protegidos pelos embaixadores que simpatizavam com Neruda e a UP
ResponderEliminarIsabel Allende, a notável scritora chilena, no seu livro "Paula", descreve com grande cópia de pormenores a morte de Neruda, contando por outras palavras o que o Professor Iturra nos descreve no seu valioso comentário. E conta como enterraram o poeta, com o funeral a percorrer ruas fortemente patrulhadas por soldados. Os seus amigos estavam presos ou escondidos e, portanto, pouca gente acompanhou o corpo de Pablo até ao cemitério. Mas os poucos amigos e familiares presentes, perante os olhares raivosos dos militares, empunhando cravos vermelhos, passaram diante da sepultura, gritando «Pablo Neruda!Presente, ahora y siempre!».
ResponderEliminarA poesia tem como arma o futuro. Qual de vós disse isto? esta aqui a prova. Ainda e sempre Pablo Neruda!
ResponderEliminar"La poesía es un arma cargada de futuro", não foi nenhum de nós foi o grande poeta espanhol Gabriel Celaya que o disse.
ResponderEliminarO seu a seu dono!
ResponderEliminar