quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Novas Viagens na Minha Terra -



Manuela Degerine


Capítulo CIII

Vigésima quarta etapa: de Pontevedra a Brialhos (continuação)

Alguns anunciam o albergue fechado em Caldas de Reis, outros recomendam um albergue privado, haverá ou não albergue, para evitarmos más surpresas, optamos por parar cinco quilómetros antes: em Brialhos. Será, pelo que percebemos, uma pausa no campo. (Desencontramo-nos dos venezianos e dos portugueses; encontrá-los-emos em Padrón.)

Descemos uma rua com colunas maciças, casas com brasões e belas varandas. Passamos por um calvário, depois pela ponte do Burgo. Atravessamos em seguida uma demorada periferia.

Junto à igreja e ao cemitério de Santa Maria, admiramos um calvário de granito que representa de um lado a Virgem, do outro Cristo na cruz e, mais abaixo, na coluna, Santiago com a capa, o chapéu, o bordão, o bornal e as vieiras. A Virgem fita um muro de verdura, Jesus Cristo e o santo miram uma antiga publicidade dos prefabricados Tubar S. L. A eternidade nestas figuras. (Por arrastamento também nos sentimos fora do tempo.)

As aldeias têm hortas, vinhas, espigueiros, muros de pedra... Uma vez mais, a verdura envolve-nos, refresca-nos o olhar, salpica-nos de vida. E a pedra, a sumptuosa pedra galega, continua a enlevar-nos.

Prosseguimos através de um bosque mas o caminho é interrompido, a certa altura, por um vasto buraco amarelo na paisagem verde: mais obras com grandes máquinas e camiões cor-de-laranja. Construem o quê?...

O bosque é atravessado por riachos de água transparente que correm pelo caminho e nos levam, uma ou outra vez, a saltitar de pedra em pedra. Lembram-me a célebre descrição da serra pelo Eça de Queirós: espertos regatinhos fugiam, rindo com os seixos. Seixos e pedregulhos vemos nós muitos através da água transparente... Que longe fica Castanheira do Ribatejo! Por um regato maior atravessar o carreiro, construíram uma ponte com seis lajes poisadas em blocos de granito, cobertas de musgo, mordidas pela hera, enfeitadas pelos fetos e gastas pelos caminhantes. Há loureiros, carvalhos, aveleiras, castanheiros, um ou outro eucalipto... Vemos raízes, ramos e trepadeiras entrelaçados, a vegetação filtra uma luz suave, tudo é verde, em tons diversos, com formas distintas, muitos musgos, muitos fetos, muita hera, muitos líquenes, muitas plantas para mim desconhecidas... Ouve-se o correr da água, o cantar dos pássaros. Pedaços de mica brilham no chão com reflexos de esmeralda...

Nestes quilómetros esquecemo-nos da chuva, das mochilas e de tudo o resto: queremos que o caminho se prolongue.

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