domingo, 5 de setembro de 2010
Novas Viagens na Minha Terra
Manuela Degerine
Capítulo C
Vigésima quarta etapa: de Pontevedra a Brialhos
Pontevedra merece uma visita demorada porém agora é cedo, está tudo fechado, chove a cântaros e vamos carregados... Avançamos. Temos por cima das cabeças um céu cinzento e uniforme.
Cruzamos habitantes que vão para o emprego ou para a escola, muitos conversam, numa atitude descuidada, por debaixo dos guarda-chuvas e, quando pergunto o caminho, respondem-me com gentileza. A vida de uma cidade avalia-se no stress que os habitantes manifestam; aqui o grau de qualidade parece elevado.
Várias senhoras, a quem me dirijo em português, respondem com duas palavras de galego, uma saudação, um bom caminho... Não sabem dizer mais. Ou, por verem que sou portuguesa, sentem-se intimidadas? Receiam que o seu galego se distinga do meu português? (Claro que sim – e depois?)
Sou aqui, como em toda a parte, uma leitora do texto urbano, leio as inscrições nas paredes, os painéis publicitários, os cartazes disto ou daquilo, os nomes das lojas... Em Pontevedra encontro ruas e lojas com nomes galegos porém, para além delas, o texto é castelhano: a publicidade, os sinais de trânsito e a maioria dos cartazes informativos. (Ao menos os contentores do lixo, embora pouco prolixos, exprimem-se em galego: “O natural, reciclar”; “Só matéria inerte”; “Só matéria organica”.)
Continua a chover, caminho pelo passeio, no meio dos transeuntes, levo o roteiro numa mão, na outra seguro a vara... Um momento como tantos outros. De súbito vejo à minha frente aquele dragão que mergulha, desaparece e volta a ressurgir em Portugal: a união ibérica. Se, por um lado, o povo sempre se empenhou, ao longo dos séculos, na independência, as elites têm, consoante as épocas, sucumbido, mais de uma vez, aos atractivos castelhanos.
Vou imaginando, enquanto caminho, a minha união ibérica...
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